Cunha diz que Wagner propôs apoio do PT

Igor Gadelha e Daiene Cardoso

22/06/2016

 

 

Segundo peemedebista, em troca de votos no Conselho de Ética, ele teria de frear impeachment

O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou ontem, em entrevista coletiva, que o presidente em exercício Michel Temer intermediou um dos três encontros que ele teve com o ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner. Nas reuniões, o petista teria oferecido votos do partido no Conselho de Ética em troca de o peemedebista arquivar o pedido de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Temer não comentou a declaração.

Segundo interlocutores do presidente em exercício, a ordem é “não entrar no jogo” que, segundo eles, Cunha tenta fazer.

De acordo com Cunha, o primeiro encontro entre ele e Wagner ocorreu em um jantar na residência oficial da presidência da Câmara. O segundo teria sido em 12 de outubro na base aérea de Brasília e o terceiro, no Palácio do Jaburu, então residência oficial de Temer. “O Michel havia me convidado para ir lá e me disse que o Jaques Wagner queria ter outra conversa comigo.

Chamou o Jaques Wagner e me deixou a sós com ele, inclusive saiu para um compromisso fora para não participar da conversa”, disse Cunha.

Nos três encontros, o peemedebista disse que Wagner ofereceu os três votos do PT no conselho, o “controle total” sobre o presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA), e a exclusão de sua mulher e filha nas discussões da representação. “Soava como chantagem”, disse. Cunha afirmou que não denunciou a oferta na época porque decidiu ignorá-la. Disse ainda que tem como provar o que fala por meio de testemunhas e que o ex-ministro de Dilma pode processá-lo se quiser. “Saberei comprovar em juízo.” Em nota, Wagner confirmou os encontros, mas disse que eles trataram da “relação do Executivo com o Legislativo” e a pauta de votações da Câmara.

“Nunca houve oferecimento de apoio do PT a Cunha, nem nunca haverá”, disse o ex-ministro.

Na entrevista, Cunha negou que tenha autorizado a abertura de impeachment por vingança. Disse que já tinha tomado sua decisão dez dias antes de anunciá-la e a guardou em um cofre da Câmara. O peemedebista relatou que preferiu segurar a abertura do processo para que o tema não contaminasse a votação da nova meta fiscal.

‘Marca’. O peemedebista disse que paga o preço por ter autorizado o impeachment, mas que não se considera nem “herói” nem “vilão”. “Livrar o Brasil de Dilma e do PT será uma marca que terei a honra de carregar.” Réu na Lava Jato e alvo de um processo de cassação na Câmara, ele voltou a negar que pretende renunciar ou fazer delação premiada, pois “não cometeu crime”. “Minha posição não mudou nem uma vírgula”, disse.

Como mostrou o Estado, aliados de Cunha o pressionam a renunciar à presidência da Câmara e até ao mandato, para tentar evitar a cassação.