O Estado de São Paulo, n. 44810, 24/06/2016. Política, p. A8

Operação prende secretário de Haddad

Valter Correia, titular da pasta de Gestão, é investigado no esquema de pagamento de propina no Planejamento; ele foi exonerado do cargo

Por: Valmar Hupsel Filho

 

A Operação Custo Brasil, que investiga esquema de pagamento de propinas no Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão durante a gestão do ex-ministro Paulo Bernardo (PT), atingiu também a Prefeitura de São Paulo com a prisão do secretário municipal de Gestão, Valter Correia. Após sua detenção, ontem ele pediu exoneração do cargo por meio de seu advogado.

O pedido foi aceito pelo prefeito Fernando Haddad (PT). A Secretaria Municipal de Gestão, responsável por questões referentes ao funcionalismo municipal, será conduzida interinamente pela secretária adjunta Cristina Mori.

Correia é apontado como um dos beneficiários da propina desviada do contrato da empresa Consist Software, no Ministério do Planejamento, entre 2010 e 2015, para serviços do sistema de empréstimos consignados de servidores federais.

As acusações se referem ao período em que Correia trabalhou no Planejamento, quando exerceu funções de comando na pasta nas gestões de Bernardo e Miriam Belchior. Ele foi secretário executivo adjunto entre fevereiro de 2011 e novembro de 2012 e chefe da Assessoria Especial para Modernização da Gestão entre novembro de 2012 e fevereiro de 2015.

Somente em março de 2015 é que Correia foi nomeado secretário de Gestão da prefeitura de São Paulo, após o desmembramento da pasta, que antes abrangia também Orçamento e Planejamento e era comandado pela economista Leda Paulani, amiga de Haddad. A indicação de Correia foi feita pelo PT.

 

Surpresa . Segundo interlocutores, Haddad recebeu com surpresa e incredulidade a informação da prisão de seu secretário. Ele tomava café da manhã com Gabriel Chalita, que é cotado para sair candidato a vice na chapa de reeleição à prefeitura, quando um dos assessores deu a notícia.

O prefeito teria ficado “chocado”, segundo um dos presentes, pois o secretário até então era considerado um técnico competente, discreto, que não ostentava riqueza. A mesma descrição foi feita nos bastidores por funcionários e ex-funcionários da Prefeitura que já trabalharam com Correia.

Ao receber a informação, Haddad chegou a perguntar se na verdade não se tratava de uma condução coercitiva - onde o alvo levado a prestar depoimento e liberado em seguida. O assessor saiu em busca de novas informações e retornou à reunião confirmando a prisão.

Ainda perplexo, Haddad lembrou que em agosto, quando o nome de Correia havia sido citado na delação premiada do ex-vereador Alexandre Romano, conhecido como Chambinho, como intermediário na contratação de empresa beneficiária de esquema de desvio de dinheiro para pagamento de propina, chamou o então secretário para conversar e ele garantiu que tinha tido atuação idônea no ministério.

 

Reeleição. A repercussão da prisão de Correia foi discutida no núcleo político que cerca o prefeito Fernando Haddad. A avaliação é a de que, ainda que seja usada como arma pelos adversários, a notícia não afeta a imagem de Haddad nem sua campanha à reeleição porque se referem a fatos anteriores e alheios à atuação de Correia na prefeitura.

“Quem quiser usar essa afirmação vai usar. Mas não dá para querer vincular a imagem do prefeito a este fato porque não cola, não tem qualquer relação com ele, que tem a lisura na administração como marca”, disse o presidente municipal do PT, o vereador, Paulo Fiorillo, reafirmando o apoio do partido a Valter Correia.

Ele lembrou que ,antes de trabalhar no ministério, Valter Correia já tinha trabalhado na prefeitura de São Paulo, nas gestões de Marta Suplicy e Luiza Erundina.

 

Cancelamento

O prefeito Fernando Haddad cancelou sua agenda ontem. Entre outras eventos, ele participaria da abertura do II Congresso Municipal de Educação para as Relações Étnico-Raciais.

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Empresário ligado a Lula é alvo de ação de busca e apreensão

Focal Confecções, de Carlos Cortegoso, foi a 2ª maior fornecedora da campanha de 2014 de Dilma Rousseff

Por: Mateus Coutinho / Julia Affonso / Ricardo Brandt / Fausto Macedo

 

Guiados pela delação do ex-vereador do PT Alexandre Romano, os investigadores da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo fizeram busca e apreensão na casa e nas empresas de Carlos Cortegoso. Conhecido como “garçom do Lula”, o empresário de São Bernardo do Campo é dono da Focal Confecções e Comunicação, segunda maior fornecedora da campanha de 2014 de Dilma Rousseff, e da CRLS Consultoria e Eventos, que teria escoado o dinheiro da propina vinda de desvios no Ministério do Planejamento na gestão de Paulo Bernardo.

De posse dos mandados expedidos pela 6.ª Vara Criminal, a Polícia Federal vasculhou os imóveis de Cortegoso e aprendeu computadores, celulares e documentos com o objetivo de expandir a investigação contra o empresário. Os policiais chegaram na Focal por volta das 6h e permaneceram até às 14h30. O Estado apurou que ação já era esperada por Cortegoso. Em conversas com amigos, o empresário repetia que após a fase Pixuleco 2, em agosto de 2015, a situação havia complicado e a sua prisão era iminente.

Muito próximo de João Vaccari Neto, o empresário atua em campanhas do partido desde a década de 90 e forneceu material gráfico e camisetas para todas as campanhas presidenciais a partir de 2002. Segundo o delator da Custo Brasil, foi Vaccari quem indicou a CRLS como destinatária da propina direcionada ao PT pela Consist Software Limitada.

“Num primeiro momento era a CRLS, representada pelo Cortegoso, que realizava os pagamentos emitindo notas contra a Consist. Num segundo momento, era a empresa Politec, representada pelo Helio Oliveira, que realizava o pagamento. E, por fim, num terceiro momento era a Jamp, representada pelo Miltom Pascowitch”, afirmou Romano em um de seus depoimentos.

 

Garçom do Lula. Cortegoso ficou conhecido como “garçom do Lula” porque trabalhou em um restaurante em São Bernardo do Campo frequentado pelo então sindicalista. No fim dos anos 90, Cortegoso montou uma empresa de produção de camisetas e material de campanha. Com a chegada do PT ao Palácio do Planalto, em 2002, o negócio cresceu rapidamente e ele virou o principal fornecedor das campanhas do partido.

Ao mesmo tempo, começaram a ser identificadas irregularidades em seus negócios. A primeira vez que o nome do empresário veio a público foi em 2005, quando o publicitário Marcos Valério entregou à CPI dos Correios uma lista na qual elencava os destinatários do dinheiro para caixa 2 proveniente do Mensalão do PT. Na CPI, os dados de Valério foram analisados e concluiu-se que a quantia recebida era de R$ 300 mil.

Mesmo alçado ao centro do até então maior escândalo do PT, Cortegoso não teve problemas para continuar como fornecedor do partido. Em 2006, na campanha à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva manteve a estreita relação com o empresário e pagou R$ 3,9 milhões à Focal. Quatro anos depois, na primeira campanha de Dilma Rousseff, os gastos do partido com a Focal quase quadruplicaram e chegaram a R$ 14,5 milhões.

Em 2014, os gastos com a Focal aumentaram ainda mais e chegaram a R$ 23 milhões. O valor e o fato da Focal estar em nome de um motorista com salário de R$ 2 mil levaram o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a pedir uma investigação nas contas de Dilma. O processo ainda está em andamento. Além da campanha presidencial, a empresa de Cortegoso recebeu R$ 158 mil da candidatura da senadora Gleisi Hoffman, mulher do ex-ministro Paulo Bernardo.

Outro alvo da operação com relação com a Focal é o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira. Foragido da Justiça, o antecessor de Vaccari pagou cerca de R$ 26 mil para a empresa na campanha de 2010. Na decisão que autorizou a prisão de Ferreira, o juiz Paulo Bueno de Azevedo elencou um e-mail que, segundo ele, corrobora com a versão do delator de que o petista seria um dos destinatários da propina proveniente da Consist. “Ilustre, para vosso conhecimento, não virá os valores neste mês”, diz o e-mail enviado por Romano ao operador de Ferreira, o advogado Daisson Portanova. Perguntado, o advogado da campanha de Dilma, Flávio Caetano, informou não ter nada a comentar. O Estado não encontrou Cortegoso para comentar a ação da PF.

 

Valores

R$ 158 mil foi quanto a empresa de Cortegoso recebeu da candidatura da senadora Gleise Hoffman, mulher do ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo

R$ 26 mil foi quanto o antecessor de Vaccari, Paulo Ferreira, que está foragido da Justiça, pagou à Focal na campanha de 2010

 

DESDOBRAMENTOS

● Investigações da Operação Lava Jato deram origem a outras apurações que vão além da Petrobrás

 

CASOS COM INVESTIGAÇÃO

Caso Consist

Indícios de contratos com o Grupo Consist Software sem licitação com o Ministério do Planejamento provocando suposto desvio de R$ 52 milhões na área de empréstimos consignados. Deu origem à Operação Custo Brasil, na primeira instância

INVESTIGADOS

Gleisi Hoffmann

PT-PR

SENADORA

 

Corrupção na Eletrobrás

Investiga desvio de dinheiro na construção da Usina Angra 3

INVESTIGADOS

Tiago Cedraz

ADVOGADO

Raimundo Carreiro

MINISTRO DO TCU

Renan Calheiros

PMDB-AL

PRESIDENTE DO SENADO

Romero Jucá

PMDB-RR

SENADOR

Edison Lobão

PMDB-MA

SENADOR

 

Corrupção em Furnas

Investiga esquema de corrupção em uma das diretorias da empresa e contratos sob suspeita de irregularidades

INVESTIGADOS

Aécio Neves

PSDB-MG

SENADOR

Eduardo Cunha

PMDB-RJ

PRESIDENTE AFASTADO DA CÂMARA

 

Banco Rural/ CPI dos Correios

Apura se Aécio manipulou dados do Banco Rural para proteger aliados das investigações do mensalão pela CPI dos Correios

INVESTIGADOS

Aécio Neves

PSDB-MG

SENADOR

Eduardo Paes

PMDB-RJ

PREFEITO DO RIO

Clésio Andrade

PMDB-MG

EX-SENADOR

 

Belo Monte

Apura atuação dos parlamentares em esquema de corrupção que desviou dinheiro de contratos para a construção da usina de Belo Monte, no Pará

INVESTIGADOS

Renan Calheiros

PMDB-AL

PRESIDENTE DO SENADO

Romero Jucá

PMDB-RR

SENADOR

Edison Lobão

PMDB-MA

SENADOR

Clésio Andrade

PMDB-MG

EX-SENADOR

Valdir Raupp

PMDB-RO

SENADOR

Jader Barbalho

PMDB-PA

SENADOR

 

OAS/Estádio da Copa

Apura se OAS pagou propina a Agripino para ele atuar no BNDES para obter recursos que financiaram as obras de estádio de futebol em Natal, sede da Copa do Mundo

INVESTIGADO

Agripino Maia DEM-RN

SENADOR

 

Outros casos

● Investigação sobre se o ex-ministro Edinho Silva orientou o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) a fazer um esquema de caixa 2 e pedir a duas empresas para gerarem uma nota em nome do laboratório farmacêutico EMS para pagar dívidas de campanha

● Doações não declaradas da UTC Engenharia para campanha do ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) e do senador Aloysio Nunes (PSDB), atual líder do governo

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Órgãos relacionados:

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Lava Jato tem desdobramentos em vários setores

Por: Gustavo Aguiar

 

A Operação Lava Jato criou nove linhas de apuração paralelas que correm no STF ou em varas judiciárias de primeira instância no País. Um desses casos é o que resultou na Operação Custo Brasil, em que também está implicada a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), investigada pelo STF.

Outro caso derivado da Lava Jato é o do setor elétrico, que apura ilícitos nas obras da Usina de Angra 3, no Rio, e foi transferido da jurisdição de Sérgio Moro, em Curitiba, para a Justiça fluminense.

No STF, são investigados o ministro do TCU, Raimundo Carreiro; Tiago Cedraz, filho do presidente da Corte, Aroldo Cedraz; o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Edison Lobão (PMDB-MA). A cúpula do PMDB formada por Lobão, Renan e Jucá, e também pelos senadores Valdir Raupp (PMDB-RO) e Jader Barbalho (PMDB-PA), é investigada no STF em caso de desvio de propina dos contratos para a construção da Usina de Belo Monte. Delações do senador Delcídio Amaral levaram à abertura de dois inquéritos no STF sobre esquemas diferentes de corrupção em Furnas. Um beneficiaria o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); o outro, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG). Todos os citados negam que tenham cometido os crimes investigados. / GUSTAVO AGUIAR

Senadores relacionados:

  • Aécio Neves
  • Edison Lobão
  • Gleisi Hoffmann
  • Jader Barbalho
  • Renan Calheiros
  • Romero Jucá
  • Valdir Raupp

Órgãos relacionados:

  • Câmara dos Deputados
  • Senado Federal