Correio braziliense, n. 19343, 11/05/2016. Política, p. 5

Temer apela ao Congresso

Discurso aos parlamentares deve ocorrer na semana que vem, quando o vice-presidente apontará a necessidade da Câmara e do Senado para sair da crise. Também falará de medidas, como a flexibilização da meta de superavit primário

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

O vice-presidente Michel Temer pretende ir, na próxima semana, ao Congresso Nacional, apresentar as linhas gerais do seu governo. Temer deve assumir o Planalto até a sexta-feira, após o término da votação do processo de admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Aos deputados e senadores, o peemedebista pedirá a flexibilização da meta de superavit fiscal, apresentará outras medidas que pretende encaminhar ao Legislativo e, sobretudo, sinalizará que o Congresso é fundamental no momento de crise.

As prioridades do governo Temer no Legislativo haviam sido adiantadas pelo Correio na semana passada. Mas o vice-presidente achou por bem apresentá-las pessoalmente aos parlamentares. “Ele vai dizer que este é um momento de crise, de dificuldades, de ajustes. E que conta com o apoio de deputados e senadores para aprovar as medidas necessárias a fim de superar esse momento de turbulência”, disse um interlocutor.

Temer, que há quase um ano defendeu em entrevista a necessidade de um “grande pacto” para melhor a situação brasileira — palavras que foram muito mal recebidas pela presidente Dilma Rousseff —, falará que, sem o apoio de políticos, empresários e ]representantes da sociedade, a crise não dará tréguas. “Os primeiros momentos serão dramáticos. A ida dele ao Congresso é um gesto simbólico fundamental neste primeiro momento”, completou um auxiliar direto.

O vice-presidente fez uma visita rápida, ontem, ao Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL). “Ele não chegou a confirmar se viria ao Congresso na semana que vem. Mas disse que pretende manter um diálogo constante com a Casa, com visitas frequentes aos deputados e senadores”, confirmou Renan.

Ao Presidente fo Senado, Temer confirmou que fará uma ampla reforma do Estado, com a redução de ministérios, de cargos de comissão e funções gratificadas. Eles também conversaram sobre os trâmites burocráticos da sessão de hoje. Renan assegurou que nenhum dos dois comentou sobre a decisão do presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) — da qual ele próprio recuou depois —, de anular a sessão que aprovou, na Câmara, a abertura do processo de cassação de Dilma, em 17 de abril.

 

Medidas importantes

Após pedir a flexibilização da meta de superavit primário, Temer citará outras medidas que considera importantes, como a prorrogação da Desvinculação dos Recursos da União (DRU). Está praticamente pronta uma série de medidas legislativas, entre projetos de lei e medidas provisórias, para alterar as normas de concessões no setor de infraestrutura.

O vice-presidente, contudo, deve fazer ainda esta semana um pronunciamento, tão logo o Senado conclua a votação do afastamento de Dilma. O discurso, previsto para ser realizado amanhã, está sendo finalizado com um dos marqueteiros do PMDB. A previsão é de que Temer fale por quatro minutos e defenda, de forma genérica, o ajuste fiscal como condição para a retomada da confiança da economia e da geração de emprego. Assim como nas palavras ao Congresso, ele vai pedir unidade nacional e pacificação para governar.

 

Frase

"Os primeiros momentos serão dramáticos. A ida dele (Temer) ao Congresso é um gesto simbólico fundamental neste primeiro momento”

Auxiliar do vice-presidente, sobre a visita ao Parlamento na semana que vem

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Mesmo após o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), ter recuado na proposta de anular a sessão que garantiu a aprovação do pedido de impeachment na Câmara, o PP quer o deputado fora da 1ª vice-presidência da Casa. O partido reuniu a bancada na manhã de ontem e mandou um recado para Maranhão: se ele não renunciar, poderá perder o cargo e ser cassado.

Em reunião com a mesa da Câmara, ele também ouviu de Fernando Giacobo (PR-PR), 2º vice-presidente da Câmara, que deveria renunciar — o que forçaria a realização de novas eleições — ou pedir licença de 120 dias. Dessa forma, a presidência da Câmara iria para o próprio Giacobo. Maranhão resistiu, segundo presentes.

Perto das 18h, o deputado ainda estava indeciso. O Correio presenciou um telefonema dele para o líder do partido na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), em que pediu conselhos. “Amigo, essa questão agora é com a sua consciência. A nossa posição é pela renúncia”, rebateu Aguinaldo. Enquanto isso, as negociações sobre quem será o vice já tiveram início. Os dois mais cotados são Eduardo da Fonte (PP-PE) e Espiridião Amin (PP-PR).

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