Para Dallagnol, punição a desvios é ‘piada de mau gosto

Daiene Cardoso

23/06/2016

 

 

Em sua primeira visita ao Congresso, o procurador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, afirmou ontem que a punição da corrupção no Brasil é “uma piada de mau gosto”. “A corrupção mata. A corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa. Ela é uma serial killer que se disfarça de buracos de estradas, de falta de medicamentos, de crimes de rua e de pobreza”, discursou.

Dallagnol criticou as discussões em torno de mudanças na lei de delação premiada e sobre acordo de leniência. Para ele, a legislação permitiu que a Lava Jato recuperasse R$ 3 bilhões aos cofres públicos. “O receio que temos neste momento de estresse, de tensão política e decorrente das investigações, é que seja aproveitada uma proposta para realizar um retrocesso ou abafar as investigações”, declarou. O procurador também atacou a ideia de restringir a delação de presos. “Não faz sentido algum limitar a colaboração de pessoas presas, a não ser dentro de um contexto que busque frear as investigações”, concluiu.

Diante de poucos deputados, ele defendeu a aprovação, até o fim do ano, do projeto de lei que reúne dez medidas de combate à corrupção em trâmite na Câmara. Entre apertos de mãos de deputados, pedidos para tirar foto com servidores e rasgados elogios aos trabalhos da força-tarefa, Dallagnol ouviu quatro horas de discursos que prometiam acelerar a tramitação do projeto.

Apelo. Ao final da sessão, o procurador foi surpreendido com o apelo do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) para rebater o delator Sérgio Machado, que citou o parlamentar como um dos beneficiários de financiamento de campanha com propina desviada da Petrobrás. O parlamentar disse que sempre procurou na vida “ficar imune a escândalos e aos escandalosos”. “O raio de ação da calúnia é dez vezes maior do que o do desmentido, de forma que o apelo que eu quero fazer ao Ministério Público é: me coloco à disposição para o que for preciso, acareação, quebra de sigilo telefônico, porque eu acho importante”, sugeriu.

Aos jornalistas, Dallagnol lembrou que a delação do ex-presidente da Transpetro está no Supremo Tribunal Federal.