Correio braziliense, n. 19344, 12/05/2016. Política, p. 6

Entre vencidos e vencedores

Confira os personagens da ascensão de Michel Temer e da saída de Dilma no embate político na Praça dos Três Poderes

 

A aprovação do relatório do senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), no Plenário do Senado, colocou fim a um embate que durou cinco meses. As sucessivas derrotas do governo minaram qualquer tentativa de reversão. As estratégias para destronar o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), antes da votação do impeachment naquela Casa ou para barrar o avanço do pedido de afastamento fracassaram, assim como as ações intempestivas junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O afastamento de Dilma Rousseff — e a consequente ascensão de Michel Temer à Presidência da República —, teve início com rixas menores e escaramuças entre a presidente da República e o ex-aliado Eduardo Cunha no mesmo instante em que foi aberto um processo no Conselho de Ética contra o peemedebista para apurar seus crimes de corrupção na Petrobras e por ele ter na Suíça, US$ 5 milhões, supostamente recebidos como propina. Por outro lado, Dilma era acusada de práticas que feriram a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tendo como cenário esse conflito de egos, as articulações internas e dos peemedebistas tornaram reais as ameaças contra Dilma. Enquanto tentava se desvencilhar dos processos contra ele, Eduardo Cunha conduziu de forma ferrenha a formação de uma comissão especial e a aprovação do relatório do impeachment no plenário da Câmara e o seu célere encaminhamento para o Senado. No embate pelo Planalto, figuras contundentes dentro e fora do Executivo e do Legislativo foram essenciais no processo de negociação entre partidos (aliados e de oposição). Cada jogador mostrou suas habilidades na tentativa de cooptar partidos e parlamentares. Na Câmara, venceram a turma de Cunha e da oposição. No Senado, a história se repete.

 

Quem sobe

Romero Jucá

Cotado para assumir o Ministério do Planejamento no governo Michel Temer, o senador do PMDB foi o principal articulador do impeachment no Senado. Ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado, rompeu com o PT ainda nas eleições de 2014. Foi decisivo ao angariar indecisos e cooptar partidos da base governista para apoiar a

gestão Temer.

 

Marta Suplicy

Depois de 33 anos no PT e ex-ministra da Cultura de Dilma Rousseff, a senadora paulista migrou para o PMDB assim que o processo de impeachment tomou forma. Provou ter timing político. Com o afastamento da ex-aliada e a ascensão de Temer, ganha força no partido na corrida para a Prefeitura de São Paulo.

 

Antônio Anastasia

Ex-governador de Minas Gerais e um dos principais aliados de Aécio Neves, o senador tucano teve seu relatório a favor do impeachment aprovado na Comissão Especial e confirmado pelo plenário do Senado. De quebra, ainda teve a citação contra ele na Operação Lava-Jato arquivada por falta de provas.

 

Renan Calheiros

Presidente do Senado conseguiu conduzir com sobriedade a votação do relatório no Senado, ao contrário do que ocorreu com as cenas excêntricas da Câmara dos Deputados, nem influenciar diretamente o processo, como Eduardo Cunha. Por fim, evitou tentativas de manobras de ambos os lados, tanto no caso de Waldir Maranhão quanto no de

Delcídio do Amaral.

 

Ronaldo Caiado

Principal articulador do DEM, o senador foi um dos críticos mais contundentes dos governos petistas desde Lula — o que incluiu até ameaças de embates físicos. Terminou como principal expoente do partido na Casa, especialmente entre o eleitorado conservador.

 

Ciro Nogueira e o PP

Presidente do partido mais enrolado pelas denúncias da Lava-Jato, Nogueira foi fundamental ao levar as bancadas na Câmara e no Senado a votar favoravelmente ao impeachment. Ainda teve sucesso na pressão para que o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), revogasse o ato que anulou a sessão do impeachment na

Casa. Jogou a pá de cal nas esperanças do Planalto.

 

PMDB e PSDB

Pela terceira vez, o PMDB chega à Presidência sem receber um único voto para isso — as duas primeiras foram com as ascensões dos vices José Sarney e Itamar Franco. Provou ser o “dono” do Congresso Nacional. Já o PSDB conseguiu voltar para a Esplanada por uma via alternativa e foi um dos principais artífices do impeachment ao incentivar a elaboração do parecer preparado pelos juristas Janaína Paschoal, Miguel Reale Júnior  e Hélio Bicudo.

 

Quem desce

José Eduardo Cardozo

Último representante dos três escudeiros de Dilma Rousseff nas eleições de 2010 — os outros eram Antonio Palocci e José Eduardo Dutra —, ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Cardozo falhou em todas as tentativas de barrar o impeachment tanto no Supremo Tribunal Federal quanto nas defesas nas sessões da Câmara e Senado. Ao menos sai em alta dentro do partido, que considerou as intervenções positivas, embora tenham fracassado.

 

Lindbergh Farias

Em 1992, foi um dos principais protagonistas não políticos do impeachment de Fernando Collor de Mello. À época, liderou os chamados caras pintadas. Vinte e seis anos depois, sai do processo de impeachment de Dilma Rousseff com a segunda derrota política contundente em seu currículo — a outra foi o desempenho pífio nas eleições para o governo do Rio de Janeiro, em 2014.

 

Humberto Costa

Líder do governo no Senado, tentou estabelecer uma reação combativa ao processo de impeachment, mas falhou por não conseguir negociar com outros partidos da base aliada a permanência na base do governo na Casa. Destoou da bancada ao defender que o impeachment era golpe, mas admitiu os erros sucessivos na gestão Dilma.

 

Flávio Dino

O governador do Maranhão, Flávio Dino, costurou o plano fracassado de derrubada da sessão do impeachment da Câmara, ao lado de Waldir Maranhão e José Eduardo Cardozo. A operação foi ignorada por Renan Calheiros e classificada pelo ministro STF Gilmar Mendes como “Operação Tabajara”. Acabou como exemplo do desespero governista.

 

Gleisi Hoffmann

Ex-ministra da Casa Civil, a senadora faz parte da tropa de choque de defesa de Dilma Rousseff. Com a derrota no Senado, Gleisi ainda terá de enfrentar investigação na Lava-Jato. Ela e o marido, ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, são acusados de corrupção passiva. De acordo com a Procuradoria-Geral da União, o casal recebeu mais de R$ 1 milhão em esquemas na Petrobras.

 

Kátia Abreu

A peemedebista, ex-PFL, passou 10 anos fazendo oposição aos governos petistas. Trocou de partido, numa estratégia de aproximação de Dilma Rousseff. Conseguiu a indicação para o Ministério da Agricultura. A tática, no entanto, deu a Kátia um ano na Esplanada. Agora, terá de voltar ao Senado e reconstruir as pontes com o PMDB de Michel Temer.

 

PT

Após 13 anos no poder, o PT mostrou sinal de esgotamento de seu projeto de poder e assistiu à fuga de aliados rumo à nau peemedebista. Acabou provando do mesmo impeachment do qual foi artífice, em 1992. Para completar, tem seu principal expoente, Luiz Inácio Lula da Silva, sob investigação na Operação Lava-Jato e deve enfrentar uma eleição municipal extremamente difícil em outubro.

Senadores relacionados:

Órgãos relacionados: