O Estado de São Paulo, n. 44800, 14/06/2016. Economia, p. B5

Petrobrás estuda redução de salário e de jornada

Novo presidente da estatal, Pedro Parente, pretende retomar o plano apresentado por seu antecessor e que foi recusado pelos sindicatos

Por: Antonio Pita e Fernanda Nunes

 

O novo presidente da Petrobrás, Pedro Parente, vai retomar o plano de reduzir saláriosem25% e a jornada de trabalho para seis horas diárias que o seu antecessor, Aldemir Bendine, não conseguiu executar. As mudanças fazem parte da proposta de acordo coletivo que começa a ser negociada e passará a valer em setembro, se a diretoria conseguir vencer a resistência dos sindicatos.

Em carta encaminhada aos funcionários, ontem, Parente se disse vítima de “ataques pessoais” de “órgãos sindicais”.

A redução dos custos trabalhistas é prioridade para Parente. O novo presidente deverá promover um “aperto geral” para organizar as finanças da petroleira, segundo um executivo ouvido pelo Broadcast, serviço de informação em tempo real da Agência Estado. Para o executivo, não estão previstas mais demissões, mas os empregados devem perder benefícios.

A ideia é propor os mesmos cortes apresentados no ano passado.

Os funcionários da área administrativa passariam a trabalhar 30 horas semanais, em vez das atuais 40 horas. A adesão seria voluntária, mas acarretaria um corte de 25% nos ganhos mensais e nos pagamentos de férias e décimo terceiro. Nas unidades operacionais, o turno passaria de 10 para 8 horas diárias e não haveria escolha.

Parente ainda não apresentou a proposta aos funcionários, mas está ciente de que enfrentará resistência.

Em novembro do ano passado, os petroleiros entraram em greve contra as mudanças nos benefícios trabalhistas. Na época, a empresa desistiu da proposta, o que gerou críticas a Aldemir Bendine no Conselho de Administração.

Na última sexta-feira, as centrais sindicais realizaram uma paralisação de advertência contra a nova gestão e o governo interino de Michel Temer (PMDB). Os atos afetaram ao menos sete plataformas. Os atos foram organizados pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), ligada à CUT, e que têm feito duras críticas ao novo presidente da estatal.

 

Confronto. Em resposta, Pedro Parente encaminhou ontem uma carta aos funcionários em que se diz vítima de “ataques pessoais” desde que seu nome foi anunciado para a empresa.

O executivo diz não ter “clareza das motivações” dos ataques e que as acusações não vão afastá-lo “do objetivo de recuperar a empresa”.

“Não desejo e não vou confrontar. Todos os que desejam que essa empresa se recupere, sem exceção, devem trabalhar conjuntamente para alcançar esse objetivo”, reforçou o executivo.

Segundo Parente, “divergências são naturais em qualquer processo democrático”, mas disse acreditar em “diálogos construtivos sem o apelo fácil a ataques pessoais”.

A aproximação com os trabalhadores foi uma estratégia nas primeiras semanas de trabalho na estatal. Parente teve uma agenda de diálogos com funcionários, sem participação de sindicatos.

Segundo a empresa, o objetivo era esclarecer questionamentos dos trabalhadores sobre temas como plano de desinvestimentos e pré-sal.

No comunicado, o executivo também responde a denúncias feitas pelos sindicatos sobre sua citação como réu em dois processos. No Supremo Tribunal Federal (STF), Parente responde por improbidade administrativa no caso Proer.

Em outra ação civil pública, o executivo é apontado como responsável por prejuízos na estatal quando integrava o conselho de administração. Parente diz que não há “qualquer acusação ou indicação de beneficiamento pessoal de qualquer natureza”.

 

Objetivo

“Todos os que desejam que essa empresa se recupere, sem exceção, devem trabalhar conjuntamente para alcançar esse objetivo”

Pedro Parente

PRESIDENTE DA PETROBRÁS

 

PARA LEMBRAR

Um dos pilares da reestruturação da Petrobrás, a revisão de benefícios e do número de trabalhadores ocorre desde a gestão de Aldemir Bendine, iniciada em 2015. O ex-presidente começou o ajuste na empresa com a redução de terceirizados, com o término de contratos com diversas prestadoras de serviço. Em seguida, cortou mais de 50% de cargos de funções gerenciais, também como parte do esforço para reduzir custos. Em abril, Bendine aprovou o novo Plano de Demissão Voluntária (PDV), para cortar até 12 mil funcionários efetivos, mesmo aqueles que ainda não têm idade ou tempo de serviço para se aposentar. O objetivo é economizar até R$ 33 bilhões até 2020. O plano, ainda aberto, é o segundo feito pela estatal em dois anos. A Petrobrás tem cerca de 78 mil funcionários.