O Estado de São Paulo, n. 44789, 03/06/2016. Política, p. A7

Deputada sugere voto decisivo por cassação de Cunha

Tia Eron, que integra Conselho de Ética, elogia relatório favorável à punição do deputado e diz que votará pela ‘preservação da moral’

Por: Daiene Cardoso

 

Considerada dona do voto decisivo que pode livrar o deputado afastado Eduardo Cunha ( PMDB-RJ) da aprovação do pedido de cassação no Conselho de Ética da Câmara, a deputada Tia Eron ( PRB-BA) elogiou ontem o parecer do relator do caso, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), e disse que votará pela “preservação da moral” na Casa. “Eu sei o que tenho de fazer”, afirmou.

Pressionada pela base eleitoral na Bahia e disputada por grupos pró e contra Cunha, a deputada viu “consistência” no relatório. “Ele foi cirúrgico, decente, não tirou proveito político para ter visibilidade. Ele foi técnico.”

No parecer que pede a cassação de Cunha, apresentado anteontem, 1º, ao Conselho de Ética, Rogério diz que há provas fartas de que o peemedebista mentiu à CPI da Petrobrás no ano passado, ao negar que tivesse contas no exterior. O relator aponta a prática de condutas graves e ilícitas, como o recebimento de propina do esquema de corrupção na estatal, com base nas investigações da Operação Lava Jato.

O colegiado passou por uma série de mudanças em sua composição, e segue dividido. Cunha conta com o apoio de dez dos 21 deputados titulares do colegiado. O grupo que defende a cassação do mandato soma nove votos e, para empatar o placar, precisa da adesão de Tia Eron. Se a deputada confirmar o voto pela cassação, o desempate virá do presidente do conselho, José Carlos Araújo (PR-BA), adversário de Cunha.

Nas últimas semanas, Tia Eron tem evitado acompanhar todas as sessões do Conselho de Ética, para evitar o assédio. Ela marca presença, assiste aos primeiros minutos das reuniões e sai. Na quarta-feira, ouviu a leitura das primeiras páginas do relatório, mas preferiu uma conversa individual com o relator para definir sua posição.

Nesse diálogo, Tia Eron quis entender os motivos que levaram o relator a pedir a cassação e se emocionar no fim da leitura do parecer. Rogério contou à deputada que havia sido aliado de Cunha - inclusive na campanha do peemedebista pela presidência da Câmara - e que admirava sua atuação política na Casa, mas que, ao se deparar com provas contundentes, não poderia ignorar os fatos. A própria Tia Eron votou em Cunha para o comando da Casa e, ao chegar ao Conselho de Ética, disse que a Câmara “produziu como nunca” sob a gestão de Cunha.

 

Pressão. Tia Eron admitiu que vem sendo sondada por colegas sobre seu voto, mas disse impor limites às pressões e não escondeu certo incômodo com quem tenta enquadrá-la. “A pressão comigo não vai funcionar. Sei lidar com mecanismos de pressão.”

Mas ela reconhece que a influência maior vem dos eleitores, Principalmente nas redes sociais. “Me perguntam:‘ O que é isso? Vocêvotando lá como Cunha?’”. Aliado de primeira hora de Cunha, o vice-líder da bancada do PMDB, Carlos Marun (MS), diz que o esforço na próxima semana será em derrotar o relatório. O passo seguinte, afirma ele, é aprovar outro parecer com punição mais branda, possivelmente pedindo a suspensão do deputado.

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Por unanimidade, STF nega recurso de peemedebista

Por: Gustavo Aguiar / Isadora Peron

 

O Supremo Tribunal Federal rejeitou ontem por unanimidade, o recurso apresentado pelo presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para tentar reverter a decisão da Corte de transformá-lo em réu na Operação Lava Jato. O relator do caso, ministro Teori Zavascki, apontou “mero inconformismo” da defesa de Cunha na decisão do Supremo de fazê-lo responder a processo por suspeita de receber propina em contratos de compras de navios-sonda da Petrobrás.

O ministro também afirmou não haver dúvida sobre o julgamento do caso pela Corte.

De acordo com o procurador geral da República, Rodrigo Janot, Cunha recebeu US$ 5 milhões de um contrato da petroleira entre 2006 e 2007. Ele nega.

Os recursos da ex-deputada federal Solange Almeida (PMDB-RJ), denunciada na mesma ação, também foram rejeitados. Atualmente prefeita de Rio Bonito (RJ), ela é acusada de ter usado o cargo na Câmara em favor de Cunha. Solange também nega irregularidades. / GUSTAVO AGUIAR e ISADORA PERON

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