Correio braziliense, n. 19363, 31/05/2016. Política, p. 3

Planalto começa a escolher o substituto

Naira Trindade

Julia Chaib

Paulo de Tarso Lyra

A saída do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, mesmo após a ligação no meio da tarde do presidente em exercício, Michel Temer, informando que ele permanecia no cargo, pegou o Palácio de Planalto de surpresa. Sem secretário executivo nomeado para assumir a pasta mesmo que interinamente, o governo resolveu manter Carlos Higino, o ministro interino da presidente afastada, Dilma Rousseff, até que se nomeie um substituto.

Assessor legislativo, Fabiano Silveira se tornou ministro com os préstimos do Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL). O secretário executivo dele, Márcio Tancredi, seria o interino até que o governo encontrasse o nome do substituto, mas apesar de já trabalhar, Tancredi — que também é assessor legislativo — não foi nomeado. O Planalto, então, decidiu voltar o ministro interino de Dilma para a pasta até que saia a nomeação de Tancredi, ou até que se encontre o novo nome.

Apesar do novo desgaste, o governo avaliou a saída de Fabiano Silveira como positiva, uma vez que “resolve o problema” criado com as críticas dele em relação à Operação Lava-Jato. O programa Fantástico, da Rede Globo, revelou gravações do ministro dando orientações a Renan e ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado antes de se tornar ministro.

 

Repercussão

Em represália à tentativa do presidente em exercício de tentar manter Silveira, a Transparência Internacional, ONG de combate à corrupção em todo o mundo, havia avisado, por meio de nota, que suspenderá os contatos com a pasta ‘até que uma apuração plena seja realizada e um novo ministro com experiência adequada na luta contra a corrupção seja nomeado’.

A ONG — que assinou o texto em Berlim — condena o fato de Fabiano Silveira ter sido flagrado em conversas com o Presidente do Senado alvo de 12 inquéritos da Lava-Jato no Supremo. “Ninguém deve estar acima da lei. Não deve haver impunidade para os corruptos nem acordos a portas fechadas. É decepcionante que o ministro encarregado da transparência esteja agora sob suspeita, como parte de uma operação abafa”, disse Alejandro Salas, diretor para as Américas da Transparência Internacional.

Ao participar de um evento ontem na Universidade de Brasília (UnB), Dilma Rousseff disse achar “interessante” mais um ministro do governo interino de Michel Temer ser afastado. “Diziam que meu governo era culpado de tudo e mais um pouco. E hoje, é interessante assinalar que hoje o segundo ministro interino e provisório se afasta. É interessante. Nós nunca tivemos um ministro controlador-geral da União afastado. Nunca. Nunca tivemos. Nunca o ministro da CGU deixou de fazer a sua função, que é a transparência do governo”, afirmou Dilma.  A petista ainda comentou a troca de nomes da pasta, que passou de Controladoria-Geral da União (CGU) para Ministério da Transparência. “Primeiro eu pensei, deve ser uma jogada de marketing. Hoje, eu acredito que era tornar obscura a transparência. Isso caracteriza o momento em que estamos”, disse. Dilma participou do lançamento do livro Resistência ao golpe de 2016,  em um auditório na UnB. O livro foi escrito por 105 pessoas.

 

Frase

“Ninguém deve estar acima da lei. Não deve haver impunidade para os corruptos nem acordos a portas fechadas”

 

Alejandro Salas, diretor para as Américas da Transparência Internacional