Correio braziliense, n. 19344, 12/05/2016. Política, p. 14

Grupos organizados vão às ruas

Movimentos sociais, a maioria contra o impeachment, participaram das manifestações na Esplanada

Por: Camila Costa Gláucia Chaves

 

As manifestações que tomaram conta do Brasil desde 2013 mostraram que os movimentos sociais não estão necessariamente ligados à esquerda. Caso do movimento Avança Brasil Maçons. O grupo esteve presente em todos os protestos relacionadas ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. O analista de sistemas e coordenador da região do DF do movimento, Ricardo Honorato, 56 anos, diz que a convocação começou ainda em 17 de março, quando o grupo usou redes sociais para “chamar o maior número de pessoas possível”. Na votação passada, chegou a investir em três outdoors espalhados pela cidade. Para Honorato, a quantidade inferior de manifestantes na Esplanada, ontem, se deu devido à sensação de “já ganhou” e porque “muita gente trabalha amanhã”.

O recurso para bancar o trio elétrico que acompanhava o movimento, segundo Ricardo Honorato, veio do bolso dos integrantes. Ele próprio afirma ter vendido um carro e usado R$ 10 mil. Mesmo com a aprovação do impeachment, ele diz que os objetivos do Avança Brasil Maçons estão longe de serem alcançados. “Nosso trabalho não acabou. É feito desde 2013 e não existe só para tirar este governo. É para acabar com a corrupção.” A agenda do movimento continua em junho, com reivindicações como a CPI da UNE e o acompanhamento da Frente Parlamentar Cidadã. “O trabalho de mudança política ainda vai continuar por mais 10 anos. Este é só o primeiro passo.”

Outros grupos ocuparam a Esplanada em favor da presidente. Marco Xucuru é cacique e chefe da tribo pernambucana Xucuru, localizada a 214km de Recife. Com ele, 50 índios da tribo protestaram contra o impeachment. Para ele, a forma como o processo ocorreu é uma violação a democracia. “Meia dúzia de deputados diz representar uma presidente eleita pelo voto popular. Se estão insatisfeitos, que chamem novas eleições”, reclamou. Com a saída da presidente, Marco afirma que a população indígena vai “enfrentar e resistir”. “Temos feito isso ao longo desses 500 anos, assim como nossos ancestrais fizeram. Vamos permanecer lutando, pois é a única forma de sobrevivência do nosso povo.”

 

Vigilância

Membro do movimento Executiva Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Júlio Turra afirma que a militância pró-governo está em uma “vigília democrática contra o golpe”. Para ele, o governo Michel Temer não será legítimo. “É um golpe institucional com uma justificativa infundada. Já existe uma agenda preparada para dar continuidade à luta contra esse governo. Não vamos dar trégua um minuto sequer.”

Integrantes do Movimento Independente Cidade Alta, do Rio de Janeiro, distribuíram panfletos com críticas ao Congresso. Os cerca de 42 manifestantes reclamaram da privatização do pré-sal e da possibilidade de cortes nos direitos trabalhistas. Integrantes da Conferência Nacional de Política para as Mulheres também estiveram presentes. “Amanhã, teremos um novo país e não sabemos se vamos conseguir manter nossos direitos e liberdades individuais. Por isso, viemos mostrar apoio à presidente Dilma Rousseff”, apontou a professora e fotógrafa Mariana Janeiro, 24.

 

Pedaços de pau em ônibus

Três ônibus que chegavam do Rio de Janeiro pela DF-003 foram abordados pelo Batalhão de Policiamento Rodoviário (BPRv) da Polícia Militar próximo ao Catetinho. A ação ocorreu por volta de 9h30 de ontem. Cerca de 10 pedaços de pau e alguns canos estavam no coletivo, mas a política não deteve nenhum manifestante. Segundo a corporação, eles estavam a caminho da Esplanada dos Ministérios e eram contrários ao impeachment da presidente Dilma. A PM não informou se eles fazem parte de algum movimento social, partido político, ou de algum outro tipo de organização.

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