Título: Líderes do G-20 devem avançar em IOF global
Autor: HESSEL, ROSANA
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2011, Economia, p. 12

O economista Jeffrey Sachs acredita que a criação mundial de um imposto para taxar operações financeiras vai dominar o debate

Um tema dominará as discussões na cúpula de líderes do G-20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo), em Cannes, balneário no sul da França: a criação de um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) global, também chamado de "Imposto Robin Hood".

A avaliação é do economista Jeffrey Sachs, diretor do Earth Institute da Universidade de Columbia, em Nova York. Líder do projeto Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU), ele disse ao Correio acreditar que os chefes de governo, que se encontram a partir de quinta-feira, devem avançar em direção a um acordo para a criação do tributo.

"Esperamos um enorme progresso nesse tema na agenda internacional dos líderes nesta semana. Será o maior avanço nessa discussão desde quando ela surgiu, há 30 anos. Acredito que esse imposto poderá ajudar a reduzir certas distorções que existem nos mercados", disse Sachs ontem, em conferência por telefone, com jornalistas de vários países. "Os europeus já estão endossando o projeto e acho que outros países podem aderir ao projeto na reunião do G-20. A opinião pública apoia esse imposto." A Alemanha é um dos maiores defensores na União Europeia, enquanto o Reino Unido está na linha de frente contra a ideia.

A forma como o IOF global seria implantado, no entanto, ainda está em discussão. Alguns países, como Brasil, Coreia do Sul e África do Sul, já taxam as transações financeiras. Como fazem parte do G-20, poderão contribuir com suas experiências, na avalição de Sachs. "As nações emergentes devem construir um papel de liderança nas reuniões em Cannes. É interessante que o Brasil participe dessas discussões, principalmente, por conta das medidas que ele já adotou para conter o fluxo de capitais. A crise global permite que os emergentes conquistem papéis de destaque", disse.

Pobreza Sachs e a Oxfam, entidade britânica sem fins lucrativos presente em 98 países, estão levantando a bandeira do IOF global. "A aprovação desse imposto é importante porque as receitas poderão ser destinadas a três finalidades: regulamentação dos mercados, financiamento de ações de combate à pobreza e às mudanças climáticas e harmonização dos impostos existentes", defendeu. Durante esta semana, ativistas deverão fazer manifestações em Cannes a favor do tributo, principalmente sobre operações financeiras de maior valor.

BCE pode adiar corte A inflação em alta na Zona do Euro reforça as apostas dos mercados de que o Banco Central Europeu (BCE) vai esperar até dezembro para reduzir a taxa de juros. A inflação ao consumidor permaneceu em 3% em outubro, na leitura anual, acima da meta de 2% e da previsão de analistas (2,9%). A reunião de quinta-feira será a primeira sob a presidência de Mario Draghi. Ele pode mostrar relutância em diminuir o custo dos empréstimos, já que quer provar que manterá o mandato do BCE de estabilidade dos preços. "Cortar o juro na quinta-feira poderia ser visto como brando demais e não estabeleceria as credenciais de alguém como um combatente da inflação. Mas alguns poderiam dizer que isso mostraria liderança", disse Simon Smith, economista-chefe do FxPro.