Machado diz que partidos queriam pacto para salvar políticos

Fausto Macedo, Julia Affonso, Mateus Coutinho, Marcelo Godoy e Roberta Barbieri

17/06/2016

 

Delator afirma que acordo, o ‘pacto Caxias’, devia começar por Lula ou Jucá, Renan, Aécio e outros seriam atingidos

O delator Sérgio Machado contou à Procuradoria-Geral da República que políticos do PMDB e do PSDB estavam articulando o chamado “pacto Caxias” para barrar a Operação Lava Jato.

Ele envolveria o salvamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ameaçado pela operação, “ou todos os políticos seriam alcançados, haja vista o modelo de financiamento de campanhas eleitorais praticado há décadas no Brasil”.

Caxias é uma referência ao patrono do Exército, o duque Luís Alves de Lima e Silva, conhecido como Pacificador por ter acabado com a instabilidade política causada por revoltas regionais durante o Império. Em sua delação, Machado conta não ter dúvidas de que havia uma ação para barrar a operação, após as conversas que manteve com a cúpula do PMDB. Ele gravou diálogos com os senadores Romero Jucá (RR) e Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente José Sarney (AP). “Após essas conversas, ficou claro que havia políticos de diversos partidos procurando construir um amplo acordo que limitasse a ação da Operação Lava Jato”.

De acordo com o delator, Jucá lhe teria confidenciado “tratativas com o PSDB”. Segundo ele, elas estavam sendo “facilitadas pelo receio de todos os políticos com as implicações” da operação. O PSDB está na base de apoio do governo de Michel Temer e possui três ministros, incluindo o da Justiça, que comanda a Polícia Federal.

Com Renan, Machado afirmou ter mantido conversa na qual trataram de mudanças legais.

As alterações seriam: mudar a lei das delações premiadas, impedindo a delação de preso; permitir que as empresas fizessem acordos de leniência sem confessar crimes e acabar com o cumprimento de pena após condenação na segunda instância. Renan desejaria ainda “alguma anistia ou clemência aos políticos investigados”.

Para o procurador-geral, Rodrigo Janot, as provas mostrariam que o “acordão” continuou “sendo costurado” após as conversas de Machado com os peemedebistas por meio das nomeações de Jucá para o Ministério do Planejamento (ele deixou o cargo após a divulgação dos áudios das conversas de Machado),de José Sarney Filho (PV) para o ministério do Meio Ambiente e da entrega de “cargos para o PSDB”.

De acordo com Machado, Renan lhe teria confidenciado que havia mantido conversas com o senador Aécio Neves (PSDBMG) e com o senador e atual ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), sobre a construção do “grande acordo com a finalidade de encontrar uma saída para a Lava Jato”. Renan lhe teria dito ainda que pretendia pôr em um próximo encontro os senadores José Agripino Maia (DEM-RN) e Fernando Bezerra (PSB-PE) para “angariar mais pessoas dispostas a aderir ao acordão.

Machado disse que Jucá “sinalizou que a solução política” poderia ser “uma Constituinte” que poderia “acontecer em 2018 e nela se poderiam rever os poderes do Ministério Público com o viés de reduzi-los”. O diálogo com Jucá teria ocorrido em março, em Brasília, na casa do senador. Jucá teria recebido R$ 21 milhões em propinas.Segundo Machado, Renan teria recebido R$ 32 milhões do esquema. O ex-presidente Sarney, R$ 18,5 milhões; Agripino Maia, R$ 300 mil e Aécio, R$ 1 milhão em propinas.

Defesas. Por meio de nota, o DEM afirmou que defende as investigações. O PSDB também informou que “sempre apoiou e continuará a apoiar” as investigações.

“Só elas poderão demonstrar quando um delator diz a verdade ou quando mente de forma deliberada para ampliar os benefícios da delação premiada.” Esse seria o caso das citações ao partido. Aécio informou que sua resposta era a mesma do partido. O Estado procurou Serra, mas a assessoria do ministério não havia respondido até a conclusão desta edição.O PMDB informou que “sempre arrecadou “recursos seguindo os parâmetros legais”. O PSB não respondeu ao Estado.

O PT informou que o partido “nunca participou de qualquer acordo desse tipo”. A assessoria de imprensa do Instituto Lula disse que não ia “comentar uma declaração feita pelo réu confesso, em conversa armada e gravada pelo próprio réu para se livrar de condenação”. “O ex-presidente Lula vale-se exclusivamente dos instrumentos legais para reagir a qualquer arbitrariedade ou ilegalidade.” O Estado não localizou Renan.

Anteontem, ele disse que as declarações de Machado “não provam nada”. Ele negou ter recebido doações ilegais para suas campanhas.

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Jucá e o ex-presidente Sarney, afirmou que não dá “nenhuma credibilidade a Machado”. “É a típica delação de quem está no desespero absoluto, que vai ser preso e sabe que os filhos vão ser presos.” O Estado procurou Agripino Maia, mas não o localizou. Bezerra disse que, em nenhum momento, foi convidado a tratar de acordo contra investigações. 

Salvação

“Não dá pra ficar como está. (Havia) a necessidade de paralisar a Operação Lava Jato, inclusive em face do ex-presidente Lula ou todos os políticos seriam alcançados, haja vista o modelo de financiamento de financiamento de campanhas eleitorais praticado há décadas no Brasil.”

 

O Estado de São Paulo, n. 44803, 17/06/2015. [Política], p. A8.