Título: US$ 50 bi na produção
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 26/10/2011, Economia, p. 11

Em meio à crise no exterior, estrangeiros redescobrem o Brasil para investimentos. As aplicações são recorde na série iniciada em 1947

Crise? Que crise? Se o parâmetro para avaliar a contaminação da instabilidade financeira internacional sobre o Brasil for o volume de investimentos estrangeiros diretos em solo nacional, é possível concluir que o país está navegando em mares calmos.

O volume de recursos que entrou no país por essa conta do balanço de pagamentos em setembro foi o mais elevado dos últimos sete anos — bateu em US$ 6,3 bilhões. No acumulado do ano, o investimento direto no setor produtivo já supera US$ 50,4 bilhões. É o melhor desempenho para o período de nove meses da série histórica iniciada em 1947.

Faltam, agora, menos de US$ 10 bilhões para que o Banco Central confirme suas projeções. Mesmo que, nos últimos três meses do ano, o volume de investimento estrangeiro direto arrefeça, nada indica que esse fluxo vá secar em 2012. "Muito pelo contrário. A tendência é de que o fluxo continue entrando no país, principalmente por conta do pré-sal e dos eventos esportivos programados (Copa do Mundo e Olimpíadas)", justificou o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel. Ele se negou a antecipar projeções para 2012, que só serão feitas pela instituição no relatório de inflação de dezembro. Mesmo assim, assegurou que, graças aos fundamentos sólidos de sua economia, o Brasil contará com um fluxo seguro de recursos.

Para este ano, o Banco Central considera que o saldo dos investimentos estrangeiros diretos, sozinho, será suficiente para cobrir todo o deficit em transações correntes — que corresponde a parcela importante das relações do país com o exterior, abrangendo conta de serviços, rendas e desempenho da balança comercial, além do dinheiro que os brasileiros no exterior remetem para o Brasil. O BC estima, para 2011, um deficit em transações correntes de US$ 54 bilhões. Até setembro, essa conta estava negativa em US$ 35,9 bilhões.

A contaminação da crise no balanço de pagamentos se dá pela corrente de comércio, que passou a crescer menos. As despesas com transporte, por exemplo, aumentaram 20% no acumulado do ano, mas apenas 14% em setembro, contra o mesmo mês de 2010. E, embora o saldo da balança comercial tenha sido excepcional em setembro — US$ 3,07 bilhões contra US$ 1,08 bilhão do mesmo mês de 2010 —, o mesmo desempenho não será observado em outubro.

Remessas Neste mês, segundo o BC, o saldo da balança comercial — exportações menos importações — será bem menor. Até a terceira semana, esse resultado está positivo em apenas US$ 572 milhões. O baixo desempenho vai responder, em grande medida, pelo aumento do deficit em transações correntes. Para outubro, a expectativa é de um deficit de US$ de 4,8 bilhões, ante os US$ 2,2 bilhões verificados em setembro.

O deficit em transações correntes em setembro foi baixo porque, além do resultado da balança comercial que surpreendeu o BC, o buraco da conta de serviços cresceu menos. Também caiu drasticamente a remessa de lucros e dividendos. Em agosto, com o câmbio favorável, as multinacionais sediadas no país remeteram para suas matrizes US$ 5,1 bilhões. Em setembro, a remessa de lucros e dividendos ficou em US$ 1,9 bilhão. Para o chefe do Depec, esta oscilação é normal.

Recorde latino Pelas contas da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), o investimento estrangeiro direto (IED) subiu 54% na América Latina e no Caribe no primeiro semestre de 2011, superando de maneira significativa as previsões para o ano, que projetavam um aumento de até 25%. No primeiro semestre, a região atraiu US$ 82,6 bilhões em aplicações, contra US$ 82,6 bilhões do mesmo período de 2010. Para a Cepal, neste ano os latinos poderão bater recorde em atração de investimentos.

Porto seguro (Em US$ bilhões)

Investidores reforçam suas apostas no Brasil diante das notícias negativas sobre as economias europeias

Investimentos no mês Junho/11 5,9 Agosto/11 5,6 Setembro/11 6,3

Investimentos no ano Acumulado até julho 38,4 Acumulado até agosto 44,1 Acumulado até setembro 50,4

Remessas de lucros e dividendos Julho/11 1,8 Agosto/11 5,1 Setembro/11 1,9

Viagens ao exterior

Julho Gasto dos brasileiros no exterior 2,2 Gasto dos estrangeiros no Brasil 0,5 Deficit 1,7

Agosto Gasto dos brasileiros no exterior 1,9 Gasto dos estrangeiros no Brasil 0,6 Deficit 1,3

Setembro Gasto dos brasileiros no exterior 1,7 Gasto dos estrangeiros no Brasil 0,5 Deficit 1,2

Fonte: Banco Central