Governo que incentivar compra de feijão de fora 

Eduardo Rodrigues, Idiana Tomazelli, Carla Araújo e Márcia de Chiara

23/06/2016

 

 

Para conter o aumento de preços, tarifa de importação pode ser retirada; segundo especialista, medida pode ajudar, mas não resolve

O presidente em exercício, Michel Temer, usou ontem as redes sociais para anunciar que pretende incentivar a importação de feijão, o grande vilão da inflação no mês de maio, para reduzir os preços ao consumidor final. A medida veio após apelos de internautas que transformaram em piada no Twitter a questão do preço do feijão. A resposta de Temer veio na mesma hashtag que virou trending topic (assunto do momento) esta semana.

Na prática, não existem barreiras para a compra do grão em países do Mercosul.

De acordo com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, o que governo quer na verdade é “quebrar o monopólio” de um pequeno grupo de importadores e permitir que redes de supermercados e atacadistas busquem o alimento fora do País. Normalmente, o comércio se abastece com produtores internos, nas três safras do ano. Como normalmente não há estoque de feijão, os problemas climáticos prejudicaram muito a safra mais recente. Nos últimos 12 meses, o preço do produto subiu 41%.

“Pessoalmente tenho me envolvido nas negociações com os cerealistas, com os grandes supermercados, para que eles possam fugir do tradicional que se faz no Brasil, e ir diretamente à fonte onde tem esse produto e trazer. E, à medida que o produto vai chegando no Brasil, nós temos certeza que o preço cederá, à medida em que o mercado for abastecido”, afirmou o ministro. O governo estuda retirar tarifas impostas a países fora do Mercosul, como foi feito no caso do milho, mas esta é uma medida que demanda tempo, o que pode acabar levando a uma medida inócua, se coincidir com a oferta da próxima safra.

Ajuda. A decisão do governo de incentivar a importação de feijão ajuda, mas não resolve a disparada dos preços do grão. “Essa era a única alternativa que restava ao governo para reduzir a velocidade de valorização do preço do feijão carioquinha”, afirma o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Eduardo Lüders. Ele explica que, hoje, o feijão vindo de países que não fazem parte do Mercosul é taxado em 10%. Com uma liberação do imposto, o produto importado poderia amenizar a alta de preço do grão nacional.

Ocorre, porém, que tanto Argentina, como México e China, só exportam feijão preto e, mesmo assim, os volumes disponíveis hoje seriam insuficientes para dar conta do déficit no abastecimento.

“Calculo que a China tenha cerca de 40 mil toneladas para exportar, a Argentina 180 mil toneladas e o México, entre 5 mil e 10 mil toneladas”, diz o especialista. Para ele, a crise de abastecimento é tão grave que, mesmo que o País importasse todo o feijão preto disponível nesses países, o problema não seria resolvido. “A questão só será resolvida em janeiro e fevereiro do ano que vem, quando entra no mercado a primeira safra das águas”, diz Lüders.

O déficit de abastecimento de feijão neste ano é superior a 500 mil toneladas. O consumo estimado pelo governo é de 3,350 milhões de toneladas e a produção nacional das três safras deve chegar a 2,750 milhões de toneladas.

Redes. Ontem pela manhã, antes do anúncio de Temer em sua conta no Twitter, a hashtag #TemerBaixaOPreçoDoFeijão já estava entre os assuntos mais comentados da rede social. O presidente em exercício pegou carona na mesma hashtag para anunciar a medida - ou a intenção de elaborar uma medida.

O elevado preço do feijão provocou piadas nas redes sociais. Usuários chegaram a brincar que, para poder comprar um dos itens mais requisitados no prato dos brasileiros, precisariam fazer um financiamento no programa “Meu Feijão Minha Vida”. 

MEMES NA INTERNET

Antes de os preços saltarem, os potes de sorvete no freezer armazenavam feijão.

Transporte de feijão

Produto ficou tão valorizado no mercado que transporte tem de ser feito em carros-fortes.

Consumidor volta à infância e cultiva o próprio pé de feijão para fugir do preço alto.