Correio braziliense, n. 19344, 12/05/2016. Política, p. 5

Maratona pelo impeachment

Senadores se sucedem na tribuna com ampla maioria favorável ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. Todos os três parlamentares do Distrito Federal se posicionaram pela suspensão do mandato da petista. Ex-presidente Collor não revelou posição

Por: Rosana Hessel, Natália Lambert, João Valadares e Eduardo Militão

 

Os senadores realizaram verdadeira maratona de discursos durante a sessão de ontem no Senado sobre a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Até as 2h de hoje, 51 senadores haviam discursado. Desse total, 36 indicaram apoio ao impeachment. Durante a madrugada, governistas mais otimistas apostavam que a oposição conseguiria 52 votos — são necessários apenas 41. Outros apostavam em até 56.

A sessão transcorreu sem confrontos, ao contrário da ocorrida na Câmara, em 17 de abril. Cada um dos 71 senadores inscritos teve 15 minutos para falar. A base governista reiterava que “não havia crime” no processo contra Dilma. Os demais apontavam como justificativa para afastar Dilma o desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Alguns, como o senador Álvaro Dias (PV-PR), relataram danos à economia. “Levaremos 10 anos para voltar ao padrão de vida de 10 anos passados”, alertou. Magno Malta (PR-ES) fez analogias médicas em seu discurso ao se referir à presidente. “O Brasil hoje é como um corpo diabético, com uma perna cheia de gangrena, já há muito tempo, pronta para ser amputada”, afirmou.

Na abertura da sessão, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) pediu calma, serenidade e espírito público aos senadores. Logo no início, senadores da base governista tentaram protelar o início dos discursos e apresentaram quatro questões de ordem que questionavam a denúncia, pediam a suspeição do relator, Antonio Anastasia (PSDB-MG) e o adiamento da sessão até que o Supremo Tribunal Federal respondesse o mandado de segurança impetrado pela Advocacia-Geral da União na terça-feira. “O discurso do conjunto da obra, que nós ouvimos tanto durante esse processo de impeachment para afastar a presidente, serve a uma farsa histórica. Nenhum outro presidente será medido pela mesma régua com que a presidente Dilma está sendo medida neste momento. Falta à elite deste país um projeto de nação. Por não ter generosidade para elaborar um projeto que contemple e conquiste votos na urna, escolheram o atalho para chegar ao poder por via indireta”, afirmou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

O debate atrasou o início dos discursos dos inscritos em pouco mais uma hora. Houve duas interrupções de menos de uma hora cada. Os três senadores do DF se disseram favoráveis à continuidade do processo contra Dilma. Com voz embargada, Cristovam Buarque (PPS-DF) afirmou que o fazia  “com muita tristeza”. “É um voto contra o estelionato eleitoral e a arrogância no exercício do poder, no lugar daquilo que deveria ser diálogo. É um voto moral, contra a corrupção generalizada, contra o saqueio da Petrobras e dos fundos de pensão.” Reguffe (sem partido-DF) destacou o descumprimento da LRF. “O nome do regime em que o governo pode fazer o que quiser é ditadura”, afirmou. Hélio José (PMDB-DF) enfatizou que os 367 votos pelo impeachment na Câmara revelam “contundência”.

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Plenário silencia para ouvir Collor

Por: ANTONIO TEMÓTEO

 

A longa sessão no Senado Federal, com apenas dois intervalos, não impediu que os senadores inscritos abrissem mão de falar por 15 minutos. A grande maioria, mesmo visivelmente cansada, resolveu utilizar integralmente o tempo a que tinha direito. Em vários momentos, o plenário ficou esvaziado. As conversas paralelas chegaram a atrapalhar os oradores. O Presidente do Senado,Renan Calheiros, em razão do barulho, chegou a dizer que suspenderia a sessão e comparou o plenário a uma feira de passarinho.

Em um dos poucos momentos em que os senadores fizeram silêncio absoluto foi quando o senador Fernando Collor, que sofreu impeachment em 1992, subiu à tribuna para discursar.

Renan Calheiros elogiou a fala do político alagoano e a classificou como “histórica”. Collor não antecipou o voto, mas indicou que apoiaria a admissibilidade do impeachment da petista.

Ele afirmou que chegou a alertar o governo sobre o impeachment. “Alertei sobre a possibilidade de sofrer impeachment, mas não me escutaram. Coloquei-me à disposição, ouvidos de mercador. Desconsideram minhas ponderações. Relegaram minha experiência. A autossuficiência pairava sobre a razão”, afirmou.

Collor chegou a dizer que “nos raros encontros com a presidente, externei minhas preocupações, especialmente após a sua reeleição, quando sugeri a ela uma reconciliação de seu novo governo com seus eleitores e com a classe política”.

O senador Otto Alencar, que não havia declarado o voto, afirmou que se posicionaria contra a admissibilidade do pedido de impedimento da petista. “Meu voto é contra o impeachment com toda a segurança.” Os governistas presentes no plenário o aplaudiram de pé.

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