O Estado de São Paulo, n. 44791, 05/06/2016. Política, p. A4
Lava Jato chega a Dilma e fortalece base de Temer
Menção à presidente afastada em delação de Marcelo Odebrecht faz líder do governo no Senado pedir a inclusão das informações no processo de impeachment da petista
O conteúdo inicial da delação premiada do executivo Marcelo Odebrecht causou impacto na ação do impeachment, em trâmite final no Senado, e deverá fortalecer a base governista na tentativa de acelerar o desfecho do processo. As informações prestadas pelo empreiteiro à Operação Lava Jato envolvem diretamente a presidente afastada Dilma Rousseff.
A ação de afastamento tem por base as pedaladas fiscais e ainda precisa ser votada novamente no Senado (mais informações no placar do impeachment na pág. 7). Porém, a própria defesa de Dilma tentou incluir semana passada no processo elementos da Operação Lava Jato, que apura desvios na Petrobrás. A petista buscava ganhar tempo, enquanto a base governista no Senado quer acelerar o desfecho desta etapa final do trâmite.
Até anteontem, a estratégia de Dilma e do PT era protelar o impeachment apostando no desgaste do presidente em exercício Michel Temer por conta das revelações do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado na Lava Jato, que atingem aliados importantes de Temer no PMDB, como o senador Romero Jucá (RR). A divulgação das primeiras revelações de Odebrecht, no entanto, ampliaram o fogo sobre Dilma e forneceram munição para o Planalto.
O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), defendeu ontem a inclusão das informações prestadas por Odebrecht como prova no processo de impeachment. Para o tucano, as declarações do empresário deverão ajudar a convencer senadores indecisos de que a petista não tem condições de voltar a comandar o País.
Segundo reportagem da revista IstoÉ, em acordo de confidencialidade com a Operação Lava Jato, Odebrecht disse que Dilma pediu pessoalmente uma doação de R$ 12 milhões para sua campanha eleitoral em 2014. Conforme a publicação, o empreiteiro diz que o então tesoureiro da campanha, Edinho Silva, solicitou o montante, mas Odebrecht se recusou a pagar. O empresário, então, teria procurado Dilma, que teria afirmado: “É para pagar”.
“Essas declarações ajudam a formar a convicção de que ela não pode permanecer na Presidência. É mais uma elemento para corroer aquela fímbria de autoridade que ela tinha”, disse Aloysio. Para o senador, as afirmações de Odebrecht devem ser levadas em consideração no julgamento do impeachment. “Isso contribui para desmoronar aquela imagem virginal que ela o PT construíram dela e da gestão dela”.
De acordo com a revista Veja, Odebrecht também afirmou que a reeleição de Dilma foi financiada com propina depositada em contas no exterior.
Áudios. Na avaliação de Aloysio Nunes, o próprio advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, abriu espaço para essa inclusão, ao pedir ontem na comissão do impeachment do Senado a inclusão como prova dos áudios em que Jucá defende estancar as investigações da Lava Jato. “Já que é para falar do conjunto da obra, fica evidente que (a declaração de Odebrecht) deve ser levada em consideração.” Na sessão da comissão do impeachment do Senado, na quinta-feira, o pedido de Cardozo foi negado pelo relator do processo, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). O tucano mineiro sustentou que os áudios de Jucá são estranhos ao processo. “Os áudios não são fatos novos, não alargam o objeto. Não são estranhos ao processo, eles são o processo”, rebateu o advogado de Dilma.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), disse que Dilma Rousseff deveria renunciar ao cargo e “poupar o Brasil” da espera pelo desfecho do processo de impeachment. “Já existiam insinuações nesse sentido e agora vem a comprovação final da participação direta da presidente da República em todos esses atos irregulares e criminosos na operação da Petrobrás”, afirmou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que as acusações de Marcelo Odebrecht sobre pedido de doação ilegal para a campanha da presidente afastada reforçam a tese de cassação da chapa das eleições presidenciais de 2014 formada pela petista e por Temer.
“Se confirmado, isso contamina a chapa. Afinal, Temer não seria presidente interino se Dilma não tivesse sido eleita”, afirmou Randolfe. Para o senador, a declaração de Odebrecht reforça a necessidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgar logo o caso. A chapa Dilma-Temer é alvo de quatro ações ajuizadas pelo PSDB, pedindo a cassação por abuso de poder econômico nas eleições presidenciais de 2014.
OUTRAS CITAÇÕES
Refinaria de Pasadena
Ex-diretor da Petrobrás e delator, Nestor Cerveró disse que Dilma sabia de detalhes do negócio que deu prejuízo à estatal. Segundo ele, Dilma, que presidia o Conselho de Administração da Petrobrás na época, mente ao dizer que só aprovou a compra porque desconhecia cláusulas do contrato.
Despesas
Segundo o jornal O Globo, documentos em posse da Procuradoria-Geral da República apontam que o esquema na Petrobrás pagou despesas pessoais de Dilma, como custos do cabeleireiro da petista, cujas viagens a Brasília custavam cerca de R$ 5 mil.
Judiciário
O ex-senador e delator Delcídio Amaral (foto) acusou Dilma de, por meio de uma indicação para o Superior Tribunal de Justiça, tentar barrar as investigações da Operação Lava Jato.
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O ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Edinho Silva divulgou em seu blog, Dialogando, nota contendo reportagem da revista Isto E. Segundo ele, trata-se de "acusação leviana de ter pedido recursos por caixa 2 para a campanha da presidenta Dilma nas eleições de 2014".
Após avisar que "tomará as medidas jurídicas cabíveis contra a publicação", o petista disse que o diálogo entre ele c o empresário Marcelo Odcbrecht, "descrito pela matéria, relatado em uma suposta delação premiada, nunca existiu. É mentira". Para Edinho, "o fecho da matéria de monstra seu único objetivo: atacar a presidenta Dilma" e que, com isso, o objetivo é tentar "impedir a presidenta de voltar ao cargo para o qual foi legitimamente eleita.
O texto da revista serviria perfeitamente a um panfleto produzido por um partido de oposição ao mandato da presidenta". Procurada, a assessoria da presidente afastada Dilma Rousseff disse que não conseguiu falar com ela.
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As informações contidas na delação do empresário Marcelo Odebrecht estão sendo encaradas no Judiciário como uma peça-chave para amarrar as pontas das investigações e acenar para um fim da Operação na Lava Jato.
Segundo interlocutores dos ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos pelo Estado, os detalhes da suposta negociação direta entre Dilma Rousseff e Odebrecht para que o empreiteiro pagasse R$12 milhões à campanha presidencial eram o que faltava para ensejar a possível última linha de investigação nas operações.
Dilma é alvo no STF de um pedido, foi anulado pelo procurador- geral da República, Rodrigo Janot, para que ela seja investigada por tentativa de obstruir as investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobrás. Ocaso está sob análise do ministro Teori Zavascki e ainda não foi oficialmente aberto na Corte.