O Estado de São Paulo, n. 44795, 09/06/2016. Política, p. A7

Delator diz que pagou campanha do PT

Lobista Zwi Skornicki fecha acordo e propõe relatar depósitos de US$ 4,5 mi para marqueteiro que cuidou da reeleição de Dilma, diz jornal

 

O lobista ZwiSkornicki, apontado como operador de propinas pela Operação Lava Jato, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Preso desde 23 de fevereiro deste ano, Skornicki repassou US$ 4,5 milhões para a conta secreta na Suíça do marqueteiro do PT João Santana – preso com a mulher, Mônica Moura, em Curitiba.

Informação veiculada ontem no site do jornal O Globo diz que o novo delator revelou que o valor foi solicitado pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para ajudara financiara campanha de reeleição de Dilma Rousseff.

Entre 2013 e 2014, Skornicki recebeu comissões milionárias pelo seu trabalho de intermediador de contratos das empresas Queiroz Galvão, Iesa, Saipem, Ensco e UTC–as quatro primeiras negam irregularidades. Há ainda pagamentos regulares por outras que não são alvo da Lava Jato, como a Siemens, Doris, Megatranz, Frasopi e Sotreq.

A força-tarefa chegou aos US$ 4,5 milhões transferidos pelo lobista para João Santana analisando os recebimentos da conta mantida por ele no Banque Heritage, na Suíça, em nome da offshore Shellbill Finance SA. Ao todo, foram identificados nove depósitos na Shellbill, que passaram pela agência do Citibank em Nova York, tendo como pagador contas de outra offshore, a Depp Sea Oil, que pertence a Skornicki. Ele é réu em ação penal na Lava Jato.

A força-tarefa aponta propinas nos contratos da Petrobrás com a empresa de Cingapura Keppel Fels e também nos contratos da Sete Brasil com o estaleiro da Keppel que teriam somado US$ 216milhões em propinas.

No caso da Petrobrás, foram apontadas propinas de 1% para a Diretoria de Serviços que somaram R$ 30,4 milhões nos contratos de construção das plataformas P-51, P-52, P-56 e P-58, em 2003,2004,2007e 2009, respectivamente.

Apesar de firmados com a Diretoria de Exploração e Produção, segundo o MPF, os contratos envolveram pagamentos de propina à Diretoria de Serviços, pela qual passavam os contratos e era cota do PT.

Desse porcentual da propina, metade ia para a “casa”, referência ao então diretor Renato Duque e ao gerente Pedro Barusco, ambos presos e condenados na Lava Jato, e a outra metade para o PT, via Vaccari. Nessa acusação, porém, o MPF diz que parte da propina devida ao PT foi descontada por meio de pagamentos à conta Shellbil, mantida por Santana e Mônica na Suíça e que só foi declarada após a Lava Jato. Esses pagamentos da Keppel teriam sido intermedia dos por Skornicki.

Defesas. Em nota divulgada por sua assessoria, a presidente afastada rechaçou o que chamou de “insinuação” de que teria conhecimento do suposto pedido de Vaccari para Skornicki. “É público e notório que o tesoureiro da campanha da reeleição foi o ex-ministro Edinho Silva. Ele é quem tratava da arrecadação para a campanha em 2014.Todas as doações de empresas foram legais e estão na prestação de contas aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral”, diz a nota, que fala em “campanha caluniosa de uma parte da imprensa contra a honra” de Dilma.

O criminalista Luiz Flávio Borges D’Urso, defensor de Vaccari, rechaçou a denúncia de ZwiSkornicki.

“Inicialmente, eu afirmo que isso não procede. Não passa de palavra de delator, sem nenhuma comprovação ou credibilidade.

Até porque o sr. Vaccari era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, jamais tendo funcionado como tesoureiro de campanha de quem quer que seja.” O Estado não localizou ontem o advogado André Augusto Mendes Machado, que defende o lobista, e a defesa dos outros citados.

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Pena de ex-presidente da OAS pode crescer 10 anos

Por: Mateus Coutinho/ Julia Affonso / Ricardo Brandt

 

A 8.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) começou a julgar ontem, 08, um recurso da defesa da cúpula da OAS contra a condenação imposta em agosto de 2015 do juiz Sérgio Moro, que sentenciou à prisão os executivos ligados à empreiteira por envolvimento em corrupção na Petrobrás. Dos três desembargadores da Turma, dois votaram para aumentar em 10 anos a pena de Leo Pinheiro, ex-presidente do grupo, sentenciado por Moro a 16 anos e 4 meses de prisão.

O terceiro desembargador a votar, porém, pediu vista do processo e a análise do caso ainda não tem data para ser retomada. Na sessão de ontem, a maioria da Turma também votou pelo aumento em 10 anos da pena do ex-diretor da área Internacional da OAS, Agenor Medeiros. Além disso, os dois desembargadores votaram pela absolvição de dois executivos ligados à empreiteira e mantiveram a condenação de outro. Com o pedido de vista o julgamento segue indefinido, pois os magistrados podem mudar o voto.

Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de determinar o cumprimento das penas dos condenados em segunda instância, o julgamento do TRF-4 é decisivo para Léo Pinheiro, pois pode levá-lo à cadeia. O ex-presidente da OAS está fazendo delação premiada na Lava Jato. A defesa da empreiteira não quis comentar o caso.

 

Força-tarefa. O Conselho Superior do Ministério Público Federal autorizou anteontem a criação de uma força-tarefa para atuar nos desdobramentos da Lava Jato que tramitam na Procuradoria da República do Rio de Janeiro. / MATEUS COUTINHO, ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA, JULIA AFFONSO e RICARDO BRANDT. COLABOROU ISADORA PERON

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'Japonês da Federal' acaba preso pela PF

Agente famoso pelas escoltas na Lava Jato foi condenado por facilitar contrabando do Paraguai

Por: Ricardo Brand/ Julia Affonso/ Mateus Coutinho /Fausto Macedo

 

O agente Newton Ishii, da Polícia Federal, foi preso anteontem em Curitiba em cumprimento ao mandado expedido pela 4.ª Vara Federal de Foz do Iguaçu.

Ishii ficou conhecido como “o japonês da Federal” ao escoltar presos e investigados da Operação Lava Jato.

Atualmente no cargo de chefe substituto de Operações Especiais da Polícia Federal em Curitiba, ele fica lotado na sede da PF na capital paranaense e é responsável pela logística e escolta de presos. Ele estava trabalhando ontem quando foi notificado da decisão e se entregou espontaneamente.

Diferente dos presos da Lava Jato que ele ajudou a conduzir para a PF em Curitiba ao longo das 30 fases da emblemática operação de combate à corrupção, Ishii está em uma sala separada na sede da Polícia Federal e não na carceragem.

O “japonês da Federal” esteve entre os assuntos mais falados no Twitter na manhã de ontem.

O agente virou motivo de memes e piadas na rede. Vários selfies de políticos com o agente federal feitos no passado foram ironizados ontem nas redes sociais, como o dos deputados Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Tiririca(PR-SP). Figura presente nas fotos das conduções de presos da Lava Jato, Ishii ganhou marchinha de carnaval neste ano, boneco de Olinda e máscara de papel.

Contrabando. Ishii foi condenado em 2009 pela Justiça Federal no Paraná por corrupção e descaminho, ao facilitar a entrada no Brasil de produtos contrabandeados do Paraguai. A condenação foi mantida pelo Superior Tribunal de Justiça em março deste ano, que determinou pena de quatro anos e dois meses de prisão, o que, na prática, permite que ele cumpra sua condenação já no regime semiaberto.O cumprimento da pena, contudo, ainda precisa ser definido pelo juiz de Foz do Iguaçu.

O agente foi um dos 23 policiais federai salvos da Operação Sucuri, deflagrada em 2003 para apurar um esquema formado por agentes da Polícia Federal e da Receita Federal que facilitavam o contrabando de produtos ilegais na fronteira com o Paraguai em Foz do Iguaçu.Ishii responde a três processos, derivados da Sucuri, sendo um na esfera criminal, outro administrativo e um terceiro por improbidade administrativa.

Homenagem. Enquanto autores de marchinhas de carnaval atualizam letras que tratavam Ishii como herói, convertendo-o agora em alguém que se “deu mal”, a Federação Nacional dos Policiais Federais divulgou ontem nota de apoio ao agente. A entidade se diz “surpresa” com a prisão dele, alegando que ainda há recursos possíveis e afirma ainda que vai apoiá-lo no que for necessário. “Estamos lutando para que se faça justiça ao Newton e sua família, posto que ele já vem sendo punido injustamente há muitos anos, mesmo após árdua luta para provar sua inocência”, afirma o presidente da Fenapef, Luís Boudens. Procurado, o advogado de Newton Ishii não foi localizado. / JULIA AFFONSO, FAUSTO MACEDO, MATEUS COUTINHO e RICARDO BRANDT

MEMES

A notícia da prisão do agente federal Newton Ishii, o “Japonês da Federal”, inundou a rede de memes. Chegou a ser um dos assuntos mais falados do Twitter na manhã de ontem. O agente virou motivo de memes e piadas. Uma das montagens mais replicadas foi feita com a foto do marqueteiro João Santana, responsável pelas campanhas da presidente afastada Dilma Rousseff em 2010 e 2014. Santana foi preso em fevereiro deste ano. Os selfies de políticos com o agente também foram ridicularizados por internautas. Um gif com imagem animada de um cachorro correndo atrás do próprio rabo também circulou como “imagens exclusivas” da prisão do ‘japonês da Federal’.