O Estado de São Paulo, n. 44794, 08/06/2016. Economia, p. B9

Senado aprova indicação de Ilan para comandar BC

Em sabatina, ex-economista-chefe do Itaú prometeu levar a inflação ao centro da meta; oposição questionou validade de seu mandato

Por: Célia Froufe, Bernardo Caram e Idiana Tomazelli

 

Com votação inferior à de seus antecessores, o economista Ilan Goldfajn foi aprovado ontem pelo Senado como o novo presidente do Banco Central. Em seu pronunciamento, ele ressaltou que o País vive uma das piores crises da história e prometeu trabalhar para levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, mas não se comprometeu com prazos. Como primeira ação, o executivo pretende afastar o diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, aposentado no fim do ano passado. A avaliação é a de que Lopes é a “cara” da gestão atual, de Alexandre Tombini. Com sua saída, Ilan busca marcar a ruptura com a condução atual do BC.

Apesar de aprovado, o novo presidente do BC não participará da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de hoje, que definirá o rumo da taxa básica de juros, em 14,25% ao ano. Com credibilidade no setor bancário, o Planalto quer aproveitar para capitalizar a presença de altos executivos financeiros e de empresários no evento de transmissão de cargo. A aprovação de Ilan precisa ser publicada no Diário Oficial.

Durante a sabatina no Senado, o economista chegou a ser perguntado por parlamentares da oposição, como o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), sobre a validade de sua nomeação diante da possibilidade de retorno da presidente afastada Dilma Rousseff. A senadora Vanessa Grazziotin (PcdoB-AM) levantou a questão de conflito de interesse, já que o novo presidente aprovado era funcionário do Itaú Unibanco e detinha ações da instituição, que já foram vendidas, segundo Ilan.

Na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Ilan recebeu 19 votos a favor e 8 contra, a aprovação mais baixa da era pós-Plano Real. No plenário, o placar foi de 56 a 13. Farias afirmou que pedirá ao Supremo Tribunal Federal a anulação da sessão da CAE, porque a votação foi iniciada antes do fim da sabatina, que durou pouco mais de quatro horas.

 

Dissertação. Demonstrando tranquilidade, o economista afirmou que o Brasil está no rumo da meta de inflação de 4,5%. “Estamos no caminho, esse é o desafio do Banco Central. Num horizonte não muito distante, pretendemos atingir o centro da meta”, previu. Ele também defendeu a melhora da qualidade fiscal do País, até como uma forma de ajudar o trabalho do BC de reduzir a inflação e de reconduzir a economia a uma trajetória de crescimento. Além de citar a importância do sistema de metas de inflação e da questão fiscal, Ilan defendeu o regime de câmbio flutuante. “Temos de voltar a trabalhar como velho e bom tripé macroeconômico”, em referência às três variáveis – meta fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante – que nortearam a economia a partir de 1999 e numa clara crítica à matriz econômica implantada no governo Dilma.

Ilan chamou a atenção ao dizer que não considera necessário que o BC seja independente, basta que a instituição seja autônoma. Para ele, um avanço seria fixar mandatos da diretoria e presidência da autarquia. Em relação às reservas internacionais, Ilan argumentou que o volume atual é importante, mas vale uma discussão sobre o montante “ótimo” no futuro.

 

Inflação

“Estamos no caminho, esse é o desafio do BC. Num horizonte não muito distante, pretendemos atingir o centro da meta.”

Ilan Goldfajn

PRESIDENTE DO BANCO CENTRA

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