Ex-deputado cita propina para Dornelles em CPI

 

18/06/2016

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

Julia Affonso

Mateus Coutinho

Valmar Hupsel

Roberta Barbieri

Marcelo Godoy

 

O ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE) afirmou no anexo 8 de sua delação premiada que o governador interino do Rio de Janeiro Francisco Dornelles (PP) recebeu R$ 9 milhões para abafar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás, aberta em 2009 pelo Senado. Corrêa disse que o dinheiro foi entregue pelo então presidente da empreiteira Queiroz Galvão, Ildefonso Colares Filho.

Em nota, o governador interino afirmou ao Estado que “não comenta declarações absurdas e ridículas feitas no âmbito de delação premiada”. O delator contou ainda que, na época, tentou confirmar com Dornelles o recebimento da propina, mas o senador negou “veementemente” ter recebido o dinheiro.

Corrêa só teria confirmado o pagamento quando estava preso no Complexo Médico de Pinhais, no Paraná, durante a Operação Lava Jato. Ali, Renato Duque, ex-diretor de serviços da Petrobrás, disse que o pagamento foi feito pela Queiroz Galvão por determinação de sua diretoria.

No tempo da CPI da Petrobrás, Dornelles era senador (PP-RJ). De acordo com o delator, o Partido Progressista “tinha um acerto coma Queiroz Galvão, no valor de R$ 37 milhões de propina para a construção da Refinaria Abreu Lima (Renest)”. Corrêa afirmou que o trato lhe foi confirmado pelo ex-diretor da Queiroz Galvão, Othon Zanóide Moraes Filho durante uma conversa que contou com a presença do doleiro Alberto Youssef - também delator na Lava Jato -, ocorrida no escritório da empresa, no Rio.

Corrêa fez as afirmações durante as tratativas para fechar um acordo de delação premiada na Operação Lava Jato - a proposta está nas mãos do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), aguardando homologação. O ex-deputado foi condenado a 20 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal de Curitiba. Também foi condenado pelo STF a 7 anos e 2 meses de prisão no mensalão.

 

Tucanos e petista. De acordo com o delator, Othon e Ildefonso teriam relatado a Corrêa que haviam entregue R$ 10 milhões ao senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Esse dinheiro também teria saído da cota de R$ 37 milhões destinados ao PP por determinação do então diretor de abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa - também delator na Lava Jato. Segundo Corrêa, Othon disse que o dinheiro havia sido entregue aos políticos pelo “operador Fernando Soares, o Fernando Baiano”, outro delator da Lava Jato.

Em sua delação, Corrêa disse que, após confirmar o pagamento com os empreiteiros, procurou o senador tucano - morto em 2014 - e este lhe teria confirmado o pagamento da propina. Guerra teria ainda dito que parte desse dinheiro foi repassada aos senadores Álvaro Dias (então no PSDB e hoje no PV-PR) e Aloizio Mercadante (PT-SP).

Corrêa disse à Lava Jato que “não costumava procurar diretamente empresários para receber propinas, já que em janeiro de 2003 foi realizada uma reunião da bancada do PP, presidida pelo então deputado Delfim Netto, na qual ficou acertado que apenas o deputado José Janene (morto em 2010) tinha a autorização da bancada para ser o único interlocutor entre os empresários que pagavam propina”. Corrêa disse que qualquer deputado que fosse procurar diretamente um empresário estaria fora do “acerto da bancada”.

“Contudo, como a Queiroz Galvão era uma empresa cujos donos eram pernambucanos, os quais mantinham uma relação pessoal com o colaborador, ele era a única pessoa na empresa com relação à qual José Janene pedia ajuda ao colaborador para tratar do recebimento de propina”, explicou Corrêa.

 

Defesas. Álvaro Dias disse que “essa calúnia é vingança contra quem foi uma dos primeiros a denunciar a adotar providências contra a corrupção na Petrobrás.” O ex-senador e ministro Mercadante afirmou que nunca teve relação com Corrêa. Sobre CPI da Petrobrás em 2009, disse que “sempre se posicionou contra a instalação da mesma e não assinou o pedido de abertura da CPI”. “Mercadante não foi membro da comissão. A suposta ilação é o mais completo absurdo.”

Delfim disse que“ nunca participou de reunião do PP nem com nenhum parlamentar do partido”. A Queiroz Galvão informou desconhecer “o teor do depoimento e não comenta investigações em andamento”.

O Estado procurou o PSDB, mas o partido não se manifestou. As defesas de Ildefonso e Othon não foram localizadas. / RICARDO BRANDT, FAUSTO MACEDO, JULIA AFFONSO, MATEUS COUTINHO, VALMAR HUPSEL FILHO, ROBERTA BARBIERI e MARCELO GODOY

 

‘Torpe’

“Os fatos que posso relatar por si só desmentem a torpe insinuação de alguém que confessa ter roubado o País nos últimos 40 anos.Participei de todas as CPIs importantes desde a do mensalão”

Álvaro Dias

SENADOR (PV-PR) 

 

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Siglas ‘manobravam’ comissões para ajudar Petrobrás, diz Corrêa

 

18/06/2016

Mateus Coutinho
Fausto Macedo
Julia Affonso
Valmar Hupsel
Ricardo Brandt

 

Em um de seus depoimentos da delação premiada, o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) revelou que, pelo menos desde o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), os partidos da base aliada e até da oposição dos governos “manobravam” para impedir que as CPIs e a Comissão de Minas e Energia na Câmara investigassem a fundo as suspeitas de corrupção ou crimes ambientais contra a empresa.

Desde 1989, pelo menos, todas as CPIs instauradas no Congresso para investigar a estatal não tiveram nenhum resultado prático para barrar irregularidades na estatal. O motivo para isso, segundo Corrêa, é só um: as empresas que mantinham contratos na Petrobrás financiavam campanhas políticas tanto da base quanto da oposição aos governos. Ele citou ainda pagamentos de propinas das empreiteiras para que parlamentares evitassem avançar em investigações sobre a estatal em 2002 e 2009.

Ele afirmou que “os partidos ‘manobravam’ para a escolha do presidente e relator (da CPI), indicando parlamentares comprometidos com a Petrobrás para que as investigações resultassem sempre em relatório final favorável à empresa”.

Segundo Corrêa, quando havia incidentes ambientais na Petrobrás, deputados “montavam um esquema de proteção para dar sustentação ao depoimento do dirigente da estatal”. Em 2002, contou Corrêa, o então presidente da Petrobrás, Felipe Reichstul, foi convocado para depor na Comissão de Minas e Energia. Isso teria deixado o governador de Pernambuco e hoje senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) preocupado, pois a Petrobrás teria adiantado pagamentos para o Estado quitar a folha de pagamento.

O então senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) teria montado um esquema para protegê-lo. “Na época, Guerra conseguiu um valor de propina junto aos fornecedores e empresas que atuavam junto à Petrobrás, para os deputados da comissão”, disse o delator. Corrêa afirmou que o “Planalto tomava conhecimento, por meio dos ministros da Casa Civil, Justiça e Relações Institucionais, dos acertos que eram realizados”, pois os governos tinham interesse em abafar as CPIs.

O Estado procurou o ex-presidente Fernando Henrique, mas a assessoria informou que não o localizou. O Estado não localizou Reichstul. O PSDB não se manifestou. Jarbas Vasconcelos afirmou que não sabe “por que teria querido proteger o presidente da Petrobrás”.   /M.C., F.M., J.A., V.H.F. e R.B.

 

O Estado de São Paulo, n. 44804, 18/06/2016. Política, p. A4