Ameaça de tsunami tira sono da República

Ricardo Noblat

08/06/2016

 

Ameaça de tsunami faz a República dormir mal. Por ora, fora a repercussão política do fato, nada deverá acontecer no rastro da notícia de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão dos senadores Romero Jucá (RR) e Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, do ex-presidente e ex-senador José Sarney (AP), e do deputado Eduardo Cunha (RJ), presidente da Câmara com mandato suspenso.

O ministro Teori Zavaski, relator da Lava-Jato, poderia autorizar as prisões monocraticamente. Mas nem ele tem pressa, tampouco o STF. Ali, há certa irritação com o vazamento da notícia, atribuído a gente da Procuradoria-Geral da República. Teori guardava o pedido de prisão há uma semana. Desde então, a República dorme mal.

Ninguém sabe o tamanho dos estragos que causaria na imagem e na sorte do vulnerável governo Temer, do PMDB, a prisão dos presidentes do Senado e da Câmara, ambos do PMDB, do presidente de honra do PMDB (Sarney) e do presidente em exercício do PMDB (Jucá). Ninguém sabe, mas todo mundo faz ideia. O tamanho dos estragos seria catastrófico. Ainda mais no momento em que está em curso a fase final do processo de impeachment de Dilma.

Vá convencer os que resistem à instalação definitiva do governo Temer, e aos que o olham com muita desconfiança, que o PMDB no poder será melhor do que o PT e seus aliados. Se não melhor, menos corrupto. A prisão de Cunha até que resolveria o problema de uma Câmara sem comando. A de Renan entregaria o comando do Senado ao PT do primeiro vice-presidente, Jorge Viana (AC), e logo em meio ao impeachment. A de Jucá privaria o PMDB de comando.

 

 

O globo, n. 30256, 08/06/2016. País, p. 6.