O Estado de São Paulo, n. 44788, 02/06/2016. Economia, p. B3

Investimento recua 2,7% no primeiro trimestre

Após dez quedas consecutivas, indicador atingiu o menor patamar desde 1996

Por: Fernanda Nunes

 

O cenário de recessão manteve o quadro de paralisação dos investimentos no País no primeiro trimestre deste ano. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida de investimentos no PIB) recuou 2,7% ante o trimestre anterior, uma das principais contribuições para a retração da atividade produtiva no País, informou o IBGE. Por um lado, a construção civil mostra desempenho negativo, tanto pelas dificuldades do setor imobiliário quanto pela parte de infraestrutura. De outro, o baixo investimento em máquinas e equipamentos demonstra que a indústria ainda não vislumbra aumento nas vendas que justifique ampliar capacidade instalada, hoje com alto porcentual de ociosidade.

A queda na FBCF foi ainda mais intensa na comparação com o primeiro trimestre de 2015, um tombo de 17,5%. No entanto, os números ainda são melhores do que os registrados no ano passado, o que pode ser interpretado como um sinal de melhora, diz Aloisio Campelo, superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).Para ele, porém, a retomada ainda não aconteceu. Após dez trimestres consecutivos de retração na FBCF, a taxa de investimento caiu ao menor patamar da série histórica das Contas Nacionais Trimestrais, iniciada em 1996: 16,9%.

Para o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, entretanto, “a melhora da confiança do empresariado industrial e a estabilização das importações de bens de capital devem favorecer o aumento dos investimentos ao longo dos próximos trimestres”.

A avaliação do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, porém, é de que “não há nada que indique que o retrato, hoje, seja melhor do que no primeiro trimestre, ou ainda que vá melhorar”. Ele argumenta que “nenhum grande projeto de investimento foi desengavetado”, o que, em sua opinião, demonstra que as perspectivas para o setor de bens de capital continuam “desanimadoras”.

O principal empecilho ao crescimento da atividade produtiva é a alta taxa de juros, diz Velloso. “Não há nenhuma atividade produtiva que renda mais do que os títulos do governo. O que mata a economia são os juros altos. Enquanto a taxa Selic estiver alta, vai valer mais deixar o dinheiro parado no banco, livre de riscos, do que produzir.” A indústria só não investiu menos porque encontrou espaço para exportar e apostou em ajustes na produção para se adequar à demanda externa. Os embarques brasileiros de produtos e serviços cresceram 6% na passagem do quarto para o primeiro trimestre.

 

Tombo

A queda na FBCF, medida de investimento no PIB, foi ainda mais intensa na comparação com o primeiro trimestre de 2015: o tombo foi de 17,5%

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O fundo do poço e o day-after

Por: Bráulio Borges

 

Os números revelados pelo IBGE para o PIB brasileiro no 1.º trimestre apontaram o menor ritmo de contração dessazonalizada desde o fim de 2014 e, pela primeira vez em bastante tempo, surpreenderam favoravelmente.

Ademais, com as informações parciais já disponíveis para o 2.º trimestre tem-se a impressão de que a atividade econômica, ao menos em termos agregados, atingiu ou está próxima de atingir o “fundo do poço”, no âmbito de um ciclo recessivo que teve início no 2.º trimestre de 2014 e, a essa altura do campeonato, mimetiza as duas piores recessões enfrentadas pelo Brasil nos últimos 40 anos.

Diante disso, emerge a seguinte pergunta: o que esperar daqui em diante, uma recuperação lenta ou uma reversão cíclica mais vistosa? Tenho algumas impressões.

Em primeiro lugar, é condição necessária para uma recuperação, pelo menos, a estabilização da (ainda elevada) incerteza política. Em dito isso, avalio que a economia brasileira opera hoje com enorme ociosidade em suas plantas, bem como no mercado de trabalho. Certamente há alguma perda de capacidade produtiva (empresas sendo fechadas, investimentos não concluídos, dentre outros), mas ainda assim o quadro é de uma ociosidade elevada – o que é uma notícia muito ruim agora, no curto prazo, mas não tão ruim olhando mais à frente, na medida em que abre espaço para que a economia cresça bastante.

Como, então, promover um kick-start na economia, de modo a ocupar essa elevada ociosidade? A agenda de reformas econômicas que está sendo colocada em pauta é importante, mas não se deve ter a ilusão de que trará crescimento razoável instantaneamente.

Com efeito, um programa audacioso de investimentos em infraestrutura, com participação majoritária do setor privado, seria uma boa política, unindo o útil (estímulo à demanda no curto prazo) com o agradável (redução do custo Brasil no médio e longo prazos).

 

ECONOMISTA SÊNIOR DA LCA