Título: PR agora passa a ser solução
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 15/10/2011, Política, p. 3

Acusada de montar esquema de corrupção no Ministério dos Transportes, cúpula do partido é cortejada para alianças em São Paulo

Pouco mais de três meses após a crise no Ministério dos Transportes, que defenestrou a cúpula do PR da máquina pública federal sob a acusação de corrupção, licitações fraudulentas e sobrepreço em contratos, o Partido da República virou "alvo de cobiça" das maiores legendas do país. E o interlocutor preferencial é o deputado Valdemar Costa Neto (SP), apontado pelo Palácio do Planalto como mentor dos supostos desvios detectados na pasta, no Dnit e na Valec, estatal criada para administrar o setor de ferrovias.

Há duas semanas, o Conselho de Ética da Câmara decidiu não abrir processo contra Valdemar por conta da acusação de cobrança de propina na Feira da Madrugada, em São Paulo. Mesmo assim, PT e PMDB, sem qualquer constrangimento, procuraram Valdemar em busca de apoio para as eleições municipais de 2012. As conversas estão sendo travadas por representantes graúdos dos dois partidos. No caso do PT, o interlocutor inicial é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em busca de apoio para a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. Já pelo PMDB, o papel é exercido pelo vice-presidente, Michel Temer.

As negociações com o PT levam em conta dois pontos: além do apoio direto a Haddad, Lula quer neutralizar o desejo do PR de apoiar a senadora Marta Suplicy — que ainda não desistiu de disputar as prévias internas. O suplente da senadora é o vereador Antônio Carlos Rodrigues, filiado ao PR. Caso Marta vença a eleição, os republicanos teriam mais um senador em Brasília.

Já Temer está empenhado em viabilizar a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita. Recém-filiado ao PMDB, ele é visto como a grande chance para o partido voltar a ter um mínimo de representatividade no maior estado brasileiro.

Tempo de tevê O PR virou centro das atenções, assim como o PP de Paulo Maluf, porque não terá candidato para a prefeitura de São Paulo. Além disso, pelo tamanho da bancada na Câmara, estima-se que o tempo de televisão, que a legenda tenha direito, seja de dois minutos, embora a direção nacional do partido seja cautelosa ao calcular essa "riqueza" que tem em mãos para negociar.

Articuladores da campanha de Chalita enxergam os atuais movimentos com naturalidade. "Nesse momento, ninguém está acertando nada com ninguém. Mas também não podemos fechar a porta para qualquer tipo de conversa", afirmou uma pessoa próxima a Chalita. Segundo esse estrategista, o primeiro partido procurado é o DEM, que, sabidamente, não tem condições de negociar com o PSD de Gilberto Kassab. "Mas PR e PP são, sim, estratégicos", completou o peemedebista.

O presidente do PT-SP, deputado estadual Edinho Silva, não acredita que a procura pelo PR de Valdemar, após as atitudes tomadas pela presidente Dilma Rousseff, seja motivo de constrangimento. "Todas as questões envolvendo o Ministério dos Transportes estão sendo investigadas, não podemos emitir qualquer tipo de pré-julgamento", defendeu Edinho. Para completar, o dirigente petista lembra que o PR tem outras lideranças nacionais e estaduais que não se restringem unicamente a Valdemar Costa Neto.

Procurada pelo Correio, a assessoria de imprensa da direção do PR afirmou que "não comenta as manifestações, opiniões, especulações, que digam respeito ao processo eleitoral que só ocorrerá em 2012". Para a assessoria, além de prematura, "a abordagem do assunto está vinculada à disposição dos republicanos nos municípios onde o PR participará dos pleitos correspondentes".