Correio braziliense, n. 19345, 13/05/2016. Política, p. 3

Um ministério mais enxuto, mas repetido

Por: Paulo de Tarso Lyra e Naira Trindade

 

Uma Esplanada mais enxuta, com 10 ministérios ceifados em relação ao governo de Dilma Rousseff, foi empossada ontem pelo presidente interino, Michel Temer, em uma cerimônia no menor dos salões do Palácio do Planalto, abafada e tumultuada pela falta de espaço para a enorme quantidade de presentes. “Eu pretendia que esta cerimônia fosse extremamente sóbria e discreta, como convém ao momento que vivemos. Entretanto, eu vejo o entusiasmo dos colegas parlamentares, dos senhores governadores, e tenho absoluta convicção de que este entusiasmo deriva, precisamente, da longa convivência que nós todos tivemos ao longo do tempo”, justificou o peemedebista.

Como terá apenas 31 meses para concluir o atual mandato, caso o Senado afaste Dilma definitivamente, Temer marcou para hoje uma reunião ministerial que poderá culminar com o anúncio das primeiras medidas a serem encaminhadas ao Congresso. O ministério de Temer é formado, em boa parte, por parlamentares que foram líderes de suas bancadas no Congresso. Mas também traz vários titulares que já ocuparam cargos de mesma estrutura nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e da própria Dilma Rousseff.

Poucas horas antes da posse, Temer conseguiu fechar as duas pastas que faltavam: as indicações de Fernando Bezerra Filho para Minas e Energia e de Helder Barbalho para a Integração Nacional. Ele fez questão de afagar a equipe que empossava. “Farei muitos outros pronunciamentos. E meus ministros também. O presidente não tem vice-presidente, não tem ministro; quem tem ministro é o governo. Então, os ministros do governo farão manifestações nesse sentido, sempre no exercício infatigável de encontrar soluções negociadas para os nossos problemas.”

Ainda tomando pé da realidade que vão enfrentar, os novos ministros tentaram demonstar disposição e otimismo daqui para a frente. “O discurso do presidente Temer foi muito bom. Direto, com foco. É disso que o país está precisando no momento”, declarou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

A menos de três meses das Olimpíadas do Rio, Temer assegurou a indicação de um deputado do PMDB fluminense — o ex-líder da bancada na Câmara Leonardo Picciani (RJ) — para o Ministério do Esporte. Nomeado para a Defesa, Raul Jungmann declarou que hoje já terá uma reunião sobre o assunto. “É minha principal preocupação dentro das próximas semanas. Quero saber da situação, como se encontra, das medidas, e relatar para o presidente, que nos pediu um relatório. A preocupação com as Olimpíadas é que elas transcorram bem, em segurança”, declarou ele.

Nomeado para uma pasta vitaminada com a adição de duas áreas — o Desenvolvimento Social e Desenvolvimento Agrário —, Osmar Terra reafirmou que os investimentos em programas sociais serão mantidos. Após a decisão da presidente afastada Dilma Rousseff de reajustar o Bolsa Família, anúncio feito durante a solenidade de 1º de maio, a equipe de Temer chegou a considerar a proposta demagógica e pensou em revogar a medida tão logo o peemedebista assumisse. Mudou de ideia.

 

Bolsa Família

“Esse reajuste é importante. Até porque a presidente não corrigia os benefícios deteriorados pela inflação desde 2014”, afirmou Terra. Quem também prometeu manter o nível de investimentos da pasta que assume foi o ministro das Cidades, Bruno Araújo. Ele pretende explorar as parcerias público-privadas especialmente nas obras de saneamento. “Queremos também retirar as amarras ideológicas que travam os financiamentos para o Minha Casa Minha Vida”, completou o ministro.

As PPPs também serão uma saída para o setor de transportes. “Nós vamos nos cercar dos melhores quadros para fazer uma gestão moderna e dar uma resposta rápida ao país. Nós vamos trabalhar e buscar esses investimentos para poder dar uma resposta ao povo brasileiro”, disse o ministro do Transporte, Maurício Quintella Lessa.

Outra crise que parecia esquecida pelas autoridades brasileiras durante o debate do impeachment e que, ao que tudo indica, será reexaminada com a posse de Temer como interino é o surto de microcefalia. “É um problema grave, que passou a ser prioridade. Esperamos que possamos rapidamente eliminar o mosquito”, afirmou o ministro Ricardo Barros.

Já o ministro da Educação, Mendonça Filho, garantiu que vai estabelecer um diálogo franco com os representantes do setor, incluindo sindicatos e as associações estudantis. “Educação não tem partido, ela deve ser uma prioridade nacional”, afirmou.

 

Frase

“O presidente não tem vice-presidente, não tem ministro; quem tem ministro é o governo”

Michel Temer, presidente em exercício

 

23

Quantidade de ministérios na Esplanada montada por Michel Temer

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