Correio braziliense, n. 19342, 10/05/2016. Política, p. 3

Votação marcada para amanhã

Renan confirma o início da sessão que decidirá o afastamento temporário de Dilma para a manhã de quarta-feira

Por: Paulo de Tarso Lyra e Julia Chaib

 

Depois de um dia tenso na política e na economia com a decisão do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular a votação do impeachment realizado na Câmara, em 17 de abril, o Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL), bateu na mesa e manteve para amanhã a votação do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Após uma série de bate-bocas que incluíram o pedido de cassação do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), Renan marcou para as 9h o início da sessão da análise do impedimento da petista. “Amanhã (hoje), nós vamos falar sobre quarta-feira. Temos de decidir com os líderes o tempo de duração das intervenções. Dez minutos para discutir e cinco minutos para encaminhar. O ideal é que nós façamos um meio termo, mas acertado com os líderes dos dois lados”, explicou Renan.

A inscrição para os interessados em discursar no dia do impeachment será aberta hoje, a partir das 15h.  “Vamos convocar a sessão para quarta, a partir das 9h. Fazemos uma interrupção às 12h, retomamos às 13h, fazermos uma interrupção às 18h e voltamos às 19h. A expectativa é que tenhamos pelo menos a participação de 60 oradores. Se isso acontecer, nós vamos ter 10 horas de sessão, mas o objetivo é concluirmos ainda na quarta-feira”, declarou o Presidente do Senado.

O caminho, contudo, não foi tranquilo em nenhum momento e chegou a ser ameaçado por uma crise inesperada: a cassação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) (leia mais na página 7). Foi um dia confuso em Brasília como há dias não se via. A calmaria que existia desde a votação do impeachment na Câmara acabou após o anúncio de Maranhão, que pegou o Senado todo de surpresa. “Eu avisei o Renan quando o avião dele aterrissou em Brasília. Fomos todos para a residência oficial”, disse o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).

A casa de Renan virou ponto de peregrinação. Primeiro chegaram os peemedebistas mais próximos, depois vieram os oposicionistas. Por fim, os petistas. “Isso é uma patetada”, disse o relator do processo de impeachment na comissão especial, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). “A dúvida é se é uma pateta apenas ou se são três”, completou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), numa alusão a Maranhão, ao advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo e ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

Renan cedeu aos argumentos de que, se voltasse atrás e acatasse a decisão de Maranhão, estaria se apequenando. “Aceitar essa brincadeira com a democracia seria deixar carimbado em mim um compromisso com o atraso no processo. Não cabe ao Presidente do Senado dizer o que é justo ou injusto”, disse Renan, em plenário.

 

Confusão

Foi a deixa para um bate-boca generalizado. Os petistas, auxiliados pela senadora Vanessa Graziottin (PCdoB-AM), pediram questões de ordem e de esclarecimento. Renan limitou a duas intervenções e cortou o microfone do plenário. “Isso aqui não é a Câmara, presidente Renan”, esbravejou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). A gritaria foi tão intensa que o Presidente do Senado reagiu. “A democracia não se faz com gritos. Vou suspender a sessão por dois minutos para que vocês gritem em paz”, devolveu o Presidente do Senado.

As senadoras se sentiram desrespeitadas, alegando que foram chamadas de histéricas, mas Renan se manteve irredutível. Tudo caminhava, com muita dificuldade, para a normalidade, quando o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) avisou que a Comissão de Constituição e Justiça do Senado deu um prazo até quinta-feira para receber novas informações sobre o caso Delcídio.

O PT levantou a voz em plenário e disse que estava em andamento um acórdão entre os tucanos para salvar o mandato de Delcídio. Renan perdeu a paciência. “Isso é manobra protelatória. Quem faz manobra protelatória é a outra Casa. Se isso acontecer,  não me sinto à vontade para colocar na quarta-feira a votação da presidente Dilma, porque o caso de Delcídio é anterior. Não faz sentido Delcídio estar no plenário votando o afastamento da presidente”, cobrou o peemedebista. Os senadores acabaram acelerando o processo e a votação da cassação de Delcídio ficou para hoje.

 

Frase

“A democracia não se faz com gritos. Vou suspender a sessão por dois minutos para que vocês gritem em paz”

Renan CalheirosPresidente do Senado

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