Conselho de Ética adia decisão sobre Cunha

Isabel Braga e Maria Lima

08/06/2016

 

Ausência de Tia Eron leva presidente e relator a suspeitarem de acordão para livrar peemedebista

O presidente do Conselho de Ética da Câmara, José Carlos Araújo (PR-BA), adiou ontem a votação do relatório que pede a cassação do presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por medo de que o texto seja derrotado. Após um dia de intensas articulações dos aliados de Cunha, os opositores do presidente afastado passaram a dar como certo que o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA) salvará Cunha. Assim, a votação do relatório só deve ocorrer na próxima terça-feira, embora ainda haja uma possibilidade de que seja realizada amanhã.

A intenção dos opositores de Cunha é ganhar tempo para que haja pressão da opinião pública sobre Tia Eron a favor da cassação. Outra esperança deles é por eventual manifestação do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido de prisão de Cunha, que poderia aumentar a pressão sobre os deputados. Formalmente, Araújo usou como desculpa para o adiamento a necessidade de privilegiar as votações de matérias importantes para o governo, como a DRU (Desvinculação de Receitas da União).

— Vamos votar matérias para salvar o país — disse Araújo.

Se Tia Eron apoiar Cunha, o presidente afastado ficará com 11 votos, contra nove a favor do relatório de Marcos Rogério (DEM-RO), que pede a cassação do mandato. Se Tia Eron votar pela cassação, a votação ficará dez a dez — e Araújo desempatará contra Cunha.

— Quando Tia Eron divulga nota para dizer que vota amanhã (hoje), e Cunha pressiona para que a votação aconteça logo, não temos mais dúvidas de que ela fechou com ele — disse um dos opositores de Cunha.

 

PENA ALTERNATIVA

No início da tarde, a votação já tinha sido adiada porque não havia certeza de que Tia Eron compareceria à votação. Araújo encerrou a sessão dando prazo para que Marcos Rogério analise o relatório alternativo apresentado pelo deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), que sugere a pena de suspensão do mandato por três meses.

Aliados de Cunha protestaram, mas Araújo não recuou. Em nota, Cunha, acusado de fazer uma série de manobras ao longo do processo, criticou o que considerou “manobra espúria” de Araújo para evitar a votação do parecer que pede sua cassação. Se Tia Eron não comparecesse, abriria caminho para o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que é de sua tropa de choque e contra a cassação.

O líder do PSOL, Ivan Valente (SP), disse suspeitar que Cunha esteja ameaçando integrantes do governo e o próprio presidente interino, Michel Temer, e que isso possa ter levado a um acordo entre o PRB e o governo para salvar o peemedebista:

— Minha opinião é que Cunha está ameaçando derrubar Temer e o governo. Ele é a maior delação que pode acontecer, se vier. O Cunha tem um banco de dados de quem financiou, é uma ameaça permanente.

O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) admitiu encontro anteontem com o ministro Marcos Pereira (Indústria e Comércio), do PRB, mas afirmou que apenas foi discutida uma disputa interna por cargos.

— Quero lamentar aqui a posição da base aliada do governo Temer de ficar contra o parecer pela perda do mandato. Vai colocar mais uma bomba no colo do governo — disse o deputado Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS).