O Estado de São Paulo, n. 44788, 02/06/2016. Política, p. A9

'Mais de 50' votos foram comprados na reeleição, diz Corrêa

Delator afirma que deputados receberam propina para aprovar emenda no governo FHC e que as investigações foram ‘abafadas’

Por: Ricardo Brand/ Julia Affonso/ Mateus Coutinho /Fausto Macedo

 

Em sua delação premiada firmada com a força-tarefa da Lava Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) disse que líderes governistas “compraram os votos” de “mais de 50 deputados” para aprovar a emenda constitucional que instituiu a reeleição no País, em 1997. O ex-deputado também afirmou que o caso foi investigado na época, mas o governo “teve força política suficiente para abafar tudo”.

Corrêa foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a 20 anos e três meses de prisão enquanto ainda cumpria sua pena no mensalão. A citação à aprovação da reeleição de FHC foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo.

O ex-deputado afirmou aos investigadores que o episódio envolvendo o governo tucano “foi um dos momentos mais espúrios” que ele presenciou. Segundo o delator, houve uma disputa de propinas. Corrêa disse que estavam em lados opostos o governo federal e o deputado Paulo Maluf (PP-SP), que na época havia acabado de deixar a Prefeitura de São Paulo com alta aprovação e trabalhava para ser candidato à Presidência.

Segundo o ex-deputado, a iniciativa da reeleição por parte do governo federal foi liderada pelo então ministro das Comunicações Sérgio Motta (morto em 1998) e pelo então presidente da Câmara Luís Eduardo Magalhães (também morto em 1998 e, na época, do PFL, atual DEM) com o apoio do deputado Pauderney Avelino – atualmente líder do DEM na Câmara –, dos então governadores Amazonino Mendes (PFL-AM) e Olair Cameli (PFL-AC)“entre outras lideranças governistas”.

Corrêa disse que estava do outro lado da “disputa”, com “recursos do então ex-prefeito de São Paulo e hoje deputado federal, Paulo Maluf (PP-SP)”.

Para tanto, relata Corrêa, Maluf o convocou os deputados Severino Cavalcanti e Salatiel Carvalho “para se contrapor ao governo e também cooptar, com propina, parlamentares que estivessem se vendendo ao governo FHC”.

Segundo o ex-deputado, todos os fatos narrados “foram investigados por uma comissão de sindicância, que a seu final sugeriu ao TCU que investigasse Sérgio Motta, à PGR através do seu procurador chefe Geraldo Brindeiro que investigasse o caso”. “Mas o governo, à época, teve força política suficiente para abafar tudo.” O delator disse que viu o banqueiro e ex-ministro Olavo Setubal nos fundos do plenário da Câmara dando bilhetes a deputados que votaram a favor da emenda para que eles fossem a um doleiro de Brasília e “recebessem suas propinas em dólares americanos”.

 

Defesas. Fernando Henrique disse em nota que Corrêa apenas repetiu o que foi veiculado pela imprensa na época. “E levou à renúncia de alguns dos quatro deputados citados como responsáveis por receber propinas, isso depois de investigação na Câmara. O modo como a informação chegou a mim e sua pronta repulsa estão minuciosamente registrados no volume 2 dos Diários da Presidência, que acabo de publicar.” Maluf afirmou, por meio de sua assessoria, que FHC foi “favorecido no episódio” com a sua reeleição e, portanto, é quem deve ser ouvido. Pauderney Avelino rechaçou as referências a seu nome. “Não responderei aos bandidos e ladrões do dinheiro público.” O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, disse que ficou “profundamente indignado” em ver o nome de seu pai “tão absurdamente envolvido numa história sem comprovações”. “Ele era um homem absolutamente ético e tenho convicção de que ele jamais se envolveu em nada parecido com o que, covardemente, o ex-deputado Pedro Corrêa descreveu.

Meu pai não participava de qualquer atividade político-partidária desde 1986, e não há nenhum indício de que essa história possa ter fundamento. ” O Estado enviou e-mail para a assessoria de ACM Neto, da família de Luís Eduardo Magalhães, mas não obteve resposta. Os demais citados não foram encontrados. / MATEUS COUTINHO, FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO e RICARDO BRANDT

 

‘Força’

“Comissão de sindicância sugeriu ao TCU que investigasse Sérgio Motta, à PGR que investigasse. Mas o governo teve força para abafar tudo”

Pedro Corrêa

EX-DEPUTADO FEDERAL (PP-PE)

Órgãos relacionados:

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Ronivon recebeu dos ‘dois lados’

Por: Mateus Coutinho / Julia Affonso / Fausto Macedo / Ricardo Brandt

 

O ex-deputado e delator da Lava Jato Pedro Corrêa (PP-PE) disse que o ex-deputado Ronivon Santiago (ex-PFL, PMDB e PP), que admitiu ter recebido R$ 200 mil para apoiar a reeleição, também recebeu dinheiro do ex-prefeito e deputado Paulo Maluf (PP), para votar contra a medida.

Corrêa, porém, não cita valor que Ronivon teria recebido além dos R$ 200 mil. O delator faz referência a “dois lados” que teriam pago a Ronivon: o governo FHC, capitaneado pelos então ministro Sérgio Motta e presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, ambos mortos em 1998, e Maluf.

Ronivon não foi localizado para comentar. /M.C., J.A., F.M. e R.B.

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Janot pede prosseguimento de investigação sobre Aécio

Por: Gustavo Aguiar/ Isabela Peron

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ontem manifestação ao Supremo Tribunal Federal a favor do prosseguimento de duas investigações contra o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), na Corte. Uma delas, já aberta, apura se o tucano recebeu propina desviada de contratos com a empresa Furnas, subsidiária da Eletrobrás. A outra envolve a suspeita de que ele manipulou dados do Banco Rural para blindar aliados políticos no escândalo do mensalão.

Ambos os casos estão sob a relatoria de Gilmar Mendes e têm como base a delação premiada do senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) no contexto da Lava Jato. Para os advogados de Aécio, não há elementos novos que justificavam os processos. No mês passado, depois de eles apresentarem uma defesa “espontânea” sobre ambos os casos ao STF, Gilmar resolveu devolvê-los a Janot para que ele reavaliasse a necessidade de investigações.

Janot alega que juntou ao pedido de abertura dos inquéritos diversas provas novas. Ele avalia que, diante dos objetivos elementos, a investigação merece ser aprofundada. / GUSTAVO AGUIAR e ISADORA PERON

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