Filho de Sérgio Machado tem delação homologada no STF

Jailton de Carvalho

01/06/2016

 

 

Expedito teria movimentado contas que receberam propinas no exterior

 

O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a delação premiada de Expedito Machado Neto, um dos filhos do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. As revelações sobre a movimentação financeira de Expedito podem complicar ainda mais a situação do presidente do Senado, Renan Calheiros(PMDB-AL), do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), entre outros políticos do PMDB com quem o expresidente da Transpetro mantinha estreitas relações.

Pelas investigações da LavaJato, reveladas pelo site do jornal “O Estado de S.Paulo”, Expedito teria ajudado o pai a movimentar dinheiro desviado de contratos entre grandes empresas e a Transpetro. Em delação premiada, também homologada por Teori, Sérgio Machado confessou ter arrecadado dinheiro para políticos do PMDB. Ex-senador pelo PSDB, mas apadrinhado por Renan e outros líderes do PMDB, Sérgio Machado presidiu a Transpetro entre 2003 e 2015. Vinculada à Petrobras, a Transpetro é a maior transportadora de combustível do país.

A delação de Sérgio Machado já derrubou dois ministros, Romero Jucá (Planejamento) e Fabiano Silveira (Transparência e Controle) em 19 dias do governo Temer. O ex-senador teria decidido fazer acordo de delação e contar tudo o que sabe sobre casos de corrupção depois que o executivo de uma empreiteira revelou à investigadores da Lava-Jato a existência de uma conta usada por ele para receber dinheiro de origem ilegal. A suspeita é que a conta no exterior seria movimentada por Expedito.

Diante das acusações, consideradas por ele impossíveis de serem contestadas, Sérgio Machado decidiu firmar acordo de delação e orientou o filho a seguir o mesmo caminho. Com a iniciativa, ele entregaria todos os políticos com quem mantinha relações políticas e financeiras e, ao mesmo tempo, obteria os benefícios da delação para ele e Expedito. Segundo uma pessoa que conhece o caso de perto, a descoberta da conta secreta e do envolvimento do filho teria sido fator determinante na decisão de Machado de partir para a delação.

Expedito é um dos quatro filhos de Sérgio Machado. Os outros são Daniel, Sérgio e Tatiana. Segundo um antigo interlocutor da família, Expedito tem talento especial para finanças. Aos 31 anos de idade, vivendo entre São Paulo e Londres, teria acumulado fortuna. Ele teria se especializado na administração de fundos e aplicações no mercado de capitais. Ontem à noite, surgiram rumores de que Expedito teria movimentado valores superiores aos de Pedro Barusco, exgerente da Petrobras que confessou ter acumulado quase US$ 100 milhões em propina. A informação foi negada por pessoas ligadas a Expedito.

Depois de fazer acordo de delação premiada, Sérgio Machado gravou conversas com Renan, Sarney, Jucá e Fabiano Silveira, entre outros. Em alguns diálogos, interlocutores do ex-presidente da Transpetro falam sobre o impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, a ascensão do presidente Michel Temer e até combinam ações para restringir ou até mesmo barrar a Lava-Jato. O afastamento de Dilma seria uma das alternativas para refrear as investigações que começaram na Petrobras e agora avançam sobre parlamentares de vários partidos.

Os diálogos derrubaram Jucá e Fabiano Silveira. Mas, segundo pessoas que conhecem o caso de perto, os depoimentos de Sérgio Machado e do filho seriam ainda mais contundentes. Eles teriam falado sobre a movimentação de dinheiro de origem ilegal repassado a políticos da cúpula do PMDB.

 

 

O globo, n. 30249, 01/06/2016. País, p. 4.