Projeto que barra indicação política em estatais é esvaziado

15/06/2016

Bernardo Caram

Igor Gadelha

 

Uma semana depois de o presidente em exercício Michel Temer ter anunciado a suspensão das indicações políticas nas estatais até a aprovação da Lei de Responsabilidade das Estatais, a Câmara dos Deputados, em acordo com o governo, negociou o esvaziamento do projeto, que foi aprovado em votação simbólica na madrugada de hoje. PT, PC do B, Rede e PSOL orientaram voto contrário ao projeto.

Após articulação de Jovair Arantes (PTB-GO), um dos principais líderes do chamado Centrão, bloco formado por 219 deputados, a proposta foi alterada com a retirada do texto da proibição de que pessoas com atuação partidária sejam indicadas para diretorias das estatais.

O texto aprovado em março pelo Senado, ainda na gestão Dilma Rousseff, vedava a indicação de nomes que tivessem atuado, nos últimos três anos, em estrutura decisória de partidos políticos ou em trabalho para campanha eleitoral.

O trecho agora foi excluído do texto, por meio de uma emenda posta em votação no plenário. Na prática, um dirigente de partido ou um líder sindical poderá assumir cargo de direção em uma estatal assim que for indicado pelo governo, bastando deixar o posto anterior. “O fato de ser diretor de um partido ou líder sindical o desqualifica para o cargo? Não”, disse o relator do texto, deputado Arthur Maia (PPSBA).

A mudança foi anunciada pelo líder do governo, André Moura (PSC-SE), após líderes da base aliada chegarem a um consenso sobre o texto do projeto em reunião com a presença do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo).

Se aprovado pela Câmara, o projeto alterado precisará retornar para análise do Senado. Segundo Maia, as outras exigências para indicação previstas no projeto aprovado pelo Senado foram mantidas. Na Câmara, porém, líderes acertaram uma alteração na redação do trecho que dispõe sobre as exigências, para deixar claro que elas sejam “alternativas”.

Se o indicado, por exemplo, não cumprir a exigência de experiência profissional de dez anos na área de atuação da empresa pública, poderá ter de comprovar, como alternativa, quatro anos em cargo de direção de empresa semelhante.

Na Câmara, o relator também diminuiu para 20% o porcentual de participação de membros independentes nos conselhos de administração, já incluindo representantes dos empregados e dos acionistas minoritários.

Conforme Maia, o porcentual está de acordo com as regras do segmento de listagem da BM&F Bovespa “Novo Mercado”, chanceladas pela Comissão de Valores Mobiliários. O Senado tinha aprovado 25%.

Outra mudança feita pelo relator na Câmara e acertada entre os líderes foi aumentar o teto de gastos com publicidade e marketing das estatais de 0,5% para 1% da receita bruta das empresas.

“O porcentual de 0,5% está muito aquém do necessário”, afirmou Arthur Maia.

O presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Petrobrás, deputado Davidson Magalhães (PC do B-BA), criticou o projeto.

Para ele, o texto elimina a capacidade de atuação estratégica do governo nas estatais. O primeiro ponto problemático no projeto, na avaliação do deputado, é que, além da exigência de que 20% dos conselheiros sejam independentes, há no texto a proibição de que nomes do governo, como ministros, sejam indicados aos conselhos.

“O texto cria mecanismo que faz com que estatais sejam povoadas por gente do mercado”, disse. Para ele, o Estado, como acionista majoritário, precisa ter capacidade de atuação. “O Estado vai ficar impedido de defender sua posição, porque a ‘pseudo neutralidade’ que se quer é entupir os conselhos de gente do mercado”, disse.

 

OS PRINCIPAIS PONTOS DA ALTERAÇÃO

Carência de atividade política

Como é

Há prazo de 36 meses de carência sem participação em atividades político-partidárias para pessoas que forem indicadas em cargos de direção nas empresas estatais

Como fica

Sem prazo de carência sem atividade político-partidária para quem for indicado em cargo de direção nas empresas estatais

 

Conselhos de administração

Como é

O porcentual de participação de membros independentes em conselhos da administração das estatais está limitado em 20%

Como fica

Ampliação para 25% do porcentual de membros independentes em conselhos de administração das estatais

 

Gastos com publicidade

Como é

O teto de gastos com o setor hoje é de 0,5% da receita bruta das empresas

Como fica

O teto de gastos com o setor passa para 1% da receita bruta das estatais

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Placar do Impeachment no Senado

15/06/2016  

 

37 A FAVOR DO IMPEACHMENT

3 NÃO LOCALIZADOS

16 NÃO QUISERAM RESPONDER

7 INDECISOS

18 CONTRA O IMPEACHMENT

SÃO NECESSÁRIOS 54 VOTOS PARA A ADMISSIBILIDADE DO PROCESSO

81 É O TOTAL DE SENADORES

 

A FAVOR

Aloysio Nunes

PSDB – SP

José Anibal

PSDB- SP

Hélio José

PMDB – DF

Davi Alcolumbre

DEM – AP

Vicentinho Alves

PR – TO

Alvaro Dias

PV – PR

Ataídes Oliveira

PSDB – TO

Paulo Bauer

PSDB – SC

Marta Suplicy

PMDB - SP

José Agripino

DEM – RN

Ana Amélia

PP – RS

Fernando B. Coelho

PSB - PE

Aécio Neves

PSDB – MG

Ricardo Ferraço

PSDB – ES

Romero Jucá

PMDB - RR

Ricardo Franco

DEM – SE

Ciro Nogueira

PP – PI

Lasier Martins

PDT – RS

Cassio Cunha Lima

PSDB – PB

Tasso Jereissati

PSDB – CE

Simone Tebet

PMDB – MS

Ronaldo Caiado

DEM – GO

Gladson Cameli

PP – AC

Reguffe

s/partido – DF

Dalirio Beber

PSDB – SC

Dario Berger

PMDB – SC

Valdir Raupp

PMDB – RO

Cidinho Santos

PR- MT

José Medeiros

PSD – MT

Zezé Perrella

PTB – MG

Flexa Ribeiro

PSDB – PA

Eunício Oliveira

PMDB - CE

Waldemir Moka

PMDB – MS

Magno Malta

PR – ES

Sérgio Petecão

PSD - AC

Garibaldi Alves Filho

PMDB – RN

Eduardo Amorim

PSC – CE

 

NÃO LOCALIZADOS

Renan Calheiros

PMDB – AL

Rose de Freitas

PMDB – ES

Lúcia Vânia

PSB – GO

 

NÃO QUISERAM RESPONDER

Edison Lobão

PMDB – MA

José Maranhão

PMDB – PB

João Alberto Souza

PMDB – MA

Raimundo Lira

PMDB – PB

Benedito De Lira

PP – AL

Roberto Muniz

PP-BA

Omar Aziz

PSD – AM

Otto Alencar

PSD – BA

Antonio Anastasia

PSDB – MG

Antonio C. Valadares

PSB – SE

Fernando Collor

PTC – AL

Pedro Chaves

PSC- MS

Wellington Fagundes

PR - MT

Ivo Cassol

PP – RO

Wilder Morais

PP – GO

Jader Barbalho

PMDB – PA

 

INDECISOS

Roberto Rocha

PSB- MA

Romário

PSB – RJ

Acir Gurgazz

PDT – RO

Cristovam Buarque

PPS – DF

Eduardo Braga

PMDB – AM

Eduardo Lopes

PRB – RJ

Elmano Férrer

PTB – PI

 

CONTRA

Angela Portela

PT – RR

Fátima Bezerra

PT – RN

Gleisi Hoffmann

PT – PR

Humberto Costa

PT – PE

Jorge Viana

PT – AC

José Pimentel

PT – CE

Lindbergh Farias

PT – RJ

Paulo Paim

PT – RS

Paulo Rocha

PT – PA

Regina Sousa

PT – PI

João Capiberibe

PSB – AP

Lídice da Mata

PSB – BA

Kátia Abreu

PMDB- TO

Roberto Requião

PMDB – PR

Armando Monteiro

PTB- PE

Randolfe Rodrigues

REDE – AP

Telmário Mota

PDT - RR

Vanessa Grazziotin

PC do B - AM

 

Por partido

Por partido

PMDB

A favor - 9

Contra -  2

Indeciso - 1

Não quis responder – 4

Não localizado - 3

 

PT

A favor  - 0

Contra- 10

Indeciso - 0

Não quis responder – 0

Não localizado -

 

PSDB

A favor - 10

Contra  - 0

Indeciso - 0

Não quis responder – 1

Não localizado - 0

 

PSB

A favor - 1

Contra - 2

Indeciso - 2

Não quis responder – 1

Não localizado - 1

 

 

PP

A favor - 3

Contra - 0

Indeciso - 0

Não quis responder – 2

Não localizado - 2

 

PR

A favor - 3

Contra - 0

Indeciso - 0

Não quis responder – 1

Não localizado -  0

 

PSD

A favor - 2

Contra - 0

Indeciso - 0

Não quis responder – 2

Não localizado - 0

 

DEM

A favor - 4

Contra - 0

Indeciso - 0

Não quis responder- 0

Não localizado - 0

 

PDT

A favor - 1

Contra - 1

Indeciso - 1

Não quis responder – 0

Não localizado - 0

 

PTB

A favor- 1

Contra - 1

Indeciso - 1

Não quis responder – 0

Não localizado - 0

 

PRB

A favor - 0

Contra - 0

Indeciso - 1

Não quis responder – 0

Não localizado - 0

 

PC do B

A favor - 0

Contra- 1

Indeciso - 0

Não quis responder – 0

Não localizado - 0

 

PSC

A favor - 1

Contra - 0

Indeciso - 0

Não quis responder – 1

Não localizado -  0

 

PPS

A favor - 0

Contra - 0

Indeciso - 1

Não quis responder – 0

Não localizado - 0

 

PTC

A favor- 0

Contra - 0

Indeciso - 0

Não quis responder – 1

Não localizado - 0

 

PV

A favor - 1

Contra - 0

Indeciso - 0

Não quis responder – 0

Não localizado - 0

 

Rede

A favor -0

Contra - 1

Indeciso - 0

Não quis responder – 0

Não localizado - 0

 

Sem Partido

A favor - 1

Contra-0

Indeciso - 0

Não quis responder – 0

Não localizado - 0

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Perícia deve atrasar rito do impeachment

15/06/2016

Isabela Bonfim

 

A base do presidente em exercício, Michel Temer, sofreu um revés na comissão do impeachment após a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, de aceitar recurso da defesa de Dilma Rousseff para a realização de uma perícia no processo. Novamente, o calendário deve ser prolongado. Desta vez, em até oito dias.

“Possivelmente teremos o trabalho de instrução entrando pela semana que vem. Aliás, quando apresentei como proposta o cronograma, alertei que a fase de instrução seria necessariamente mais flexível”, disse o relator do processo, Antonio  Anastasia (PSDB-MG).

A fase mencionada pelo relator, que é dedica da a ouvir testemunhas e colher provas, estava prevista para ser encerrada sexta- feira. Agora, a instrução deve ser estendida até o dia 25, prazo para realização da perícia.

O procedimento será conduzido por técnicos do Senado. Os nomes foram indicados pelo presidente do colegiado, Raimundo Lira( PMDB-PB),e aprovados pelos demais senadores. Senadores da base de Temer buscam, diariamente, correr com os prazos. Na última sessão, adotaram a estratégia de não fazer perguntas às testemunhas. A base aliada minimizou o fato de Lewandowski ter derrubado a decisão do colegiado de cancelar a perícia. Ontem, senadores defenderam que a perícia não deve prolongar o processo.

 

Testemunhas. Simone Tebet (PMDB-MS) argumenta que o que vai atrasar o cronograma é quantidade de testemunhas da defesa, não a perícia. Dilma Rousseff poderá trazer até 40 depoentes para falar em seu favor. Até o momento, apenas dois foram ouvidos.

 

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‘Gazeta do Povo’ recebe prêmio de liberdade de imprensa

15/06/2016

Valmar Hupsel Filho

 

Alvo de 45 ações judiciais movidas por magistrados e promotores do Paraná em diversas comarcas do Estado, a série de reportagens sobre os vencimentos recebidos por juízes e representantes do Ministério Público neste ano rendeu ao jornal Gazeta do Povo o prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa 2016.

A solenidade de entrega será realizada no dia 18 de agosto, em local ainda a ser definido. Concedida pela Associação Nacional de Jornais, a premiação é voltada a iniciativas que tiveram relevante atuação na promoção da liberdade de expressão e de imprensa no País. “Considero esse prêmio concedido ao jornal Gazeta do Povo uma mensagem de solidariedade de todos os jornais brasileiros, representados pela ANJ, unidos pela causa comum da liberdade de imprensa”, disse o presidente da ANJ, Carlos Fernando Lindenberg Neto, do jornal capixaba A Gazeta.

Os vencedores são os repórteres Francisco Marés, Euclides Lucas Garcia e Rogério Waldrigues Galindo, o analista de sistemas Evandro Balmant e o infografista Guilherme Storck, autores das reportagens, publicadas em fevereiro pelo jornal. Desde abril, o conteúdo do material tem sido questionado na Justiça, com ações ajuizadas em várias cidades paranaenses. Áudio divulgado reforçou a suspeita de uma ação coordenada dos magistrados. Nele, o presidente da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Francisco Mendes Júnior, fala em um “modelo de ação individual” para que “cada um possa ingressar com essa ação individual, caso considere conveniente”.

Em maio, a defesa do jornal entrou com recurso no Supremo Tribunal Federal para que o caso seja julgado em Brasília. Desde a publicação das reportagens, os autores passaram a ter de dividir o tempo entre o trabalho e as audiências. Entre abril e maio, eles tiveram de comparecer a 17 delas em dez cidades. “Ao passar de dois a quatro dias de cada semana, desde abril, em viagem para audiências, eles estão sendo impedidos de exercer regularmente sua profissão”, disse o diretor de redação da Gazeta do Povo, Leonardo Mendes Júnior.

Ontem, os profissionais foram à audiência na cidade de União da Vitória, na região sul do Estado, e não foram localizados. Hoje, o compromisso é em Medianeira, que fica próxima à fronteira com a Argentina. “Na prática, os cinco profissionais já estão condenados e cumprindo uma pena”, disse o diretor.

 

‘Mensagem’

“Considero esse prêmio uma mensagem de solidariedade de todos os jornais brasileiros, unidos pela liberdade de imprensa”

Carlos Lindenberg Neto

PRESIDENTE DA ANJ

 

O Estado de São Paulo, n.44801, 15/06/2016. Políticca, p. A9