Correio braziliense, n. 19335, 03/05/2016. Política, p. 3

A equação do Bolsa Família

Cotado para a Fazenda, Meirelles diz que reajuste do benefício ainda precisa ser medido e defende correção de rumos para atrair investidores

Por: Naira Trindade

 

Cotado para ser o ministro da Fazenda do provável governo de Michel Temer, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles defendeu ontem que o reajuste médio de 9% do Bolsa Família, concedidos no domingo pela presidente Dilma Rousseff, precisa ser “equacionado”. “Isso vai ter que ser devidamente medido e equacionado. O país tem condições de honrar seus compromissos. A questão toda é o custo e o que será necessário ser feito de um lado para a trajetória de crescimento da dívida pública tenha sinais claros de reversão.” O economista teve encontro com Temer e aliados próximos do peemedebista, ontem.

Além de Meirelles, participam do encontro os ministeriáveis Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Romero Jucá (Planejamento), Eliseu Padilha (Casa Civil), Marcos Pereira (Ciência e Tecnologia), Moreira Franco (Infraestrutura) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), além do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Antes de entrar na reunião, Jucá acusou o governo de tentar desequilibrar as contas públicas. “O governo perdeu o parâmetro de qualquer conta e está executando despesas numa tentativa de desequilíbrio do orçamento público”, afirmou Jucá.  Para Meirelles, a estratégia para sair da crise passa por tentar reverter a desconfiança de agentes econômicos. “Para que empresas voltem a contratar e que, em consequência, os consumidores voltem a comprar, bancos voltem a emprestar e, portanto, possamos sair desse ciclo negativo e entrar em um clico virtuoso de crescimento”, afirmou o futuro ministro.

“Ainda dá tempo e esta é a hora de se tomar medidas que começam pela trajetória, para que ela possa ser alterada fazendo, portanto, com a taxa de risco do país comece a cair e, como consequência, as taxas de juros possam sofrer redução e tudo caminhe em outro rumo”, acrescentou Meirelles após quase cinco horas de reunião no Jaburu.

 

Dívida pública

Meirelles considerou como “aspecto chave” a trajetória do crescimento da dívida pública. “Temos que sinalizar claramente o país. Em última análise de que não nos vermos em situações similares a alguns outros países que tiveram na frente a tomar medidas abruptas. O Brasil tem que começar, a tempo e a hora a tomada de medidas que façam com que essa trajetória possa ser alterada e que, portanto, a taxa de risco comece a cair e, em consequência, as taxas de juros possam sofrer um processo de reversão e tudo caminhe em outra direção”.

O homem da economia de Temer defendeu que a questão fiscal será fundamental nesse processo. “Não há dúvida, a questão das concessões visando a viabilizar os investimentos diretos em infraestrutura, que em um primeiro momento cria demanda e, em um segundo momento, vai gerar diminuição do custo país.”

Senadores relacionados:

Órgãos relacionados:

_______________________________________________________________________________________________________

PSDB propõe parlamentarismo

 

Previsto para ser entregue ao vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB) hoje, o documento elaborado pela cúpula do PSDB como condicionante para a concessão do apoio ao novo governo estabelece como um dos temas centrais o início das discussões para a implantação do sistema parlamentarista a partir de 2018. O ano coincide com a próxima eleição para a Presidência da República. Chamado internamente como “carta de princípios”, o documento foi fechado em reunião da cúpula do PSDB realizada em Brasília, ontem, e tem 15 itens.

O item que aborda o novo regime consta do trecho que trata sobre a necessidade de se realizar uma reforma política. “Defendemos a criação de cláusula de desempenho eleitoral, o voto distrital e a formação das bases de discussão para a implementação do parlamentarismo a partir de 2018”, disse o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG). O tucano deve entregar a carta pessoalmente a Temer, após reunião com integrantes da Executiva do partido. No documento, a cúpula do PSDB também defende a “expressa” redução do número de ministérios e cargos comissionados. O tema foi inserido como um dos itens prioritários num momento em que ainda não há, dentro da legenda, consenso sobre como participar do novo governo Temer.

A ideia de parte de integrantes da cúpula do PSDB é aguardar o início da nova gestão e “ver que cara terá” para só depois integrá-la. Dentro desse entendimento, a possibilidade de o senador José Serra (PSDB-SP) vir a ocupar um ministério na nova gestão deverá ser considerada como uma indicação “pessoal” de Temer e não do partido. Além de Serra, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), também é cotado para assumir um posto no novo governo.

 

Privatizações

Na parte que trata do cenário econômico, o documento do PSDB defende que um dos caminhos para sair da atual crise é a ampliação das concessões e privatizações. Essa orientação teve a colaboração do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, nome que chegou a ser sondado para participar da equipe econômica do vice-presidente da República. “É imperativo que o novo governo proponha, em regime de urgência, uma agenda de reformas estruturais que (…) recupere as agências regulatórias por meio de gestão profissional, buscando de forma equilibrada o interesse da sociedade e o aumento significativo do investimento em infraestrutura, baseado num programa consistente de privatizações e concessões”, diz a carta.

Senadores relacionados: