O Estado de São Paulo, n. 44794, 08/06/2016. Política, p. A5

Episódio pode afetar votações e impeachment

Temor do Planalto é de que pedidos de prisão ameacem governabilidade e causem instabilidade

Por: Tânia Monteiro / Carla Araújo

 

Os pedidos do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de prisão de caciques do PMDB ao Supremo Tribunal Federal trouxeram grande preocupação ao Palácio do Planalto. A avaliação de interlocutores do presidente em exercício Michel Temer é de que o episódio pode atingir a governabilidade, com o atraso de votações importantes, principalmente das medidas econômicas que já estão no Congresso e as que ainda serão enviadas em breve.

Eles lembram que, além do recesso parlamentar em julho, em agosto as atenções estarão voltadas para os Jogos Olímpicos e as eleições, em seguida.

Há preocupação também sobre o impacto dos pedidos no processo de impeachment de Dilma Rousseff, embora o Planalto diga que há convicção de que o número de votos que garantirá o afastamento definitivo da petista está consolidado.

Apesar do discurso, o fato de os peemedebistas que estão na mira da Procuradoria serem importantes caciques do partido também preocupa o governo, porque pode haver uma vinculação automática deles à imagem de Temer, o que pode desfavorecê-lo no impeachment.

O Planalto acompanhou a mobilização ontem dos senadores petistas, que contavam com os pedidos de prisão para ajudar a agravar a instabilidade do governo Temer e a reverter votos de senadores indecisos na votação do impeachment.

Distância. A estratégia do presidente em exercício foi a de tentar se distanciar da crise, cumprir a agenda normalmente e tentar considerar o problema como algo restrito ao Congresso e ao STF. Interlocutores salientaram que a possível saída do presidente do Congresso, Renan Calheiros, do senador Romero Jucá e de Eduardo Cunha, do cenário político possa desarticular o “plano Temer”.

Para tentar deixar Temer distante da crise, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) evitaram o tema. Ao deixar a reunião com líderes da Câmara, Geddel afirmou que os pedidos não causavam “nenhum constrangimento”.

Padilha agiu de forma semelhante. “Em um outro momento, talvez (comente os pedidos). Agora, aqui, Olimpíada. Só quem pode responder é o dr. Janot, ele sabe porque fez, o que fez, o que escreveu e o que pediu. Eu não sei nada”, disse o ministro da Casa Civil. / COLABOROU RICARDO GALHARDO

 

PEEMEDEBISTAS SOB SUSPEITA

● O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal a prisão de Renan, Jucá, Sarney e Cunha, segundo o jornal ‘O Globo’ e a TV Globo; pedidos estão com ministro da Corte Teori Zavascki

 

 

Renan Calheiros (AL)

PRESIDENTE DO CONGRESSO

Os diálogos

Machado: (...) Vamos passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente.

Renan: Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo (inaudível) fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso Machado: Acaba com esse negócio da 2ª instância, que está apavorando todo mundo

Os políticos na Lava Jato

● Em delação, Sérgio Machado disse que distribuiu mais de R$ 70 milhões em propina de contratos da estatal para Renan, Jucá e Sarney. Segundo Machado, R$ 30 milhões foram para o presidente do Senado. Renan, citado também por outros delatores, é alvo de inquéritos no Supremo

 

Romero Jucá (RR)

SENADOR

Motivos dos pedidos de prisão:   Tentativa de obstrução da Operação Lava Jato

Foram flagrados tentando barrar as investigações em conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que firmou acordo de delação

Jucá: Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar (...) Tem que ser política (inaudível). Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria (...)

Jucá: Eu acho que tem que ter  um pacto

Machado: Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori, mas parece que não tem ninguém

● Machado relatou repasse de R$ 20 milhões a Jucá em propina de contratos da Transpetro. Jucá, que deixou o Ministério do Planejamento após divulgação dos áudios de Machado, também foi citado por outros delatores da Lava Jato. O senador é investigado em inquéritos no STF

 

José Sarney (AP)

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA E EX-SENADOR

Sarney: Você se dá com o Cesar. Cesar Rocha (ex-ministro do STJ Cesar Asfor Rocha)

Machado: Hum?

Sarney: Cesar Rocha

Machado: Dou, mas o Cesar não tem acesso ao Teori não. Tem?

Sarney: Tem total acesso ao Teori. Muito, muito acesso. Eu preciso falar com Cesar. A única

coisa com o Cesar, com o Teori é com o Cesar

● O delator Sérgio Machado disse que repassou R$ 20 milhões em propina para o ex-presidente durante o período que esteve no comando da Transpetro. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já havia pedido ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito contra o ex-senador

 

 

Eduardo Cunha (RJ)

PRESIDENTE AFASTADO DA CÂMARA

Interferência na Câmara : Continua interferindo na Câmara, apesar da decisão do Supremo de afastá-lo da presidência da Casa e do mandato de deputado

Situação do deputado

● Foi alvo da primeira denúncia da Lava Jato recebida pelo Supremo e o primeiro presidente da Câmara a responder a uma ação penal na Corte, sob a acusação de corrupção e lavagem de dinheiro

● Segundo a denúncia, Cunha recebeu propina de ao menos US$ 5 milhões para viabilizar a construção de dois navios-sonda da Petrobrás, no período entre junho de 2006 e outubro de 2012

● Em maio, o Supremo decidiu afastar Cunha da presidência da Câmara e do mandato, acatando pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Para Janot, o peemedebista usava o cargo para atrapalhar a Lava Jato e o processo de cassação do qual é alvo

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