Machado diz que Aécio recebeu R$ 1 milhão

Isadora Peron, Gustavo Aguiar, Mateus Coutinho, Julia Affonso, Fausto Macedo

16/06/2016

 

 

ESQUEMA NA SUBSIDIÁRIA - Delator afirma que tucano ajudou a financiar 50 deputados para se eleger presidente da Câmara

Em sua delação premiada, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou que um esquema de corrupção foi montado quando ele ainda era líder do PSDB no Senado para eleger o hoje presidente da sigla, senador Aécio Neves (MG), à presidência da Câmara em 2001 e estruturar uma ampla base de apoio para o governo Fernando Henrique Cardoso no Congresso. O próprio Aécio, de acordo com Machado, teria recebido na época R$ 1 milhão em espécie.

Segundo o delator, ele, o então senador Teotônio Vilela e o então deputado Aécio traçaram um plano em 1998 para “ajudar financeiramente” 50 deputados a se elegerem naquele ano em troca de apoio à eleição de Aécio para a presidência da Câmara. O dinheiro teria sido captado por meio de propinas de empresas e de recursos ilícitos da campanha de Fernando Henrique à reeleição.

“Decidiram (os três no encontro) que iriam dar entre R$ l00 mil reais e R$ 300 mil reais a cada candidato”, relatou Machado, que diz ter recebido propinas de empresas doadoras de campanhas tucanas e também ter procurado o então ministro das Comunicações, Luis Carlos Mendonça de Barros, que assumiu a função de cuidar dos recursos depois da morte do ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta.

Machado também afirmou “que eles (campanha de FHC) nos garantiram que parte desses recursos ilícitos, à época cerca de R$ 4 milhões, viriam da campanha nacional através do então ministro das Comunicações Luis Carlos Mendonça de Barros”. O dinheiro ilícito, disse o delator, vinha “do exterior”. Ele não deu mais detalhes da operação e da origem do recurso.

“Recursos ilícitos nos foram entregues em várias parcelas em espécie, por pessoas indicadas por ele (Mendonça de Barros) e que a maior parcela dos cerca de R$ 7 milhões arrecadados à época foi destinada ao então deputado federal Aécio Neves, que recebeu R$1 milhão em dinheiro”, disse o ex-presidente da Transpetro. Machado declarou que o tucano recebia esses recursos de um amigo de Brasília “que o ajudava nessa logística” e afirmou apenas que a pessoa era um jovem moreno que “andava sempre com roupas casuais e uma mochila”.

Caixa 2. Além do esquema montado por Mendonça Barros, Machado citou também um esquema de caixa 2 da Camargo Corrêa para campanhas tucanas no período e admitiu que chegou a receber na época R$ 350 mil em espécie da empreiteira. Todo o esforço do esquema ilícito, que também teria financiado as campanhas municipais do PSDB em 2000, segundo o delator, permitiu ao partido eleger a segunda maior bancada da Câmara.

De acordo com ele, porém, o então presidente Fernando Henrique era contra a articulação para que Aécio se elegesse presidente da Câmara, pois temia na época um racha de sua base.

O senador tucano é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal abertos a partir da delação premiada do senador cassado Delcídio Amaral ( sem partido- MS). Uma das investigações tem como objetivo saber se Aécio atuou para “maquiar” dados da CPI dos Correios, em 2005, e esconder a relação entre o Banco Rural e o chamado mensalão mineiro.

Também são investigados Clésio Andrade, que era vice-governador do tucano, e o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que era filiado ao PSDB.

O senador também é alvo de uma outra linha de investigação no STF, que apura se ele recebeu propina de Furnas, subsidiária da Eletrobrás. / ISADORA PERON, GUSTAVO AGUIAR, MATEUS COUTINHO, JULIA AFFONSO e FAUSTO MACEDO

Trecho

“(Esses) recursos ilícitos nos foram entregues em várias parcelas em espécie, por pessoas indicadas por ele (Mendonça de Barros) e que a maior parcela dos cerca de R$ 7 milhões arrecadados à época foi destinado ao então deputado federal Aécio Neves, que recebeu R$ 1 milhão em dinheiro”