Título: Terceirizado do Senado sem salário
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 15/10/2011, Economia, p. 20

Funcionários da empresa Steel que prestam serviços à gráfica da Casa não receberam o pagamento de setembro nem os benefícios

A farra das empresas terceirizadas bateu à porta do Senado e atingiu os empregados da gráfica da Casa. Ao menos 113 trabalhadores do setor contratados pela Steel Serviços Auxiliares amargam, desde junho, atrasos de pelo menos uma semana no pagamento e no depósito do auxílio-alimentação e do vale-transporte. Além do calote, os funcionários reclamam de ameaças de demissão quando não podem ir ao trabalho por não terem como arcar com os custos do transporte. Até ontem, eles não haviam recebido o salário referente ao mês de setembro.

"Dizem que, se pararmos, seremos demitidos. Além disso, não podemos marcar férias, pois a empresa afirma que não poderá depositar o valor referente a um terço do pagamento no prazo estabelecido em lei. É uma falta de respeito com os terceirizados. Todos nós trabalhamos muito, mas não somos valorizados", relatou uma funcionária que preferiu não se identificar. "Todo mundo está com dificuldades para pagar as contas de casa. Temos cheques devolvidos e não podemos fazer nada. Quando pedimos alguma satisfação, dizem apenas que temos de aguardar", afirmou outro trabalhador.

No momento em que o concurso público do Senado, prometido para este ano, foi adiado em função da reforma administrativa em curso na Casa, a gráfica continua entre os setores que apresentam os maiores problemas na área de recursos humanos. O gestor do contrato com a Steel, André Luiz Santana, explicou que, desde maio, o órgão público começou a reter as faturas da empresa terceirizada porque, além de não realizar o pagamento do salário em dia, a empresa não estava efetuando o depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) integralmente nem repassando ao governo a contribuição do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Licitação O Senado passou a efetuar o pagamento diretamente aos terceirizados. "O problema é que isso leva tempo. Primeiro, esperamos até o 5º dia útil para ver se a empresa pagou em dia. Então, iniciamos o procedimento", explicou Santana. Ele informou que fez a ordem bancária para o pagamento referente a setembro no último dia 11, mas o dinheiro não foi creditado devido à greve dos bancários. "O contrato da Steel vai até 31 de janeiro. Mas, diante da situação, já fizemos uma nova licitação para contratar outra empresa", adiantou. A Steel Serviços não foi encontrada pela reportagem para explicar os atrasos.

Escândalos Esse não é o primeiro problema enfrentado com a Steel Serviços Auxiliares. Entre 2008 e 2009, a empresa foi envolvida em uma série de escândalos de corrupção. As denúncias são de que a firma era usada para abrigar aliados, parentes e cabos eleitorais de parlamentares. Todas as contratações eram controladas pelo então diretor-geral da casa, Agaciel Maia, hoje deputado distrital. Até mesmo um sobrinho do ex-dirigente, Jerian Maia dos Santos, foi empregado na gráfica do Senado por meio da Steel.