Valor de mercado do banco cai R$ 6 bi

01/06/2016

A notícia de que a Polícia Federal pediu o indiciamento do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e de outros dois executivos do banco, no âmbito da Operação Zelotes, fez o banco perder cerca de R$ 6 bilhões em valor de mercado. Com a queda das ações, o valor do banco caiu de R$ 136 bilhões para R$ 130 bilhões. Um novo desdobramento da Zelotes envolvendo o Bradesco já era esperado, mas o envolvimento do nome de Trabuco causou surpresa, segundo fontes ligadas ao banco.

“Tão rápido quanto veio, será desmontada”, disse, confiante, um alto executivo do banco, na condição de anonimato. As investigações da Polícia Federal indicam a existência de conversas entre Trabuco e executivos do banco, o vice presidente Domingos Abreu e o diretor de relações com investidores, Luiz Carlos Angelotti, com o grupo acusado de tentar corromper integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) para anular um débito de R$ 3 bilhões da instituição com a Receita Federal.

Em nota, o Bradesco negou a contratação de serviços do grupo investigado na Zelotes e que Trabuco tenha participado de conversas com os lobistas. O banco destacou que foi derrotado por seis votos a zero no julgamento do Carf. “O Bradesco irá apresentar seus argumentos juridicamente, por meio do seu corpo de advogados. O Bradesco reitera seus elevados padrões de conduta ética e reafirma sua confiança na Justiça”, acrescentou o banco, em nota.

“A companhia jamais prometeu, ofereceu ou deu vantagem indevida a quaisquer pessoas, inclusive a funcionários públicos, para encaminhamento de assuntos fiscais ou de qualquer outra natureza”, acrescentou a nota do banco.

Um analista de mercado avalia que o assunto, além de “delicado”, é “obviamente ruim” para o banco, que aguarda o aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para incorporar o HSBC.

As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) do Bradesco, que chegaram a cair mais de 7% após a Coluna do Estadão ter antecipado a notícia, encerraram o pregão com queda de 5%, cotadas a R$ 22,80. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) recuaram 3,69%, a R$ 24,51. No exterior, a notícia fez com que os bônus com vencimento em 2019 do Bradesco caíssem 1,4%, cedendo de 109% do valor de face antes da divulgação da informação para 107,50% do valor de face.

Os American Depositary Receitps (ADRs), recibos de ações listados na Bolsa de Nova York fecharam em queda de 5,58%, a US$ 6,26, cotação mínima desde 16 de março, quando o papel fechou em US$ 5,94.

Sucessão. Trabuco completa em outubro 65 anos, idade limite para presidir o banco. Se os procedimentos forem mantidos, sua saída deve ocorrer após a assembleia, agendada para março do ano seguinte. Mas ele é considerado o candidato natural à sucessão de Lázaro de Melo Brandão na presidência do conselho de administração do banco. / JOSETTE GOULART, ALINE BRONZATI, CYNTHIA DECLOEDT e ALTAMIRO SILVA JÚNIOR

 

PARA ENTENDER

Zelotes teve início em 2013

A Operação Zelotes foi iniciada em 2013 com investigações sobre irregularidades no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Ligado ao Ministério da Fazenda, o Carf é uma espécie de “tribunal” que julga recursos de contribuintes contra multas aplicadas pela Receita Federal.

De acordo com as investigações, empresas pagariam propina para que integrantes do Carf cancelassem ou reduzissem o valor das penalidades.

Quando a operação foi deflagrada, em março do ano passado, estimava-se que o esquema envolvia multas no valor de R$ 19 bilhões – quase o dobro do que era apurado na Operação Lava Jato Desde então, nomes conhecidos já apareceram nas investigações.

No mês passado, a Polícia Federal indiciou o empresário André Gerdau e mais 18 pessoas na sexta fase da operação. A siderúrgica Gerdau é suspeita de tentar sonegar R$ 1,5 bilhão.

Em abril, a Justiça Federal do Distrito Federal aceitou denúncia movida pelo Ministério Público Federal contra o dono do grupo Safra, Joseph Safra, também acusado de pagar propina para obter decisões favoráveis no Carf.

Os desdobramentos do caso investigado no Carf pela Operação Zelotes também revelaram a ação de lobistas e agentes públicos para a aprovação de medidas provisórias nas gestões Luiz Iná- cio Lula da Silva e Dilma Rousseff com benefícios fiscais para o setor automotivo.

O filho caçula de Lula, Luís Cláudio, aparece nas investigações como beneficiário de pagamentos suspeitos.

Em março, um ano depois de a operação ser deflagrada, saiu a primeira condenação no âmbito da Operação Zelotes O juiz Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara Federal do DF, condenou o lobista Halysson Silva a quatro anos e três meses de prisão em regime semi-aberto pelo crime de extorsão. Hallysson estava preso preventivamente desde outubro do ano passado.

 

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Governo não consegue antecipar sabatina de Ilan

01/06/2016

Murilo Rodrigues Alves

 

 

O governo do presidente em exercício, Michel Temer, não conseguiu antecipar para hoje a sabatina de Ilan Goldfajn–indicado para a presidência do Banco Central–na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Os senadores da oposição derrotaram a proposta que queria adiantar a sabatina para que o ex-economista-chefe do Itaú Unibanco pudesse presidir a reunião do Comitê de Política Monetária(Copom) na semana que vem.

A antecipação só seria possível se todos os senadores membros da CAE concordassem, mas Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) não aceitaram a antecipação. Os senadores da base aliada do governo, como Ronaldo Caiado (DEM-GO), prometeram recorrer da decisão da presidente da CAE, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), à Comissão de Constituição e Justiça.

Ontem, foi lido o parecer do senador Raimundo Lira (PMDB-PB), favorável à nomeação. Pelo regimento interno do Senado, depois dessa etapa é necessário um intervalo de cinco dias para a sabatina do indicado. Gleisi marcou a sabatina para a próxima terça-feira, dia 7. Na mesma data, ocorre a primeira parte da reunião do Copom.

Para uma centena de economistas ouvidos pelo BC, a taxa básica – atualmente em 14,25% ao ano – deve permanecer no mesmo nível. “Não mudaria nada a participação do Ilan nesse encontro. É consenso que o Copom deve manter a Selic na próxima reunião”, disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Para ele, os cortes nos juros devem ser iniciados na reunião de outubro, caso o governo não aumente a Cide ou crie outro imposto com impacto na inflação. O conjunto de analistas ouvido pelo BC acredita em três cortes até o fim do ano, que levariam a Selic para 12,75% ao ano.

 

Desconforto. Na tentativa de sensibilizar os senadores pela antecipação da sabatina, o senador Raimundo Lira disse que o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, se mostrou desconfortável em participar da próxima reunião do Copom. Mesmo assim, os senadores da oposição não concordaram.

Logo após a leitura do parecer favorável, Lindbergh chegou a apresentar requerimento para que a comissão de ética se posicionasse sobre possível conflito de interesse na nomeação de Ilan para a presidência do BC. O motivo do requerimento, segundo o senador, se devia ao fato de Ilan ser sócio do banco Itaú Unibanco.

“Um representante do maior banco privado do País está sendo indicado para presidir o BC, órgão responsável por fiscalizar todo o sistema financeiro nacional”, disse o senador, completando que Ilan teria acesso a informações “sigilosas e sensíveis” de todos os concorrentes do Itaú Unibanco.

Lindbergh também disse que a CAE não pode aprovar o nome de Ilan em meio à discussão da “independência do BC”, com a prerrogativa de mandatos fixos. “Quer mudar o presidente do BC em um governo interino. E se a presidente voltar?” Ao fim da sessão, depois que Lindbergh já tinha retirado o requerimento, a pedido dos senadores da base aliada do governo, Raimundo Lira informou aos colegas que Ilan vendera todas as ações do banco ainda durante a sessão da CAE. Se o nome dele for aprovado na CAE, é preciso que a indicação seja referendada pelo plenário. Normalmente, isso ocorre no mesmo dia da aprovação na comissão.

 

Oposição

“Um representante do maior banco provado do País está sendo indicado para presidir o BC, responsável por fiscalizar todo o sistema financeiro nacional.”

 

“Quer mudar o presidente do BC em um governo interino. E se a presidente voltar.”

Lindbergh Farias

SENADOR (PT/RJ)

 

O Estado de São Paulo, n. 44787, 01/06/2016. Economia, p. B4