Polícia Federal indicia presidente do Bradesco na Operação Zelotes

01/06/2016

Andreza Matais

Luiza Polo

 

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, foi indiciado pela Polícia Federal no inquérito que investiga compra de decisões no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão que julga os recursos de contribuintes em débito com a Receita Federal. Além dele, outras nove pessoas também foram indiciadas, sendo dois executivos do banco.

Todos foram alvo da Operação Zelotes, deflagrada em março de 2015, pela PF, Ministério Público Federal (MPF) e Receita.

O indiciamento significa que a PF encontrou indícios de envolvimento dos investigados em crimes. Há casos de tráfico de influência, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O MPF informou ao Estado que Trabuco foi indiciado por corrupção ativa. O banco teria contratado serviços de um escritório para tentar se livrar de uma multa bilionária.

O próximo passo depende do MPF, que pode apresentar denúncia, pedir diligências ou arquivar definitivamente o processo. Também pode discordar da PF com relação ao indiciamento de alguns nomes.

Em nota, o Bradesco negou ter contratado serviço de lobistas no Carf e afirma que Trabuco não participou de nenhuma reunião com o grupo citado. A instituição informou, ainda, que dois diretores do banco disseram em depoimento à PF terem sido procurados por escritório de assessoria tributária interessado em advogar uma questão fiscal no Carf. Segundo eles, “não se efetivou nenhuma proposta, contratação ou pagamento desses contratos”. Os executivos indiciados são Luiz Carlos Angelotti, diretor de Relações com Investidores, e Domingos Figueiredo de Abreu, um dos vice- presidentes do banco.

Relatório de inteligência da PF aponta, porém, que o grupo investigado por corromper integrantes do Carf, formado por advogados e conselheiros que atuavam no órgão, tratou como Bradesco a respeito de um “contrato” para anular débito de R$ 3 bilhões com a Receita. O relatório diz que Trabuco e os outros dois executivos se encontraram com um emissário da organização para discutir como seria a atuação dela no órgão.

O grupo acionou o auditor da Receita Eduardo Cerqueira Leite para uma reunião como banco.

O encontro foi monitorado pela PF e, segundo o inquérito, ocorreu no dia 9 de outubro de 2014, na sede do Bradesco, em Osasco. O relatório indica que estiveram na reunião Trabuco, em breve participação, Angelotti e Abreu.

Segundo o inquérito, o esquema foi articulado pelo auditor fiscal e ex-conselheiro do Carf Jorge Victor Rodrigues, sócio da SBS Consultoria; Lutero Fernandes do Nascimento, assessor do ex-presidente do conselho Otacílio Cartaxo; e o ex-superintendente da Receita na 8.ª Região Jeferson Ribeiro Salazar.

 

O Estado de São Paulo, n. 44787, 01/06/2016. Economia, p. B1