Em grampo, petista contra a lava-jato
08/06/2016
Em escuta telefônica feita com autorização da Justiça e divulgada no último dia 16 de março, o senador Jorge Viana (PT-AC) aparece numa conversa com Roberto Teixeira, advogado do ex-presidente Lula. Nela, o senador propõe estratégias para que Lula enfrente o juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato na primeira instância, em Curitiba.
Gravados pela Polícia Federal, os grampos vão de 19 de fevereiro a 16 de março. A conversa em que Viana faz a sugestão ao advogado do ex-presidente é de 4 de março, quando Lula foi levado em condução coercitiva para prestar depoimento à PF. A ideia de Viana era que aquela seria uma oportunidade para Lula subir o tom contra Moro e tentar acabar com o que seria perseguição do juiz ao ex-presidente.
“Chamar uma coletiva, dizendo que ele (Lula) não aceita mais que ele (Moro) persiga a família dele, porque ele tá agindo fora da lei. Se ele quiser agora vim (sic) prendê-lo, que venha. Se prender, o Lula vira um preso político e vira uma vítima, se não prender, ele também se desmoraliza. Tem que virar o jogo agora”, comenta Viana.
O senador diz que isso precisa ser feito com urgência: “Porque senão no dia 13 vai ter milhões de pessoas na rua querendo a prisão do Lula. Eu tô dando um toque, eu tô no andar de baixo andando, e é só mais pra vocês refletirem um pouco se puder”.
Em outro trecho, o senador petista critica a atuação no Acre do delegado Maurício Moscardi, da PF: “Esse Moscardi veio aqui no Acre, fez uma operação contra o PT (Operação G7, em 2013, contra fraudes em licitações), nós denunciamos pro Zé Eduardo Cardozo (então ministro da Justiça), entramos com uma representação há seis anos contra esse delegado que pegou o presidente hoje. Ele é um inimigo do PT e tava lá”.
Na conversa, o advogado de Lula responde que vai repassar o assunto: “Perfeito. Eu vou pensar e transferir. Eu vou passar essa informação. Qual é o nome daquele delegado que você falou que já fez problemas aí? Perfeito. Moscardi. Tá bom”.
Na época, após o teor dos grampos vir à tona, Viana criticou as escutas: “custou caro para nosso país conquistar a democracia, que é tão recente. É lamentável ver materializado o descumprimento da Constituição e das leis no país por alguns agentes públicos que deveriam respeitá-las”. Ele destacou, ainda, que sua conversa “foi tão somente no sentido de passar sua opinião sobre o ato arbitrário que chocou o país praticado contra o ex-presidente. (...) Não há nada de mais na conversa gravada, o que se questiona é a legalidade da gravação”.
O globo, n. 30256, 08/06/2016. País, p. 6.