Fausto Macedo, Julia Affonso, Mateus Coutinho, Ricardo Brandt, Alexa Salomão, Valmar Rupsel Filho, Fabio Serapião, Celso Calheiros
23/06/2016
Operação Turbulência. Polícia Federal prende empresários em investigação aberta após queda de jato que matou Eduardo Campos; ação apura fraude de R$ 600 milhões.
A Operação Turbulência, da Polícia Federal, prendeu ontem quatro empresários suspeitos de integrar um esquema de lavagem de dinheiro - em nome de dois deles estava o jato Cessna que caiu em agosto de 2014, durante a eleição presidencial, e matou Eduardo Campos (PSB). Segundo as investigações, a fraude teria movimentado R$ 600 milhões desde 2010, com empresas de fachada em Pernambuco e Goiás, e pode ter abastecido a campanha de Campos e sua vice, a ex-ministra Marina Silva (atualmente na Rede), que assumiu a disputa após a tragédia.
A PF analisou movimentações financeiras das empresas envolvidas na aquisição do jato e concluiu que elas eram de fachada e realizavam transações entre si e com empresas fantasmas. Foram identificadas ainda transações com companhias investigadas na Lava Jato, que repassou dados para a Turbulência.
Segundo o superintendente da PF em Pernambuco, Marcello Diniz Cordeiro, a Turbulência atingiu ontem operadores “profissionais” de desvio de recursos públicos para irrigar campanhas lideradas pelo PSB, em 2010 e 2014. “Trabalham onde podem levar vantagens, para quem quiser. São freelancers de recursos obscuros”, afirmou.
“O esquema foi usado para pagar propina na campanha do governador”, disse a delegada federal Andrea Pinho.“ As empresas realizavam movimentações milionárias. Elas integravam uma organização criminosa especializada em lavagem de dinheiro, que decaiu após a queda do avião. ”Entre o material compartilhado pela Lava Jato está um depoimento do doleiro Alberto Youssef no qual ele cita um pagamento de R$ 200 mil à Câmara & Vasconcelos, empresa de Paulo Morato. Na compra do avião, Morato emprestou R$ 159 mil a Lyra e R$ 720 mil foram obtidos com Leite.
Obras. O esquema funcionava também, conforme a PF, a partir de obras federais. Há suspeita de que parte dos recursos que transitaram nas contas servia para pagar propina e “caixa 2”. Foi citado o caso no qual a OAS teria repassado R$ 18,8 milhões à Câmara & Vasconcelos para obras de terraplenagem na transposição do São Francisco.
A PF mobilizou 200 agentes para cumprir 22 mandados de condução coercitiva, cinco de prisão preventiva e 33 de busca e apreensão. Dezesseis mandados foram cumpridos em Pernambuco e Goiás.
Lyra e Bezerra foram presos no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e levados para o Recife. Eles embarcariam para Miami, com US$ 10 mil em dinheiro.
Rosal e Vieira foram presos no Recife. A PF apreendeu ainda quatro carros de luxo e três aeronaves –dois helicópteros e um avião. Os bens têm valor estimado em R$ 9 milhões.
Lyra pertence a uma das mais tradicionais famílias de usineiros, originários de Alagoas. Entre seus irmãos está o ex-senador João Lyra, pai de Tereza Collor de Mello, cunhada do ex-presidente Fernando Collor. Ele já foi considerado o deputado mais rico do Brasil antes de seu grupo falir em 2012 deixando quase R$ 2 bilhões em dívidas.
Defesas. A defesa de Lyra disse que só se manifestará após ter acesso à investigação. A direção nacional do PSB afirmou que “apoia” as investigações e que “não restarão quaisquer dúvidas de que a Campos não cometeu nenhum ato ilícito”.
Em nota, Marina disse que a “logística de deslocamento” de Campos e de sua comitiva era de responsabilidade do PSB. Ela também afirmou que viajou oito vezes na aeronave, “sempre na companhia do ex-governador para cumprir agendas conjuntas”. A ex-ministra disse que sempre preferiu voos comerciais. Procurada, a OAS não se pronunciou.
‘TURBULÊNCIA’
● PF deflagrou ontem operação contra grupo especializado em lavagem de dinheiro; avião que caiu em 2014, no acidente que matou Eduardo Campos, foi ponto de partida da investigação
A operação
200 policiais federais cumpriram
60 Mandados judiciais
33 de busca e apreensão
22 de condução coercitiva
5 de prisão preventiva
● João Carlos Lyra de Melo Filho
Apontado como dono do Cessna usado por Campos
● Apolo Santana Vieira
Apontado como dono do Cessna usado por Campos
● Eduardo Bezerra Leite
Teria financiado parte da compra do jato
● Arthur Lapa Rosal
Teria financiado parte da compra do jato
● Paulo César de Barros Morato
Foragido
Locais
Goiás
Goiânia e Aparecida de Goiânia
Pernambuco
(Aeroporto de Guararapes, Recife, Paulista, Jaboatão dos Guararapes, Vitória de Santo Antão, Moreno e Lagoa de Itaenga)
Investigação
1 Segundo a PF, a apuração começou a partir da análise de movimentações financeiras suspeitas detectadas nas contas de empresas envolvidas na aquisição da aeronave Cessna Citation PR-AFA. Esse avião transportava Eduardo Campos e caiu em 2014 no litoral paulista
2 A PF constatou que essas empresas eram de fachada, constituídas em nome de “laranjas”, e realizavam transações entre si e com outras firmas fantasmas, inclusive com empresas investigadas na Operação Lava Jato
3 A suspeita, de acordo com a PF, é de que parte dos recursos que transitaram nas contas examinadas servia para pagamento de propina a políticos e formação de “caixa 2” de empreiteiras
● Conforme a PF, há suspeita de que o esquema alvo da operação tenha abastecido caixa 2 na reeleição do então governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), em 2010, e na campanha de 2014, quando Campos concorreria com Marina Silva na vice à Presidência da República.