O Estado de São Paulo, n. 44794, 08/06/2016. Política, p. A6

Políticos negam interferência na operação

Renan, Jucá e Sarney afirmam que nunca tentaram atrapalhar a Lava Jato; Cunha vê tentativa de Janot de ‘constranger’ Conselho de Ética

Por: Carla Araújo / Erich Decat / Igor Gadelha / Isabela Bonfim / Julia Lindner

 

O senador Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-senador e ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se defenderam das acusações que levaram a Procuradoria-Geral da República a pedir a prisão do trio ao Supremo Tribunal Federal.

Em nota, eles reclamaram de não terem tido acesso aos documentos. “Estou perplexo, indignado e revoltado”, disse Sarney.

Ex-ministro do Planejamento de Temer, Jucá “lamentou o vazamento seletivo” de informações, que considerou “absurdo”. O senador afirmou que vem sendo “acusado e agredido” sem saber o conteúdo do material “a que tem o direito para se defender”.

Ele informou que, diferentemente do presidente do Senado, Renan Calheiros, ele é a favor de que e investigados presos possam fazer delação premiada e também defende a prisão com julgamento em segunda instância, caso a Justiça entenda que seja necessária.

Para Renan, a iniciativa do procurador-geral foi “desarrazoada, desproporcional e abusiva”. O presidente do Congresso disse, em nota, que “todas as instituições estão sujeitas ao sistema de freios e contrapesos e, portanto, ao controle de legalidade” e que não praticou qualquer “ato concreto” que pudesse ser interpretado como obstrução à Justiça. Ele afirma, ainda, que as instituições devem “guardar seus limites”.

O deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não quis contestar as razões que motivaram o procurador-geral, mas disse que viu a medida com estranheza e que o pedido visa constranger os membros do Conselho de Ética para forçá-los a votar pela cassação de seu mandato. / CARLA ARAÚJO, ERICH DECAT, IGOR GADELHA, ISABELA BONFIM e JULIA LINDNER

 

CÚPULA

Renan Calheiros

Presidente do Senado e do Congresso Nacional, Renan Calheiros sempre atuou como contraponto ao grupo do presidente em exercício Michel Temer e buscou outras saídas para evitar que o peemedebista assumisse o Planalto. Mas, assim que Temer assumiu, aderiu ao governo. É considerado essencial para aprovação do pacote econômico de Temer no Congresso.

 

Eduardo Cunha

O presidente afastado da Câmara teve papel decisivo no impeachment de Dilma – ele autorizou a abertura do processo que resultou no afastamento da petista. Temer o contemplou com cargos estratégicos no governo. O Planalto teme que, uma vez preso, Cunha possa revelar detalhes sobre a participação do PMDB no esquema na Petrobrás e desestabilizar o governo Temer.

 

Romero Jucá

Um dos principais operadores do processo de impeachment de Dilma no Congresso Nacional, o ex-líder do governo no Senado dos presidentes FHC, Lula e Dilma é hábil operador político e transita bem entre os senadores. Nesse sentido, é considerado peça-chave para que o presidente em exercício Michel Temer consiga aprovar as medidas econômicas no Congresso.

 

José Sarney

Aos 86 anos, o ex-presidente é uma espécie de consultor-geral do PMDB. Embora tenha sido importante aliado dos governos do PT e do ex-presidente Lula, em cujo governo controlou o setor energético, foi determinante ao orientar Temer sobre a estratégia para que, aos poucos, levasse adiante o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Congresso Nacional.

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Renan defende ‘limites’ para instituições

Por: Isabela Bonfim / Julia Lindner

 

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), dirigiu normalmente o plenário do Senado ontem, após a Procuradoria-Geral da República pedir sua prisão. Renan coordenou a votação da indicação de Ilan Goldfajn ao Banco Central, além de dois outros projetos econômicos expressivos para o governo sem retaliações, nem mesmo da oposição.

Nenhum senador questionou o fato de Renan presidir a sessão ou mencionou constrangimento com a situação. Em plenário, Renan reiterou o que já havia divulgado nota de manhã e disse que responderia ao pedido de prisão com seu silêncio.

“Meu silêncio será uma manifestação retumbante. Eu falarei pelo meu silêncio e aguardarei o Supremo”, afirmou. Antes disso, entretanto, para entrar em seu gabinete, Renan precisou evitar o questionamento dos jornalistas e respondeu repetidamente que a “nota é autoexplicativa”. Ele ignorou as indagações sobre se deveria renunciar à presidência do Senado.

Em nota, Renan chamou o pedido de prisão de “sem razão, desproporcional e abusivo”. Disse ainda que “as instituições devem guardar seus limites” para preservar a independência dos Poderes, a liberdade de expressão e a presunção de inocência. / I.B. e J.L.

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Sarney se diz ‘perplexo e revoltado’

Por: Erich Decat

 

O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) recebeu a notícia de que era um dos alvos de pedido de prisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por telefone, no início da manhã de ontem, logo após ser acordado por um dos auxiliares em sua residência, em área nobre de Brasília. Do outro lado da linha, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, o informou da decisão de Janot de pedir ao Supremo Tribunal Federal para que o peemedebista passasse a usar uma tornozeleira.

Incrédulo, Sarney questionou o advogado: “Mas o que está acontecendo?”. Depois, Sarney divulgou nota para comentar o pedido de prisão: “Estou perplexo, indignado e revoltado”, disse. O ex-presidente declarou que dedicou 60 anos de vida pública ao País e à defesa do estado de direito e que, por isso, julgava merecer “o respeito de autoridades do porte do procurador-geral da República”.

Ele ainda destacou que promoveu e sancionou leis, mesmo antes da nova Constituição, que beneficiam e fortalecem o Ministério Público. “O Brasil conhece a minha trajetória, o meu cuidado no trato da coisa pública, a minha verdadeira devoção à Justiça, sob a égide do Supremo Tribunal Federal”, afirmou o ex-presidente. / E.D.

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Jucá ‘lamenta vazamento seletivo’

Por: Isabela Bonfim / Julia Lindner

 

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) criticou o pedido de prisão feito pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. Em nota, o senador disse “lamentar” que ocorra “vazamento seletivo” de informações. “Venho sendo acusado e agredido e não tenho o conhecimento do material a que tenho direito de ter acesso para me defender. Lamento esse tipo de vazamento seletivo que expõe as pessoas sem nenhum tipo de contraditório”, escreveu Jucá ontem.

O senador considerou o pedido de prisão “absurdo” e afirmou que já se colocou à disposição para prestar esclarecimentos sobre os diálogos entre ele e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Jucá disse que foi “vítima” da gravação de Machado, que fechou acordo de delação premiada, mas que pediu afastamento do Ministério do Planejamento no mesmo dia e solicitou à Procuradoria a cópia da delação de Machado para que pudesse se defender.

O presidente do Congresso também criticou o fato de não ter tido acesso aos documentos da Procuradoria-Geral da República. De acordo com o senador do PMDB, ele não atuou, em nenhum momento, no sentido de confundir ou atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. /I.B. e J.L.

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Para Cunha, pedido de Janot é ‘absurdo’

Por: Daiene Cardoso / Igor Gadelha

 

O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acordou ontem com duas preocupações: a revelação do pedido de prisão apresentado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e a sessão do Conselho de Ética que votaria o relatório que pede a cassação do seu mandato.

Enquanto acompanhava a sessão do colegiado, divulgou nota em que não contestou as razões que levaram Janot a pedir sua prisão, mas disse ter visto a medida com estranheza. O peemedebista afirmou que o pedido visava constranger os membros do Conselho de Ética para forçá-los a votar pela sua cassação.

“Não tomei ciência do conteúdo do pedido do procurador- geral da República, por isso não posso contestar as motivações. Mas vejo com estranheza esse absurdo pedido, e divulgado no momento da votação no Conselho de Ética, visando a constranger parlamentares que defendem a minha absolvição e buscando influenciar no seu resultado”, diz a nota.

Depois, Cunha voltou a monitorar a sessão do Conselho. Ligou para o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), um dos seus principais articuladores. Questionou onde estavam aliados que ele não conseguia ver pela transmissão da sessão pela TV Câmara. /DAIENE CARDOSO e I.G.

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