‘Não vale a pena’ saída de Janot, dizTemer

Carla Araújo e Julia Lindner

23/06/2016

 

 

Em entrevista a rádio, presidente em exercício afirma que procurador-geral ‘cumpriu seu papel’ ao pedir a prisão da cúpula de seu partido

O presidente em exercício Michel Temer disse ontem não acreditar que a discussão sobre o impeachment do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve ser levada adiante. “Eu acho que realmente que não vale a pena”, afirmou. Segundo ele, Janot “cumpriu o seu papel” ao pedir a prisão de caciques do PMDB, seu partido, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavaski fez o seu ao negar o pedido.

Em entrevista à Rádio Jovem Pan, Temer disse que “é muito complicado qualquer palpite”, ao ser indagado sobre quem estaria com a razão. “Sob o ângulo pessoal, acho que o procurador fez o papel dele, não sei quais são as razões que ele estará possivelmente motivado com os depoimentos. E o ministro Teori também fez o seu papel, do meu ponto de vista, também adequadamente. Ele entendeu que não era o caso de neste momento decretar a prisão”, disse.

Ao ser questionado sobre as afirmações de Janot de que ele pudesse estar interferindo na Operação Lava Jato por meio de uma “conspiração”, Temer disse que o procurador-geral da República se baseou na delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e que as declarações não eram necessariamente uma convicção. “Janot faz esse raciocínio tendo em vista as afirmações do Sérgio Machado”, afirmou.

“Ao contrário de desprestigiar a Lava Jato eu tenho apoiado”, afirmou o presidente em exercício. “Eu tenho muita convicção da importância de cada função do Estado. A minha pergunta é a seguinte: o Poder Executivo poderia interferir no Poder Judiciário? Zero chance.”

Segundo o presidente em exercício, essa interferência não é possível pelo respeito às instituições. “Jamais permitiria que eu ou alguém do governo pudesse interferir nessa matéria”, afirmou. Segundo Temer, as investigações da Lava Jato prosseguem normalmente.

Aditamento. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem que houve um aditamento no pedido de impeachment de Janot. Renan enviou a denúncia para a Advocacia do Senado, porém não estabeleceu um prazo para a elaboração do parecer. Ele negou que a demora na tramitação do processo seja uma tentativa de intimidar Janot. “Eu não sou de fazer chantagem, apenas dei uma informação, e mandei para a advocacia em função do aditamento”, afirmou.

Segundo Renan, “estão chegando outros pedidos” de impedimento contra Janot, o que considerou ser “inusitado”. “Do ponto de vista do Senado, que não faz parte da crise, e sim da solução, nós vamos ter total responsabilidade com isso”.

Pedidos de impeachment do procurador-geral da República no Senado já foram arquivados. A iniciativa de Renan de anunciar que poderia aceitar um desses requerimentos surgiu poucos dias depois de Janot pedir a prisão do presidente do Senado e de outros líderes do PMDB.

Papel

“O procurador fez o papel dele (ao pedir as prisões de peemedebistas) e o ministro Teori também fez o seu (ao negar os pedidos)”

Michel Temer

PRESIDENTE EM EXERCÍCIO