O globo, n. 30263, 15/06/2016. País, p. 4

Traição de aliado sinaliza a perda de poder de Cunha

Maria Lima

Isabel Braga

Renan Xavier

-BRASÍLIA- Se o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA) surpreendeu a todos, uma vez que ela tinha sido colocada no Conselho de Ética para ajudar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi o voto de Wladimir Costa (SD-PA) que personificou a traição e provocou a ira dos aliados do presidente afastado que acusaram Costa de ser “fraco de caráter”. Dado como voto certo, o deputado paraense repetiu a histórica reviravolta do ex-deputado Onaireves Moura, que, dias depois de fazer um banquete para cabalar votos contra o impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, acompanhou a manada e votou a favor do afastamento em plenário.

 

Além dos votos de Eron e Costa, a derrota de Cunha foi ditada pelos votos da antiga oposição, que se aliou ao PT e PSOL. Já o PMDB votou fechado contra o primeiro passo para a cassação de Cunha.

Minutos antes de votar a favor da aprovação do relatório de Marcos Rogério (DEM-RO), pedindo a suspensão do mandato do presidente afastado da Câmara, Wladimir Costa havia discutido com os petistas e feito o mais inflamado discurso contra a cassação do amigo. Logo depois do voto de Tia Eron, que definiu a maioria pela cassação, entretanto, Wladimir recuou e acompanhou a deputada baiana, provocando gargalhadas entre os presentes, e indignação entre os defensores de Cunha.

— Eu não quero aqui frustrar o meu partido ou quem quer que seja, acho que apenas alguns que imaginavam que eu iria votar diferente. Finalizo dizendo que vamos votar com o deputado Marcos Rogério — anunciou Costa, provocando grande burburinho.

O voto de Costa levou aliados a protestar.

— Eduardo Cunha não mentiu. Não vou me acovardar igual ao Wlad (Wladimir Costa). Voto não ao relatório — afirmou o deputado Laerte Bessa (PR-DF).

Ao final da sessão o mais fiel escudeiro de Cunha, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) disse que a derrota se deu por causa do voto dos vingadores que não o perdoaram por ter encaminhado o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, e dos fracos de caráter:

— Uma pessoa firme, de caráter inabalável, não se comportaria como o deputado Wladimir Costa. Se eu fosse julgá-lo pela sessão de hoje, essa seria minha opinião: ele é fraco de caráter.

Diante da reação dos aliados, Costa disse que comunicara seu voto ao presidente do partido, Paulinho da Força (SP):

— Votei por convicção e certeza que, mesmo não existindo provas materiais, existem indícios gravíssimos contra o mesmo e familiares. Me antecipei e resolvi informar logo pela manhã ao presidente do partido. O Paulinho, mesmo não tendo exigido de minha pessoa que eu votasse contra ou a favor, me pareceu muito surpreso com o voto. Ficou atônito, mas logo saberá que fiz o melhor para o partido.

 

*Estagiário sob supervisão de Maria Lima