Aliado de Marina nega caixa 2 e ameaça processar delator

15/06/2016

 

Em carta enviada a amigos e divulgada ontem pelo colunista Lauro Jardim, do GLOBO, o empresário Guilherme Leal disse que irá processar o ex-presidente da OAS Adelmário Pinheiro, o Leo Pinheiro, caso ele confirme, em depoimento, que intermediou uma contribuição para a campanha de Marina Silva, em 2010, pelo caixa dois. A informação, dada por Leo Pinheiro durante negociação de delação premiada, foi publicada domingo no GLOBO.

“Indignado, quero registrar aqui meu repúdio à mentira e à covardia deste tipo de ataque à minha honra, bem como à de meus companheiros de jornada. Refuto, surpreso com a ousadia e a desfaçatez, as supostas alegações veiculadas pela imprensa neste final de semana (...) É mentira”, escreveu Leal.

No texto, o empresário admite ter se reunido com Leo Pinheiro em São Paulo, no primeiro semestre de 2010, na companhia do ex-deputado federal do PV Alfredo Sirkis. Na ocasião, teriam apresentado a candidatura de Marina. No entanto, ambos afirmam que não houve menção a caixa dois na conversa.

“Disse-lhe expressamente que eventual contribuição seria bem-vinda, sem qualquer contrapartida ou compromisso e nos estritos termos da lei”, escreveu Leal na carta enviada aos amigos.

Em nota divulgada domingo, Sirkis disse que, depois da conversa, a OAS fez uma doação legal de R$ 400 mil para a campanha, encaminhada ao Comitê Financeiro do PV no Rio. O valor, pago em duas parcelas, está registrado no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“As doações serviram para apoiar a campanha presidencial no Estado do Rio de Janeiro, a de governador, de deputados federais e estaduais, que funcionaram naquela eleição com uma logística unificada (material, pesquisas, rádio e TV)”, escreveu Sirkis, na nota de domingo. “Não cabe a insinuação de que a campanha de Marina tenha recebido quaisquer doações ilegais”.

Segundo o jornal “Folha de S.Paulo”, Léo Pinheiro teria alegado, na tentativa de fechar a delação, que Marina não queria ser vinculada a empreiteiras, e por isso teria ocorrido a colaboração por caixa dois. Naquele ano, a candidata e seu partido receberam diversas contribuições em caixa um de empresas como Vale (R$ 1,1 milhão) Andrade Gutierrez (R$ 1,1 milhão), Camargo Correa (R$ 1 milhão), Construcap (R$ 1 milhão) e Odebrecht (R$ 550 mil).

Na carta, Leal disse entender que o fato de “agir pensando no todo e não somente nos próprios interesses”, e sua convicção de participar da “construção de um Brasil mais justo, próspero, democrático e sustentável”, são coisas que incomodam. “Infelizmente, no Brasil de hoje há uma clara tentativa de alguns de colocar todos na vala comum”, escreveu o empresário.

“Querem afirmar que todos são iguais, todos são corruptos, e não há o que fazer além de se conformar e, consequentemente, buscar um grande acordo para que todos se salvem. Para se safar, ou sabe-se lá com quais outros objetivos, querem sequestrar minha reputação nesta rota de fuga da prisão. Não o farão”, continuou o empresário, na carta enviada a amigos.

Leal também escreveu esperar que “tudo seja devidamente apurado pela Justiça”. No texto, disse não saber “a quem serve esta suposta tentativa de atacar reputações e colocar pessoas honradas em uma vala comum”. Para ele, isto é algo que “não serve ao país”.

Em visita ao Espírito Santo, ontem, Marina Silva voltou a negar ter recebido recursos da OAS por meio de caixa 2 em sua campanha. De acordo com a rádio CBN Vitória, ela disse nunca ter se reunido com Leo Pinheiro, e repetiu que o diretório fluminense do PV, sigla pela qual foi candidata à Presidência naquele ano, recebeu recursos da OAS.

— Não tenho R$ 1 sequer de dinheiro ilegal na minha campanha e nem finalidade ilegal. Não me reuni com o senhor Leo Pinheiro. O PV teve uma doação. Segundo os dirigentes do partido, todo o processo está declarado — afirmou a ex-senadora.

Pelas redes sociais, Marina afirmou, no último domingo, que Guilherme Leal “sempre foi fiel ao compromisso ético e à orientação política de que todos os recursos de financiamento de campanha teriam origem e uso inteiramente legais”.

Marina afirmou também torcer para que as autoridades “deem a devida atenção a essa acusação”. E disse poder assegurar que “neste momento em que a sarjeta da política já esta repleta de denunciados, o melhor caminho é confiar no trabalho do MP e da Polícia Federal. Por isso, reitero meu apoio e confiança no trabalho da Justiça”.

 

O globo, n. 30263 , 15/06/2016. País, p. 10.