Para Renan, pedido é 'abusivo'; Sarney diz estar 'revoltado'
Cristiane Jungblut
08/06/2016
Alvos de Rodrigo Janot fazem duras críticas à condução da Lava-Jato
-Alvos de pedidos de prisão feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente do Senado, Renan Calheiros, o ex-presidente José Sarney e o senador Romero Jucá, todos do PMDB, reagiram com “perplexidade” e com críticas ao chefe do Ministério Público Federal. Renan classificou, por meio de nota, como “desproporcional e abusiva" a iniciativa de Janot. Jucá, também em nota, disse considerar “absurdo” o pedido de prisão, e reiterou que sempre esteve à disposição para dar todos os esclarecimentos pedidos dentro da Lava-Jato. Em nota, Sarney divulgou nota em que se diz “perplexo, indignado e revoltado’’.
O presidente do Senado, durante todo o dia de ontem, fez, além da nota, vários ataques indiretos a Janot: ele disse que os senadores não devem se preocupar com “excessos” cometidos contra eles e que seu silêncio era a “mais retumbante” resposta ao fato.
Da Mesa do Senado, Renan disse que é “hora de se exercitar a separação entre os Poderes’’ e que o Senado é “solução” e não “parte da crise” atual. Renan procurou aparentar normalidade, iniciando as votações. Mas, antes, recebeu apoio de vários senadores. Em nota, Renan disse confiar na “autoridade e dignidade do Supremo" e que se mantém "sereno".
Ele negou que tenha cometido atos que possam ser compreendidos como obstrução à Justiça. "Por essas razões, o presidente considera tal iniciativa, com o devido respeito, desarrazoada, desproporcional e abusiva. Todas as instituições estão sujeitas ao sistema de freios e contrapesos e, portanto, ao controle de legalidade. O Senado Federal tem se comportado com a isenção que a crise exige e atento à estabilidade institucional do País", diz a nota divulgada pela assessoria.
Mais tarde, Renan disse que sua nota era “autoexplicativa” e discursou com recados a Janot:
— Queria dizer aos senadores e às senadoras: temos a mais aberta compreensão da separação dos Poderes. Qualquer movimento que fizermos a mais parecerá que estamos danificando a separação dos Poderes, que é fundamental para o equilíbrio nesse momento dramático da vida nacional. Mais do que nunca, é preciso falar pelo silêncio.
Romero Jucá disse que foi “vítima” da gravação de Sérgio Machado e que nunca propôs mudanças na legislação, não podendo ser acusado de obstrução da Justiça.
Jucá fez uma rápida manifestação em plenário e depois recebeu cumprimentos de colegas como Armando Monteiro (PTB-PE) e Fernando Bezerra (PSB-PE).
— Vou aguardar com tranquilidade de quem fala a verdade e confia na Justiça. E espero que essa situação absurda possa ser resolvida a curto prazo — disse Jucá.
Ele disse, na nota, que "o Brasil conhece a minha trajetória, o meu cuidado no trato da coisa pública, a minha verdadeira devoção à Justiça, sob a égide do Supremo”. Sarney foi avisado do fato por telefone, por meio do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, e não entendeu o que estava acontecendo.
— O presidente Sarney custou a entender que havia um pedido. Perguntou: “mas por causa de quê?” — disse Kakay.
CUNHA: ‘ABSURDO PEDIDO’
Já o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, que também foi alvo de Janot, disse que vê com estranheza o "absurdo pedido" de prisão. "Não tomei ciência do conteúdo do pedido do Procurador Geral da República, por isso não posso contestar as motivações. Mas vejo com estranheza esse absurdo pedido, e divulgado no momento da votação no Conselho de Ética, visando a constranger parlamentares que defendem a minha absolvição e buscando influenciar no seu resultado", disse Cunha na nota.
O globo, n. 30256, 08/06/2016. País, p. 4.