Propina pagou luxo de mulher de Cunha, diz MPF

Fausto Macedo, Julia Affonso, Ricardo Brandt e Mateus Coutinho 

10/06/2016

 

 

Lava Jato. Juiz Sérgio Moro acolhe denúncia e torna ré Cláudia Cruz por lavagem de dinheiro e evasão de divisas de mais de US$ 1 milhão provenientes de desvios da Petrobrás.

A mulher do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, a jornalista Cláudia Cruz, se tornou ré ontem em ação penal da Operação Lava Jato, em Curitiba, por lavagem de dinheiro e evasão de divisas de mais de US$ 1 milhão provenientes de desvios da Diretoria Internacional da Petrobrás. A denúncia do Ministério Público Federal foi acolhida pelo juiz federal Sérgio Moro.

Conforme a acusação formal proposta pela força-tarefa da Lava Jato, “as provas mostram que os denunciados desviaram dinheiro dos cofres da Petrobrás, os quais têm sido objeto de aportes feitos a partir dos cofres da União”.

“Em última análise, há evidências de que Eduardo Cunha e Cláudia Cruz se beneficiaram de recursos públicos que foram convertidos em bolsas de luxo, sapatos de grife e outros bens de uso privado”, afirmam os procuradores na denúncia.

Investigações apontaram que Cláudia ‘tinha plena consciência dos crimes que praticava e é a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior em montante superior a US$ 1 milhão num prazo de sete anos (2008 a 2014), valor totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito de seu marido’.

Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek (99,7%) teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha.

‘Cegueira deliberada’. Em sua decisão, Moro afirmou que a movimentação de vultosos volumes acima dos rendimentos do casal e não declarada à Receita Federal indicam que a mulher do parlamentar afastado teria agido com “cegueira deliberada” ao não procurar saber a origem do dinheiro que abastecia sua conta.

“Essa propina foi recebida pelo Eduardo Cunha numa conta no exterior e essa propina foi passada para outra conta que era escondida no exterior por Cláudia Cruz. Cláudia Cruz cometeu dois tipos de lavagem de dinheiro com base nesse dinheiro, mais de US$ 1 milhão. Um tipo de lavagem de dinheiro foi pela ocultação no exterior desses mais de US$ 1 milhão que são fruto de propina, propina recebida pelo marido Eduardo Cunha. A outra lavagem de dinheiro foi a conversão desse dinheiro em bens de luxo. Dinheiro público foi convertido em sapatos e roupas de grifes”, destacou o procurador Deltan Dallagnoll.

Além da mulher do deputado afastado, outros três acusados se tornaram réus: Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Área Internacional da estatal; João Augusto Rezende Henriques e Idalecio Oliveira.

Segundo a Procuradoria, as contas de Eduardo Cunha no exterior eram utilizadas para, “em segredo a fim de garantir sua impunidade, receber e movimentar propinas, produtos de crimes contra a administração pública praticados pelo deputado hoje afastado da presidência da Câmara”. Por meio da mesma conta Köpek, Cláudia Cruz teria se favorecido de parte de valores de uma propina de cerca de US$ 1,5 milhão que o marido teria recebido para “viabilizar” a aquisição, pela Petrobrás, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.

De acordo com a Procuradoria, o caminho do dinheiro começa no pagamento da Petrobrás à petroleira CBH, que controlava o campo de petróleo na África. Passa pela transferência de US$ 31 milhões da CBH para Lusitania Petroleum, uma holding de propriedade de Idalecio de Oliveira que, abrange, entre outras empresas, a própria CBH. Depois, os recursos sao transferidos para diversas offshores, entre elas a Acona - de propriedade de João Augusto Rezende Henriques, apontado nas investigações como operador do PMDB no esquema - até chegar conta Köpek.

Segundo os procuradores, a Köpek já era abastecida por recursos de vantagens indevidas provenientes de outras contas secretas de Cunha desde 2008. realizou pagamentos das faturas de cartão de crédito da American Express entre 2008 e 2012 e da Corner Card, entre 2012 e 2015. Todos os pagamentos são objeto da denúncia.

Defesas. O presidente afastado da Câmara e sua mulher negaram ontem, 09, qualquer envolvimento com as irregularidades e “negociações ilícitas” envolvendo o esquema de corrupção na Petrobrás. 

O CAMINHO DO DINHEIRO

● A força-tarefa da Lava Jato rastreou o dinheiro que Cláudia Cruz, mulher do deputado afastado Eduardo Cunha, usou para compras no exterior

US$ 34,5 milhões

Petrobrás pagou, em 3 de maio de 2011,

Petroleira CBH

(controlava um campo de petróleo na África), que transferiu, em 3 de maio de 2011,

US$ 31 milhões

Lusitania Petroleum

(holding de propriedade de Idalecio de Oliveira que abrange a própria CBH), que depositou, em 5 de maio de 2011,

US$ 10 Milhões

Offshore Acona (de propriedade de João Henriques, apontado como operador no esquema da Petrobrás), que repassou, de maio a junho de 2011,

1,3

milhão de francos suíços

Conta Orion SP (apontada como sendo de Cunha), que repassou, em 11 de abril de 2014,

970 mil francos suíços

22,6

francos suíços

Conta Netherton (cujo beneficiário final era Cunha), que transferiu, em agosto de 2014,

US$ 165 mil

Offshore Köpek (em nome de Cláudia Cruz)

Da Köpek saíram pagamentos das faturas de cartão de crédito:

American Express Entre 2008 e 2012

Corner Card Entre 2012 e 2015

Todos os pagamentos são descritos na denúncia contra Cláudia Cruz.