Padilha pede que Lava Jato caminhe para seu final

Pedro Venceslau, Ana Fernandes

17/06/2016

 

Ministro da Casa Civil afirma que agentes envolvidos na operação devem indicar o momento do seu desfecho; ele diz ainda que Temer é alvo de 'citação gratuita'

O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse ontem, durante almoço com empresários em São Paulo, que os agentes da Operação Lava Jato devem“ sinalizar o momento” de seu desfecho. A declaração do ministro foi feita um dia após ter sido divulgada a delação premiada na qual o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado vincula o presidente em exercício Michel Temer a um esquema de propina na subsidiária da Petrobrás.

“Os principais agentes da Lava Jato terão a sensibilidade para saber o momento de aprofundar ao extremo e caminhar para a definição final. Isso tem que ser sinalizado. Na Itália não houve essa sinalização e acabaram tendo efeito deletério. Não podemos correr esse risco aqui”, declarou o ministro, em referência à Operação Mãos Limpas, que desmantelou um esquema de corrupção durante a década de 1990 no país europeu. Já os agentes, no caso, são a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário.

O presidente em exercício foi acusado por Machado de ter negociado propina de R$ 1,5 milhão para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo pelo PMDB em 2012.

Em abril, o juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato na primeira instância, chegou a dizer a interlocutores que “sonhava” em terminar a operação até dezembro, mas assessores dele já admitem que esse prazo pode se prolongar.

Defesa. No encontro de ontem, Padilha defendeu Temer reiteradas vezes e afirmou que a citação ao nome dele trata de um encontro que não existiu. “A citação teria que ter vindo com uma prova mínima de que tal encontro existiu”, afirmou.

Para respaldar sua tese, o chefe da Casa Civil citou o caso da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) ,que também aparece na lista de Machado. “Conheço a deputada Jandira há muitos anos. Tenho certeza de que ela não foi pedir recursos ilícitos ao Sérgio Machado. Se esse raciocínio vale para ela, vale para todos”, comparou.

Segundo ele, não há “preocupações” dentro do governo sobre eventuais efeitos que a Lava Jato possa ter no governo.

“Não há absolutamente nenhum temor em relação à Lava Jato. A citação a Temer é absolutamente gratuita, não teve conversa do presidente Michel Temer sobre recursos para campanha.” As declarações de Padilha foram feitas antes da saída do então ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, do governo – o terceiro a ser obrigado a abandonar o Ministério por causa da Lava Jato.

Ele participava de um almoço organizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), entidade criada pelo empresário João Doria, candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo.

Impeachment. Padilha se mostrou confiante sobre a votação do impedimento de Dilma Rousseff no Senado ao calcular vitória para o governo interino. “Se os senadores tivessem que votar hoje, o impeachment, teríamos entre 58 e 61 votos, nenhuma menos que 58.

As razões, obviamente, não vou aqui revelar, nem nome nenhum, mas temos controle diário de várias fontes nossas lá dentro do Senado”, disse o ministro a jornalistas na saída do encontro. Ele lembrou que previra 368 votos pela abertura do processo na Câmara. Foram 367.

 

O Estado de São Paulo, n. 44803 , 17/06/2015. [Política], p. A7.