O Estado de São Paulo, n. 44789, 03/06/2016. Economia, p. B1

Presidente da Petrobrás defende fim da presença obrigatória da estatal no pré-sal

Segundo Pedro Parente, que tomou posse ontem, exigência de que companhia lidere todos os projetos ‘não atende aos interesses da empresa e do País’; executivo defendeu também a continuidade do programa de venda de ativos hoje em vigor

Por: Antonio Pita /Fernanda Nunes

 

Ex-ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso, Pedro Parente assumiu ontem a presidência da Petrobrás defendendo mudanças na legislação do pré-sal. Para Parente, a obrigação legal de liderar todo o projeto do pré- sal “não atende aos interesses da empresa e do País”.

“A empresa apoia a revisão da lei de exploração do pré-sal, com a substituição da obrigação de que participe com pelo menos30%daexploraçãodecada campo pelo direito de preferência com a participação que julgar atender melhor aos seus objetivos”, afirmou o executivo em seu discurso de posse.

Essa mudança consta de um projeto de lei de autoria do atual ministro das Relações Exteriores, José Serra, que já foi aprovado no Senado e deve ser votado na Câmara até o fim de julho. O presidente em exercício, Michel Temer, já indicou esse projeto como um dos mais importantes para a recuperação da economia.

Parente voltou a reafirmar a independência da estatal na definição dos preços dos combustíveis.

No mesmo evento, porém , o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, mostrou que tem uma opinião diferente sobre o tema. Segundo ele, a política de preços dos derivados passará por uma análise conjunta. “Vamos ter a oportunidade de discutir. Não é só o Ministério de Minas e Energia, mas também o Planejamento e a Fazenda, e a própria diretoria (da Petrobrás) que estão chegando.” A nova Petrobrás, com Parente, terá como prioridade administrar a crise financeira. Segundo ele, será um desafio equivalente ao enfrentado em 2001, quando conduziu a equipe de emergência do “apagão”.

As mudanças que o executivo promete promover passam pela relação com os fornecedores brasileiros. Parente defende a política de conteúdo local, que reserva volumes mínimos de contratações no merca do interno, desde que incentive “a inovação, as parcerias, a produção com qualidade, custos e prazos adequados”.

Essa será a postura nas negociações com a fornecedora de plataformas Sete Brasil, que tem a Petrobrás, bancos estatais e privados e fundos de pensão como sócios. Criada para construir sondas para a Petrobrás, a Sete negocia com a estatal a contratação de embarcações a preços superiores aos do mercado internacional.

“O tema Sete Brasil será decidido segundo o interesse da Petrobrás”, disse Parente.

Para arrumar as finanças da empresa, Parente defendeu a continuidade do programa de venda de ativos iniciado pelo seu antecessor, Aldemir Bendine, e se mostrou contrário à capitalização da empresa pelo Tesouro.

Ainda em seu discurso, Parente classificou a corrupção verificada na estatal nos últimos anos como um “descalabro”.

Ele disse ser “inominável” o esquema de corrupção e considerou a empresa vítima de uma “quadrilha organizada para sustentar projetos pessoais de riqueza e poder”.

Órgãos relacionados: