Título: Crise na Unimed aflige clientes
Autor: Amorim, Diego; Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 26/10/2011, Economia, p. 8

Operadora garante que vai tentar reverter, na Justiça, determinação da ANS para a transferência de sua carteira de usuários. Preocupados com uma eventual interrupção de tratamentos, conveniados já planejam migrar para outros planos de saúde

Apesar de a Unimed Brasília apostar na recuperação financeira e garantir a continuidade do atendimento, usuários já planejam trocar de operadora. Conforme o Correio publicou ontem, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou a transferência da carteira de clientes em até 30 dias. Quem não quiser esperar o desenrolar da história terá de seguir as regras de portabilidade (veja quadro). Somente depois do fim do prazo estipulado para a alienação, o órgão regulador poderá decretar um regime especial de mudança de plano. A Unimed não divulga detalhes da estratégia de defesa, mas informa que acionou a Justiça para reverter a decisão. Há quatro anos, a empresa passou por situação ainda mais grave ao ter a liquidação decretada, mas conseguiu manter as portas abertas.

Desde a publicação da medida da ANS, na semana passada, usuários procuram a Unimed para cancelar o plano, com medo de serem prejudicados. Contratos que poderiam ajudar a operadora a sair do vermelho também acabaram adiados após a ordem de transferência da carteira. Gestores da Fundação Dom Cabral, eleita a quinta melhor escola de negócios do mundo, atuam para tentar salvar a Unimed em Brasília, cuja dívida, em janeiro, somava R$ 94 milhões. A empresa tem 33 anos no mercado brasiliense, onde acumula 18 mil clientes.

Unimed garante que continua atendendo normalmente em seu hospital, apesar da dívida superior a R$ 94 milhões

Futuro Ontem, o Correio percorreu hospitais particulares do Plano Piloto e conversou com vários conveniados da Unimed. O clima entre eles era de preocupação. A balconista Geny de Holanda Valença, 35 anos, aderiu ao plano ao saber que a filha Mariah, hoje com 2 anos, nasceu com problemas no intestino. O tratamento da criança não tem prazo para terminar. "Ela não pode ficar sem plano e muito menos esperar que a Unimed decida o futuro dos clientes", disse Geny, ao confirmar que procuraria logo outra empresa para garantir o atendimento da filha.

A aposentada Maria Deusa Alves, 59 anos, também não vai aguardar o fim da novela. Há dois anos, ela paga o plano da irmã Ana Rute Fernandes, 42, por quem é responsável. Ana tem epilepsia e faz acompanhamento periódico. "Minha irmã tem a saúde debilitada. O tratamento não pode ser interrompido de forma alguma", disse Maria, preocupada com o futuro da operadora. Por enquanto, não há registros de recusa no atendimento. Caso isso ocorra, denúncias devem ser feitas à ANS pelo telefone 0800-701-9656.

As queixas ontem se restringiam à demora no atendimento, o que pode não ter relação com a medida. Pela manhã, o casal Alessandra dos Santos, 26 anos, e Cleito dos Santos, 36, esperou 2h30 pela consulta de um dos dois filhos, que estava gripado. O plano de saúde da família é atrelado ao emprego de Cleito. Mesmo apreensivos com a situação, eles não pretendem mudar de operadora. "Não temos outra alternativa a não ser esperar", afirmou ele. O casal sabia da possibilidade de falência da Unimed porque alguns parentes já migraram para concorrentes por esse motivo.

Na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), José Geraldo Tardin, a ANS acertou ao intervir na Unimed Brasília. Ele diz que os usuários têm direito de se adiantar e buscar outro plano desde já. Quem decidir aguardar a alienação da carteira de clientes precisará ficar atento. "O usuário deverá ser transferido para um plano equivalente, sem qualquer prejuízo à cobertura. Ele não poderá ser obrigado a pagar mais nem ter carência", enumerou Tardin. Ele reforça que, até lá, o atendimento deve ser mantido pela Unimed.

Suspensão Em momento algum, a presidente da empresa em Brasília, Sylvia Carvalho de Oliveira, nega os problemas econômicos da empresa. Mas afirma ser "completamente desnecessário" o cliente deixar a operadora. "Não há motivo para se apavorar. Quem tem menos que se preocupar a essa altura do campeonato é o usuário", sustentou. Ontem, ela voltou a dizer que acredita na suspensão da medida da ANS na Justiça. "Tenho certeza de que vamos reverter essa situação. E mesmo que isso não ocorra, a ANS garante que o usuário seja realocado."

A meta da operadora é colocar as contas em dia até o fim deste ano, no mais tardar em janeiro de 2012. "É claro que o quadro não vai mudar da noite para o dia, mas melhoramos a liquidez e estamos nos recuperando", afirmou Sylvia. Segundo ela, os cerca de 300 médicos cooperados estão sendo monitorados, a fim de garantir o atendimento até que a situação seja resolvida judicialmente. A presidente adiantou, ainda, que quem deixar de pagar o plano pode acabar sendo prejudicado em caso de transferência da carteira de clientes. "Além de prejudicar o atendimento. Sem receber, não tenho como pagar o serviço."

Realidade atual Em nota divulgada ontem, a direção da Unimed avalia que a prevalência da decisão da ANS "pode contribuir para uma concentração do mercado e um consequente aumento dos preços para os consumidores". A nota assinala ainda que a medida foi tomada com base em fatos e informações decorrentes de gestões anteriores e que não correspondem à realidade atual da operadora. O texto reitera que a empresa já tomou as medidas cabíveis para garantir seus direitos e o dos clientes e fornecedores. "A Unimed Brasília continua com suas atividades em estado de normalidade, em todos os aspectos, seja no que concerne ao plano de saúde, recursos próprios e rede credenciada de atendimento", completa.

Procedimentos Saiba o que fazer para continuar com plano de saúde em caso de o atual deixar de existir, por meio da portabilidade

» Consulte o Guia ANS (www.ans.gov.br) para identificar planos de saúde compatíveis com o seu;

» Dirija-se à operadora do plano de saúde escolhido levando o relatório de convênios compatíveis e solicite a proposta de adesão;

» Na data da assinatura da proposta, será necessário apresentar a cópia do comprovante de vínculo com a pessoa jurídica contratante, caso o plano seja coletivo;

» Aguarde a resposta da operadora do plano de destino, que deverá ser dada em até 20 dias após a assinatura da proposta de adesão. O contrato do plano de destino entra em vigor 10 dias após a aprovação da operadora;

» A ANS recomenda que, ao término do processo, o beneficiário entre em contato com a operadora do convênio de origem para informar que exerceu a portabilidade especial de carências;

» Peça a portabilidade no período de 60 dias contados a partir da publicação da resolução operacional específica (no caso, a de quinta-feira passada);

» A faixa de preço do plano de destino deve ser igual ou inferior àquela em que se enquadra o plano de origem.

Fonte: ANS

Médicos se mobilizam O Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira e a Federação Nacional dos Médicos protocolaram um manifesto no Ministério da Saúde ontem. O documento sintetiza o diagnóstico que os médicos fazem da situação atual do Sistema Único de Saúde. No texto, as entidades listam como principais reivindicações o aumento de investimentos do governo e melhorias na remuneração e na infraestrutura. "O modo com o qual a saúde pública tem sido tratada historicamente apresenta, cotidianamente, sua fatura nas emergências lotadas, nas filas de espera por consultas e exames, bem como no desestímulo que se abate sobre as equipes responsáveis pelo atendimento da população", criticam. Cerca de 100 mil médicos participaram da paralisação ontem para chamar a atenção para os problemas do SUS.