Título: Dengue: drama que se repete
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Fonte: Correio Braziliense, 15/10/2011, Opinião, p. 22

As recentes ameaças de nova epidemia de dengue no país puseram em alerta as autoridades de saúde pública em razão, sobretudo, da volta de dois tipos de vírus da doença, o 1 e o 4, que não eram detectados há quase 30 anos no Brasil e para os quais a população está indefesa porque nunca teve contato com eles. As armas principais contra o mosquito transmissor e o seu poder devastador são as mais simples e tradicionais — como evitar acúmulo de água em vasos e outros recipientes e manter ralos domésticos limpos —, embora a mais poderosa seja a própria consciência coletiva sobre a presença de um mal que já ceifou milhares de vidas no território brasileiro.

Uma das medidas que conferem a gravidade da situação é a liberação emergencial de verbas pelo Ministério da Saúde, para o controle da dengue, além dos recursos já destinados ao combate de doenças no país. No caso do Distrito Federal, o caixa da Secretaria de Saúde receberá reforço de R$ 2,2 milhões. Esse montante virá se somar, a partir de novembro, aos R$ 11,2 milhões já repassados mas que ainda não foram totalmente gastos por falta de projetos. No entanto, não é apenas com dinheiro que se soluciona problema de saúde coletiva tão sério.

A dengue no DF registrou 1,4 mil casos somente nos primeiros nove meses deste ano, e a tendência é de agravamento da situação, quando se sabe que a capital e o Entorno não são invulneráveis aos dois novos vírus atuantes (tipos 1 e 4), os quais já foram identificados no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Mato Grosso do Sul. O ponto central da questão sobre a melhor maneira de enfrentar a doença é a montagem de uma ação coletiva permanente de alerta sobre um cenário epidemiológico sombrio, que se renova a cada ano e que promete reeditar incômodas taxas de contaminação e de óbitos, não apenas no DF, mas em todo o país, caso as autoridades não tomem providências.

Nesse sentido, a dengue no Brasil reflete a imagem da Espada de Dâmocles — aquela que vem do passado e que gira em cima da cabeça de um povo medindo o tamanho da sua fragilidade diante de uma crise. A imagem serve então para expor o grau de insegurança dos governantes e gestores da saúde em relação a estratégias de ação todas as vezes que o fantasma da dengue volta a assustar o país. Nesse contexto, é preciso destacar ainda que a liberação de verbas do Ministério da Saúde está condicionada à elaboração de projetos — inexistentes em várias unidades da Federação — que definam planos de combate e fiscalização da doença, vigilância epidemiológica e assistência ao paciente.