Título: Deficit cresce 0,4% nos EUA
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Fonte: Correio Braziliense, 15/10/2011, Economia, p. 17

Rombo nas contas públicas atinge US$ 1,299 trilhão, o segundo maior na história do país. Resultado vai intensificar a batalha política

Washington — O deficit orçamentário do governo norte-americano cresceu em 2011, ficando acima de US$ 1 trilhão pelo terceiro ano seguido. O buraco nas contas públicas foi de US$ 1,299 trilhão, num crescimento de 0,4% em relação ao de 2010. Foi o segundo maior resultado negativo da história dos Estados Unidos, atrás apenas do registrado em 2009 (US$ 1,416 trilhão). O desempenho ruim deve alimentar a já dura batalha política em torno do recolhimento de impostos e de despesas antes das eleições presidenciais do ano que vem.

O ano fiscal, que se encerra em setembro, fechou com um rombo de 8,7% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país), com um pequeno recuo proporcional frente aos 9% de 2010. O relatório divulgado pelo Tesouro, ontem, veio pouco mais de um mês depois da batalha em torno do teto da dívida do país, que levou os Estados Unidos para perto do calote e gerou um rebaixamento da sua nota de crédito pela agência de classificação de riscos Standard & Poor"s.

"O deficit do exercício de 2011 se manteve elevado como consequência da persistência dos efeitos da crise financeira de 2008 e 2009, que colocou à prova as receitas e os gastos do Estado federal", assinalou o comunicado conjunto do Tesouro e da Casa Branca. "O leve incremento do deficit em termos nominais em relação ao ano anterior se deve a uma alta das despesas, cujos efeitos foram quase compensados pelas receitas."

Fragilidade A arrecadação de impostos aumentou 6,5%, alcançando US$ 2,302 trilhões, enquanto os gastos cresceram 4,2%, chegando a US$ 3,601 trilhões. O presidente Barack Obama está envolvido numa nova batalha com o Congresso em torno de seu plano de criação de empregos, que resultaria numa despesa extra de US$ 447 bilhões. Numa primeira votação no Senado, que tem maioria democrata, a proposta foi rejeitada, o que demonstra a fragilidade da sustentação política do governo.

No terreno da economia real, Obama teve uma notícia boa e outra ruim ontem. As vendas no varejo no país tiveram o maior crescimento dos últimos sete meses em setembro (1,1%), com os consumidores deixando de lado preocupações sobre o sistema financeiro e a política e dando um pouco mais de força para a recuperação da economia. O setor que mais impulsionou o resultado foi o de automóveis. A confiança dos norte-americanos, porém, caiu inesperadamente no começo de outubro, com receios sobre o declínio da renda pessoal reduzindo as expectativas para o menor nível em 30 anos.

Frustração A Espanha não deverá alcançar este ano nem sua meta de crescimento econômico nem de redução do deficit, garantem analistas de mercado. A ministra da Economia, Elena Salgado, admitiu ontem que, se a previsão de expansão "fosse feita hoje", seria menor do que a de 1,3% ainda em vigor. "Tudo aponta para algo como 0,7%", disse Daniel Pingarrón, analista da IG Markets.

Capitalização, mesmo à força Se for necessário, alguns bancos europeus devem ser capitalizados à força, afirmou ontem o líder dos ministros das Finanças da Zona do Euro, Jean-Claude Juncker. "Bancos europeus, nem todos, mas alguns, devem ser capitalizados e serão", disse o economista à rádio Deutschlandfunk. "Os bancos privados devem saber que, se uma participação voluntária dos credores não basta e se nós (os governos) não estivermos de acordo com a oferta feita pelos bancos, será necessário contemplar participações não voluntárias." Juncker previu reações. "Soube que o Deutsche Bank é da opinião de que o dinheiro do Estado não é bem-vindo para todos. Mas, se houver necessidade de capitalização, nós faremos uma coordenação para que ela aconteça e para evitar qualquer risco de contágio da crise grega ao setor bancário."