O Estado de São Paulo, n. 44791, 05/06/2016. Política, p. A5

Lula escalou Dutra para ‘esvaziar’ CPI, diz Cerveró

Segundo delator, ex-senador recebeu a ‘missão’ por ter ‘facilidade de diálogo’

Por: Ricardo Brandt/ Isadora Peron/ Gustavo Aguiar

 

Em delação premiada, tornada pública pelo Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira, 2,, o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional) afirmou que em 2009 o então presidente Lula escalou o ex-senador José Eduardo Dutra (PT/SE) para ‘esvaziar’ a Comissão Parlamentar de Inquérito aberta para investigar desvios na estatal petrolífera.

Dutra havia sido presidente da Petrobrás (2003/2005), no primeiro mandato do petista. Ele havia exercido o mandato de senador pelo partido entre 1995 e 2003. Entre 2010 e 2011 presidiu o PT. Dutra morreu em 2015, aos 58 anos.

“Em 2009, foi instalada no Congresso Nacional uma CPI sobre a Petrobrás”, relatou Cerveró, no dia 7 de dezembro de 2015. “Na época, José Eduardo Dutra era o presidente da BR Distribuidora. Em razão da CPI, o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu a José Eduardo Dutra a missão de participar do ‘esvaziamento’ da CPI da Petrobrás.”

“Que, então, para cumprir essa missão, José Eduardo Dutra deixou a presidência da BR Distribuidora”, diz o termo de declaração de Cerveró. Segundo o delator, Dutra, embora não fosse mais senador, “era muito bem conceituado como político, tendo facilidade de diálogo, inclusive com a oposição”.

Outro delator da Lava Jato, o engenheiro Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, revelou aos investigadores que mandou pagar R$ 10 milhões a um dos integrantes da CPI, o ex-senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), morto em 2014. A comissão foi encerrada em 18 de dezembro de 2009. Guerra era um dos 11 integrantes do colegiado– três eram da oposição e acusaram, na ocasião, o governo de impedir as apurações.

Ao ser instalada, a CPI mirava em sete empreendimentos da Petrobrás, entre eles as obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco – primeiro alvo da Lava Jato na Petrobrás.

A revelação de Cerveró sobre o suposto empenho de Lula em “esvaziar” a CPI da Petrobrás está no Termo de Colaboração 11/12, que aborda o tema “Indicação para a Diretoria da BR Distribuidora e distribuição de atividades na BR Distribuidora”.

Nesse trecho da delação de Cerveró, os investigadores registram que, em 2008, o executivo foi exonerado da Diretoria Internacional da Petrobrás, mas, em razão de Cerveró ter viabilizado a contratação da Schahin como operadora da sonda Vitória 10.000 – quando ainda ocupava aquele posto –, “havia um sentimento de gratidão do Partido dos Trabalhadores para com o declarante”.

 

Empréstimo. Cerveró apontou detalhes desse capítulo emblemático do PT, alvo de uma das etapas da Lava Jato–o empréstimo de R$ 12 milhões que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, tomou no banco Schahin, em outubro de 2004.

Segundo Bumlai, o PT foi o destinatário do montante. A força tarefa da Lava Jato afirma que, em troca, a Schahin ganhou contrato com a Petrobrás de US$ 1,6 bilhão, em 2009,para operar o navio-sonda Vitória 10.000.

“Essa contratação objetivava a quitação de um empréstimo do PT, perante o banco Schahin, garantido por José Carlos Bumlai”, diz o termo de declaração de Cerveró. “Como reconhecimento da ajuda do declarante nessa situação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu indicar o declarante para uma diretoria da BR, a Diretoria Financeira e de Serviços.” O Estado procurou o Instituto Lula, mas até a conclusão desta edição não obteve resposta.

Órgãos relacionados:

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Pinheiro cita petista e propina em obra de Aécio Neves

 

Reportagem da revista Veja publicada ontem informa que o ex-executivo da OAS Léo Pinheiro afirmou, em negociação para um acordo de delação premiada, que a reforma feita pela empreiteira no sítio de Atibaia (SP) utilizado por Luiz Inácio Lula da Silva foi realizada a pedido do ex-presidente.

De acordo com a publicação, Pinheiro relatou ter feito melhorias no sítio, que a força-tarefa da Operação Lava Jato sustenta ser de Lula, como campo de futebol e tanque para a criação de peixes.

As reformas contaram também com a participação da Odebrecht, disse Léo Pinheiro. Ele também teria fornecido detalhes da obra no tríplex do condomínio Solaris, no Guarujá (SP), onde a família de Lula possuía a opção de compra do imóvel.

Tríplex. Ainda segundo a revista, Lula só desistiu do tríplex quando a negociação começou a ser investigada pela Lava Jato.

A defesa do ex-presidente nega que ele seja proprietários do sítio e do tríplex.

Léo Pinheiro também teria  feito revelações sobre a obra do Centro Administrativo de Minas Gerais, na gestão do então governador Aécio Neves (PSDB). Segundo o ex-executivo da OAS, o contrato da obra envolveu 5% de propina. Esse porcentual teria sido repassado a Aécio, que nega a acusação.

Léo Pinheiro foi condenado a 16 anos e quatro meses de pri- são por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás e aguarda decisão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). A corte tem confirmado decisões tomadas pelo juiz Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na 1.ª instância.

Léo Pinheiro foi preso preventivamente na Lava Jato em novembro de 2014, juntamente com outros empreiteiros do País, e solto posteriormente. Ele é apontado com um dos executivos mais próximos do mundo político.

 

Tucano

O ex-presidente do PSDB de Minas Gerais, Nárcio Rodrigues, teve a prisão prorrogada por mais cinco dias pela Justiça em Frutal, no Triângulo Mineiro, a pedido do Ministério Público Estadual (MPE). Ele foi secretário da gestão Antonio Anastasia.

Senadores relacionados: