Operação da Polícia Federal teve objetivo de ‘humilhar’, diz Gleisi

Julia Lindner e Isabela Bonfim

28/06/2016

 

 

Quatro dias após a prisão do marido, Gleisi Hoffmann (PT-PR) usou ontem a tribuna do Senado para criticar a operação da Polícia Federal, dizendo que teve o objetivo de “humilhar” e “espetacularizar” o procedimento. A PF prendeu o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo em ação de busca e apreensão no apartamento funcional da senadora em Brasília.

Bernardo é suspeito de participar de um esquema de corrupção no Ministério do Planejamento que, de acordo com a PF, desviou R$ 100 milhões.

Ao chegar ao Congresso, Gleisi foi recepcionada por cerca de 15 integrantes do coletivo de mulheres Rosas pela Democracia, com palavras de apoio.

No plenário, a senadora disse que a prisão de Bernardo foi “injusta, ilegal, sem fatos, sem provas e sem processo”. “Nem em pesadelos eu teria sido capaz de supor que estaria aqui, nesta tribuna, para defender meu marido de uma prisão”, declarou com a voz embargada. “Mas, aqui estou para apontar uma injustiça, sentindo na própria pele o que aflige diariamente milhares de pessoas atingidas pelo abuso do poder legal e policial. Aqui estou, serena e humilde, mas não humilhada”, continuou. Gleisi disse que a prisão foi um “despropósito”, pois Bernardo não apresentava risco de fuga e se colocou à disposição da Justiça diversas vezes.

A senadora acusou a PF de cometer excessos com o intuito de “espetacularizar”. Segundo ela, a Justiça atua de maneira seletiva e promove “carnavais midiáticos contra alguns políticos”. “A operação montada para a busca e apreensão em nossa casa e para a prisão do Paulo foi surreal. Até helicópteros foram usados, força policial armada, muitos carros. Para que isso, chamar atenção? Demonstração de força? Humilhação? Gasto de dinheiro público desnecessário, é isso. Foi uma clara tentativa de humilhar um ex-ministro nos governos Lula e Dilma.”

Gleisi voltou a afirmar que o patrimônio da família foi conquistado de maneira lícita, e que o marido nunca cometeu irregularidades. “Sei de suas virtudes e de seus defeitos. Sei especialmente o que não faria. E não faria uso de dinheiro alheio para benefício próprio. Não admitiria desvios de recursos públicos para sua satisfação ou da família. Tenho certeza de que não participou ou se beneficiou de um esquema. Ele sabe que eu nunca o perdoaria.”

Gleisi afirmou que a “sua luta” a partir de agora será restaurar a dignidade do marido. “O processo é, por si, uma condenação definitiva que vale para sempre. Uma sentença irrecorrível. A absolvição, quando vier, não terá jamais a mesma força.”

Partido. No início do seu discurso, Gleisi relembrou sua trajetória política e assumiu que o PT cometeu erros. “É claro que com as conquistas também vieram os erros, os equívocos. Muitos dos quais pressionados pelos que desejam a manutenção do status quo, ciosos por não perderem espaço e garantias. As composições políticas, o pragmatismo cotidiano, as apostas erradas hoje cobram seu preço”.