O Estado de São Paulo, n. 44795, 09/06/2016. Economia, p. B3

Indicação política é regra nos Correios

No atual quadro de diretores da empresa, a maior parte foi indicada pelo PDT, do ex-ministro das Comunicações André Figueiredo

Por: Murilo Rodrigues Alves

 

Experiência em logística passou longe dos critérios para a distribuição dos cargos da direção dos Correios pelo PDT, partido do ex-presidente da estatal Giovanni Queiroz, médico e fazendeiro, e do ex-ministro das Comunicações André Figueiredo. O presidente interino, Heli Siqueira de Azevedo, também fazendeiro e do mesmo partido, já foi autuado por irregularidades trabalhistas em sua propriedade rural em Minas Gerais, antes de assumir cargo de superintendente do Ministério do Trabalho.

Na cúpula da estatal, todos têm indicação de um partido, até mesmo o único que é funcionário de carreira. Dois advogados, sem nenhuma experiência na área, comandam as áreas de encomendas e negócio postal. Um dentista, indicado pelo PT, era responsável pela área de tecnologia há até pouco tempo.

Manoel Dias, ex-ministro do Trabalho da gestão Dilma Rousseff, assumiu em janeiro a presidência da Correios Par, subsidiária que seria responsável pelos novos negócios que a estatal foi autorizada a entrar, como companhia de transporte aéreo de carga, telefonia virtual móvel e até um banco.

Quando assumiu o cargo, Giovanni Queiroz decidiu cortar o próprio salário e dos demais diretores em 30%, mas a direção da empresa voltou atrás na medida no mês passado. O presidente voltou a ganhar R$ 46 mil e os vices, R$ 40 mil cada um. O ex-presidente dos Correios tinha tomado a iniciativa depois que se sentiu pressionado com o corte do salário da presidente afastada Dilma Rousseff e dos ministros. O argumento para a volta é que a nova direção, que ainda vai assumir, precisa de salários semelhantes aos de mercado para atrair bons executivos para a estatal.

 

Regras. Nesta semana, o presidente em exercício, Michel Temer, suspendeu as nomeações para estatais e fundos de pensão até a aprovação pelo Congresso dos projetos que endurecem regras para barrar a nomeação de políticos para os cargos.

No entanto, os partidos da base do governo na Câmara devem afrouxar as regras que foram aprovadas pelo Senado. Por exemplo: a exigência de um intervalo de três anos, no mínimo, para que um dirigente partidário ou sindical assuma uma vaga de presidente, diretor ou conselheiro de administração de uma estatal. Com as mudanças, bastaria aos indicados deixar as funções antes de serem nomeados.

A regra do Senado inviabilizaria a posse do ex-deputado Guilherme Campos, escolhido pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, para a presidência dos Correios. Campos, que tem larga experiência como comerciante em Campinas, está no exercício da presidência do PSD. Também deve ser retirada a exigência de que os indicados tenham dez anos de experiência no setor, assim como não será mais preciso cumprir todas as exigências, mas apenas uma delas. Com as alterações, o texto deve voltar ao Senado. Campos terá dois testes de fogo logo após assumir o cargo. Terá de comandar a renegociação dos salários dos quase 120 mil funcionários. A data-base da categoria é em agosto. Os servidores são representados por 36 sindicatos. A estatal ainda é responsável por toda a logística dos Jogos Olímpicos, também em agosto.

O novo presidente também precisará dar solução para outros dois problemas: o Postalis, fundo de pensão dos funcionários da estatal, que também fechou nos últimos anos com rombos bilionários, e a Postal Saúde, plano de assistência médica dos servidores, que está sendo investigada pela Operação Lava Jato.

 

DIREÇÃO DOS CORREIOS

Cargo, indicação e formação

 

Heli Siqueira de Azevedo

Presidente interino e vice-presidente de gestão de pessoas; indicado pelo PDT; Administração

Gerson Carrion de Oliveira

Vice-presidente de Finanças e Controles Internos; indicado pelo PDT; Administração

Andréa Almeida Mendonça

Vice-presidente de Serviços; indicada pelo PDT; Administração

Swedenberger Barbosa

Vice-presidente Corporativo; indicado pelo PT; Odontologia

Ney Jorge Campello

Vice-presidente da Rede de Agências e Varejo; indicado pelo PCdoB; Direito

José Furian Filho

Vice-presidente de Logística; indicado pelo PMDB; Administração Postal e Engenharia Elétrica

Fabiano de Cristo Cabra

Vice-presidente de Encomendas; indicado pelo PDT; Direito

Rodolfo Ramalho

Catão Vice-presidente do Negócio Postal; indicado pelo PDT; Direito

Manoel Dias

Diretor-presidente da CorreiosPar (braço financeiro da estatal); indicado pelo PDT; Direito

 

PARA LEMBRAR

Os Correios fazem parte de uma lista de empresas estatais que a equipe do governo Michel Temer pretende privatizar. A ideia seria vender uma parte da participação da União na companhia e reforçar o caixa do Tesouro com os impostos arrecadados com a operação. No entanto, para isso, a empresa teria de passar por forte processo de saneamento para torná-la mais atrativa ao mercado. Não é a primeira vez que se fala em abertura de capital dos Correios. Há dez anos, na esteira do mensalão – com a empresa no centro de acusações de corrupção – , o então ministro das Comunicações, Hélio Costa, contava com uma abertura de capital para a “reestruturação” da empresa.

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