Temer arbitra disputa no PMDB por Turismo

28/06/2016

Andrea Jubé e Bruno Peres

A menos de dois meses da votação final do impeachment no Senado, as disputas continuam: as bancadas do PRB, do PMDB de Minas Gerais e do PMDB do Senado estão em luta pelo Ministério do Turismo. Na noite de domingo, Temer recebeu o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para uma conversa reservada no Palácio do Jaburu. E Temer ainda enfrenta resistências para manter no cargo o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, que responde no Tribunal de Contas da União (TCU) pelas "pedaladas fiscais" e a inquérito da Operação Zelotes.

O Palácio do Planalto confirma o encontro de Temer com Cunha e afirma que não há "nada de mais" em Temer recebê-lo. Teria sido um encontro para discutir a conjuntura política. Cunha, por sua vez, nega a reunião.

Simultaneamente, Temer administra a disputa pela sucessão no Turismo e no Planejamento. A demissão do então ministro Henrique Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte, há 12 dias - um nome de seu círculo de relacionamento pessoal há mais de 20 anos - deflagrou uma disputa interna no governo Temer pela sucessão no cargo. Temer manifestou, entre aliados próximos, a preocupação em preencher o cargo rapidamente porque a pasta desempenha papel relevante na organização dos Jogos Olímpicos eParalímpicos, que começam no dia 5 de agosto.

Na semana passada, Temer foi informado que o atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Marcos Pereira, bispo licenciado da Universal do Reino de Deus e presidente do PRB, tinha interesse no cargo. Pereira perdeu o entusiasmo com a pasta, que acabou esvaziada depois que os órgãos responsáveis pelo comércio exterior migraram para o Ministério das Relações Exteriores.

O Planalto definiu, contudo, que Pereira fica onde está. A disputa ficou restrita, agora, ao PMDB de Minas Gerais e ao PMDB do Senado. Há pelo menos dois deputados federais do PMDB mineiro fortemente cotados para assumir o Turismo: Leonardo Quintão e Newton Cardoso Júnior. Quintão tem bom trânsito com o Planalto e foi líder da bancada, enquanto Cardoso Júnior foi cotado para a Defesa no governo Temer, mas perdeu a disputa para o deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

Por último, Temer quer manter Dyogo Oliveira no Planejamento para não mexer, no momento, na equipe econômica que despontou como pilar de sustentação de sua gestão. De outro, para não melindrar o ex-titular da pasta o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que vem atuando como "ministro oculto", participando de reuniões com Temer e articulando estratégias com Oliveira.

Um auxiliar de Temer disse que o Planalto não vai se manifestar sobre o processo que tramita no TCU, em que o tribunal de contas pediu que Oliveira fosse declarado "inidôneo" e, portanto, impossibilitado de exercer cargo público. O assessor palaciano pondera que o processo - que investiga Oliveira, além dos ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e do Planejamento Nelson Barbosa pelas "pedaladas fiscais" - não é novo e o Planalto vai aguardar o desdobramento dos fatos. A expectativa é que o relator do processo no TCU, José Múcio, converta a sanção de declaração de inidoneidade em uma pena mais leve.

 

Valor econômico, v. 16, n. 4035, 28/06/2016. Política, p. A5